Melhor seria dizer: “Deus ajuda a quem cedo madruga”.
De fato.
Como é bom acordar bem cedo. Ao cantar das galinhas e ao desempoleirar do galo. Seu companheiro, amado, amante. Que canta e não cacareja como as fêmeas. Que se deixam montar e abaixam a cabeça. Talvez receosas da bicada que levam em suas cristas. E têm de abaixar as cristas e se curvarem ao macho. Como deveria ser na espécie humana. Mas não é mais. Já que as mulheres não se sujeitam ao nosso mando. E não se curvam à nossa primeira investida. E é preciso muita lábia para a elas conquistar.
E como tem sabor de jabuticaba colhida no pé depois de uma chuvica mansa. Disputando-as uma a uma com os marimbondos e abelhas abelhudas. Acordar ao nascer da aurora. Ai que saudade daqueles anos quando ainda morava num condomínio mais ao norte da cidade. Acordava antes das cinco da manhã. E ia correndo ao longe. Varava léguas. Deixava quilômetros atrás. Fazia concorrência aos carros. E quantas e quantas vezes ia devagar. Num trote cadenciado até a distante represa de Camargos. Percorrendo quase cinquenta quilômetros. E lá chegando por volta do descansar da tarde. Antes tarde do que nunca diziam quem me esperava nas bandas de lá.
Deus em verdade ajuda quem cedo desperta.
Sempre foi assim comigo.
As ruas ainda estão vazias. O comércio de portas fechadas salvo alguns madrugões como eu.
O trânsito quase parado não impede a circulação.
Sempre despertou em mim a vocação de padeiro ou retireiro. Acordar cedo sempre foi minha predestinação.
Nas madrugadas quando saio de casa é quando me assalta, sem armas empunhadas, a tal da inspiração.
Inspiro-me e suspiro pelo cotidiano. Os fatos que retrato em minhas crônicas nascem alguns de pura invencionice minha. Já outros nascem do nada. Sou um observador confesso daquilo e daquiloutro que meus olhos vêem. E se não vêem não enxergo e acabo inventando. A ficção me domina. Crio personagens cujas pessoinhas pra mim não existem. E elas nascem como beijaflorzinhos eclodem dos seus ovinhos num ninho qualquer.
Deus há de me ajudar sempre na minha caminhada madrugueira. Não deixo o sol nascer. Acordo antes de o seu brilho me despertar.
Inspiro-me no despertar das madrugadas. Saio de casa sem vontade de voltar.
Quando chove imagino gotículas d’água unidas as folhinhas verdes de uma plantinha qualquer. Quanto sofro por conceber tanta beleza num raio de sol que entra janela adentro na minha sala onde escrevo.
Sou um madrugão contumaz e consumido por tudo que a mãe natureza dita. Se acordo cedo não desejo nunca contrariar meu desejo de continuar assim.
Sofro por ser assim. Regozijo-me por não ser de outro jeito.
Se por ventura de uma desventura me verem andando no fechar dos olhos da noite me penitencio. Não sou eu. E sim uma sombra do que fui um dia.
Madrugar me faz tanto bem. Que pretendo continuar assim até o fim dos meus dias.
Assino em baixo- Nesse contrabaixo de minha vida – Paulo Expedito Rodarte de Abreu.