A vida é feita de perdas e ganhos.
Perdemos a juventude. No entanto ganhamos anos.
Vivemos à espreita dos últimos dias. Entretanto não sabemos, felizmente, o que o futuro nos reserva.
Nada a perder. Pensava eu.
Pensando melhor, com o passar dos anos, acabamos por perder os dentes siso. Mas o tal juízo terminamos por perdê-lo quando a velhice chega.
Assim que os anos se aboletam em nós, perdemos, pouco a pouco, os cabelos dantes tão fartos que recobriam nosso couro cabeludo. Mas, ao ver a idade passar, as perdas e danos acabam por nos ver perder quase tudo que gostaríamos de conservar.
Não podemos conservar o viço da mocidade. As rugas passarinham-nos pela face. As cãs enxovalham-nos as têmporas. Aquele belo sorriso se desfaz deixando em seu rastro a tristeza que nos acompanha uma vez de mais idade.
Penso eu, nos meus muitos anos vividos, que as perdas são maiores que os ganhos.
Perdemos dentes. No entanto lucramos em sorrir usando nossa dentadura ao ver nossos netinhos troçando da gente.
Perdas me confortam. Ao revés de perdermos tempo com coisas e loisas que não nos dizem respeito. Sorrimos sorridentes, enquanto dizem às nossas costas: “olha aquele velho! Parece que ele não tem muito tempo pela frente.”
Mas quem diz tamanha asnice se esquece que envelhecer é uma conquista a muitos negada. Muitos vivem pouco sem atingir a senilitude.
Ao chegar a certa idade, lá se vai a mocidade, as perdas não nos importam tanto.
Perdemos a melhor idade; dizem os jovens. Mas eles se esquecem que já passamos por tantas coisas. E só as melhores guardamos dentro de nós.
Ao caminharmos adiante deixamos pra trás o passado. Perdemos o tempo pretérito. Sobrevivemos fortes e altivos o tempo presente. Mas ignoramos o que vem pela frente. Certos que nossa hora há de chegar. Mas me apraz saber que tudo que perdi um dia será aproveitado por algum descendente que se lembrará da gente. Se ele vai sentir saudade só o tempo dirá.
Com o tempo perdemos parte de nós. Mas eu por certo irei conservar dentro de mim as melhores horas que passei junto a ti.
Perdi muito tempo. Mas acabei recuperando os melhores momentos. Eles estão indelevelmente guardados dentro de mim.
Se não chorei sorri. Se não amei semeei boas amizades. Se te perdi um dia te encontrarei. Quando? Não sei.
Hoje estou um ano mais velho.
Deixei meses, anos, pelo caminho.
Um dia perdi meus pais. E quase me perdi pelo caminho.
Mas ganhei outra família que agora me acompanha sempre.
Somei dois filhos na minha caminhada rumo a um lugar desconhecido. A eles adicionei três netinhos. Eles me continuam. Espero que me amparem quando não mais puder caminhar sozinho.
Já perdi tantas coisas…
Agora não tenho quase nada a perder. A não ser que um dia perca a minha capacidade de escrever, aí sim. Vou perder tudo que amava. A inspiração que me cavouca assanhada. Me arranha desembestada. Tudo, quase tudo que ainda amo e gosto de fazer.
A vida é feita de perdas e ganhos. Já tive muitas perdas. Já os ganhos não contabilizo tanto.
Espero continuar subindo ao pódio, conquistando vitórias, superando derrotas, todos os anos que ainda tenho pela frente.
