Quantas e quantas vezes usei essa palavrinha de duas letrinhas apenas.
A qual está ligada a uma condição. Que exprime dúvida ou simplesmente se. Alguma coisa que não se sabe o que fazer. Ou nada fazemos e ficamos apenas a pensar.
Tantas vezes não sabia se caminhava ou corria. Se a chuva caia ou apenas o céu acinzentava-se.
Se eu pudesse, e o tempo fosse camarada comigo. Na hora pediria as horas que elas não passassem tão velozes. Pediria licença aos ponteiros dos relógios para que eles retrocedessem aos velhos tempos. Andassem mais devagar. E aos ponteiros dos minutos imploraria que eles não girassem tanto. E fossem devagarzinho a passos tartaruguentos. E rodassem no sentido inverso aos versos que não sei fazer.
Se eu pudesse cobrar um centavo que fosse por todas as palavras que deixei escritas por certo estaria rico. Já fui mais argentário. Agora me dou por satisfeito se me procuram ou não na minha oficina de trabalho. Antes me rebelava ao pensar que depois de tantos anos me preparando para exercer uma medicina de ponta. Em aqui chegando vindo de terras da linda Espanha. E recebia aqui no meu consultório pacientes oriundos de todo o sul desse nosso lindo estado das Minas Gerais. E cobrava somas de dinheiro que nos dias de agora pareciam um monte bem vultoso. Já hoje me satisfaço em ficar aqui a espera de dias melhores. Já que nesse mês primeiro do ano os pacientes andam escassos e não se apresentam mais quanto nos velhos anos em que nessa cidade me apresentei.
Se eu pudesse compreender a razão de tantas coisas que porventura ainda não sei voltaria a sala aos bancos escolares. Estudaria com mais afinco. Na intenção de entender o porquê de tantos porqueres.
E se eu pudesse cobrar de mim a razão de não ter ido mais longe na minha caminhada vida afora é por que ainda não a terminei.
Se eu pudesse passar horas vazias. Dormir até mais tarde. Descansar de tantos percalços. Eu respondo a mim mesmo. Sinto falta das madrugadas. De acordar ao nascer do dia. Abrir a janela e ver o lado de fora. Se assopra o vento ou se chove como no dia de hoje.
Se eu pudesse fazer tantas coisas por certo faria. Mas não sei mais quanto tempo me resta. Quantas horas ou dias.
Sei sim que ainda estou por aqui. Me perdendo entre palavras. Divagando devagar. Sofismando sobre o que vai acontecer depois.
Se eu pudesse adivinhar o advir. Se eu fosse capaz de predizer o futuro. Não o faria.
Já que o presente pra mim é o que deveria contar. No entanto não conto passos. Simplesmente caminho. Se olho pra trás me vejo menino. De calças curtas como em Boa Esperança. Naquele terninho azul marinho de dedinho em riste apontando o quê?
Não sabia então. Hoje sei que nada sei.
Se eu pudesse adivinhar meu futuro me contentaria em ficar naqueles bons tempos de eu menino.
Ah! Se eu pudesse, e meu dinheiro sobrasse. Iria voltar ao passado. Pegar carona numa carruagem encantada. Que não se transformasse numa abóbora gigante. E, se eu pudesse ainda. Movido pela inspiração que me impele sentido a frente. Não iria mais adiante.
Pediria sim as horas que não passassem tão rápidas. Que eu pudesse ir mais devagarzinho andando lentamente em direção aonde quisesse.
Já que não mais sou dono de minha vontade. Sou um reles contador de causos. Um memorialista que ainda não perdeu a memória. Por quanto tempo mais. Não sei.
Se eu pudesse viver o resto de vida que ainda me resta aqui pertinho de onde moro. Retratando aquilo que minha inspiração dita. Não desejaria outra coisa. Pra mim me basta. Não desejo mais nada.