Dizem que querer é poder.
Mas ambições desmedidas nada acrescentam ao nosso viver.
Antes queria o mundo.
Mas, ao descobrir sua grandeza passei a querer apenas e tão somente um pedacinho de terra. Uma rocinha meio abandonada. Onde pensava criar galinhas soltinhas. Ver canarinhos da terra ciscando o esterco de curral seco. Tirar um leitinho branquinho da cor das asas dos anjinhos.
Pois, na minha ingenuidade de criança pensava que as pessoas boas iam fazer companhia aos anjos. Lá no alto. Num céu azul que hoje se mostra. Sob olhares enternecidos de nosso paizinho do céu. Pai de todos nós. Sejam pessoas boas ou de má índole. Pois no céu dos anjos e querubins todos se equivalem e recebem o perdão se bem que não merecido aos bandidos irrecuperáveis.
Dantes, eu menino, queria por que desejava receber de presente, no meu aniversário, que quase coincidia com as festas natalinas, uma patinete motorizada, igualzinha a que vi patinetar na minha rua. Ainda calçada de pedras duras. Não o asfalto buraquento que hoje recobre os paralelepípedos.
E ainda não queria saber nada com os estudos. Embora as recomendações de meus pais que diziam: “Paulinho. Estude mais. Não perca tempo, pois a vida pode não lhe dar uma segunda chance. E o caminho para o sucesso requer muita dedicação e esforço além de horas e horas de um estudar constante”.
Mas eu, menino ainda, não sabia o que desejava ser mais adiante.
Pra mim só importavam os folguedos na mesma rua que daqui se deixa ver nessa manhã ensolarada. Brincar de pique esconde. Jogar finca e bete. Não o tênis que só mais tarde o descobri.
Tempos se foram. E eu crescia sem imaginar o porvir.
Em mais idade queria por que queria mudar de colégio. Foi feita a minha vontade.
O curso secundário terminou.
Ainda me lembro dos desejos da minha mocidade.
Almejava namorar, um namorido não sério. Com aquela garota de pernas morenas que me lançava olhares gulosos na hora do recreio. Mas não eram pra mim. E sim para outro rapaz que assentava por detrás da minha carteira na sala de aula. E eu, menino ainda, não sabendo o que queria, apenas desejava abraçar o mundo com meus braços curtos. E eles não davam conta de entrelaçar a vida. Pois essa mesma vida tem uma cintura mais espaçosa que minhas ambições permitiam.
Um dia cheguei à vida adulta e me casei. Desse consórcio nasceram dois filhotes lindos. A cara da mãe já que a minha é mais feiosa que um urubu careca.
Foi a partir de então que meu desejo de ter sucesso na minha profissão falou em altos decibéis. Quase gritei e esperneei de tanto trabalhar.
Filhos criados trabalho não redobrado. Eles quase não me deram trabalho.
Emanciparam-se logo que se casaram.
A seguir queria por que queria ter netos. Fui presenteado com três.
O desejo de abraçar o mundo fez as minhas pernas mais fortes ainda. Não tenho por que desejar comprar um carro novo. Faço das pernas a mola propulsora pra onde vou.
Ainda tenho alguns parcos desejos.
Um deles, o mais importante, é que a saúde não me deixe tão prematuramente. E me acompanhe na minha caminhada em direção a algum lugar. Que sejam satisfeitos meus desejos. São poucos. Que viva até quando tiver de viver. Que seja feliz enquanto ao lado de minha família a que prezo tanto.
Querer mais o quê? Pergunto-me?
Se o bom Deus já me deu tudo que desejava; pra que mais?
Seria melhor que Ele ofertasse aos mais necessitados um cadim do que já conquistei.
Já que pra mim é o bastante.
Só peço a ele mais um presente. Que eu continue presente ao lado de vocês. Retratando o cotidiano que tanto me atrai.