Convívio

Palavrinha de múltiplos dizeres. Ela tanto pode ensejar familiaridade, refeição, afeição, amizade, camaradagem, coleguismo, companheirismo, convivência, cordialidade, intimidade, e uma infinitude mais.

E ele pode se perder ao passar dos anos. Desde o que antes era amor. E terminou entre rusgas intermináveis. Cada um no seu canto. E aquela relação que dantes era só carinho passou a ser uma relação conflituosa. Mal se aceita a presença do outro. Desafetos que antes só tinham afeto. Mas agora tudo se transmudou em desavenças. Em conflitos constantes. Em querelas intermináveis. Aquela relação que começou anos antes. Onde tudo eram flores os espinhos passaram a ser meros interlocutores arranhando a pele sensível dos dois pombinhos que não arrulham mais.

Conviver em harmonia é como sentir uma brisa afagando-nos os cabelos. É como viver sempre em constante deleite. Um ajudando ao outro a resolver problemas que nem são os próprios. Tolerar defeitos em proveito do casal. Que se consorciaram em anos passados.  Quando tudo corria as mil maravilhas. Num paraíso imaginário que se desfez no tempo presente.

Conviver maritalmente requer aceitação. O que era amor se transformou em amizade. Onde a palavra simplicidade é dita e praticada em atos que bem definem viver em sociedade. Um dando braço ao outro. Numa demonstração inequívoca que partilhar a dois é bem melhor que viver em solidão.

Conviver bem deve ser dogma de conduta. Para que as desavenças não sejam um empecilho a felicidade. Muito menos um obstáculo intransponível ao bem estar daquele casal envelhecido de mais idade.

Aceitar o peso dos anos sem se curvar a ele. Distribuir a carga que os anos inserem em nossos costados. E cada um participar não somente das alegrias assim como das tristezas que se interpuserem em nossa vida já bem longeva.

A arte de conviver não é nada fácil.

Requer além de força e uma dose reforçada de coragem.

Sei que os anos passam. A gente envelhece. Aquele convívio antes amistoso pode durar pouco.

Os anos não deveriam impedir que a nossa harmonia se transforme num ringue de box. Bem sei que um dia a velhice chega. O sexo deixa de ser prioridade naquela relação entre idosos.  A cama agora serve apenas para tentar dormir. Um sono frugal como acontece aos de mais idade.

Mas a afeição não deveria nunca deixar de existir. Assim como o companheirismo é essencial para continuarmos vivos e saudáveis.

Conviver maritalmente por vezes se torna tarefa hercúlea. Mas quem diz ser ela missão impossível?

Aceitar e compartilhar. Tolerar e tentar amenizar diferenças tidas irreconciliáveis. Ser cordial e procurar não discordar tanto da opinião do segundo. Contar até mais de dez quando a paciência termina.

E quando o amor falece procurar transformá-lo em afeição. Seja camarada com a sua companheira de tantos anos. Não procure moldá-la a sua imagem e imperfeição.

Procure nela as virtudes. Ela, ou ele, deve tê-los escondidos nalgum lugar.

A convivência ideal deve ser entremeada de tudo isso.

Aceitação, camaradagem, amizade, cordialidade. Se não encontrar alguma dessas qualidades não desista nunca.

Revire seu baú de guardados. Procure lá, bem no fundo de sualma. Quem sabe a tal convivência harmoniosa pode encontrar.

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