Quando a gente pode dizer a si mesmo: “passei da idade”.
Quando ultrapassamos quantos anos?
Considera-se idoso aquele circunspecto senhor, ou senhora, já que a senhorita já se foi faz tempo, segundo diz a lei, quem passou dos sessenta. Entre os direitos garantidos, segundo apregoa a mesma lei, estão a gratuidade dos medicamentos. O transporte público (via de regra de má qualidade). Pagar meia entrada em eventos de lazer e culturais. E outros mais que por vezes são solenemente ignorados.
Mas eu tenho por mim que ser considerado velho não guarda relação direta com a idade.
Muitos se sentem velhos antes dos sessenta. São aquelas pessoas casmurras que se trancam dentro de casa e não aceitam a convivência salutar com os mais jovens. São pessoas que não se exercitam como deveriam. E fazem da cama um lugar não apenas de repouso como para esperar a morte. Esses são exemplos que não devem ser seguidos. Que se dizem velhos como um sapato gasto furado na sola sem possibilidade de ser recuperado.
A velhice não é um direito adquirido. E sim um estado que a gente chega mais cedo ou mais tardiamente. Eu por mim ainda não cheguei a certa idade. Em absoluto não perdi a mocidade. Já que me sinto capaz de fazer ainda melhor o que fazia dantes.
A verdade digo agora.
Passei da idade de fazer desfeita aquele que não me tem em alta estima. Simplesmente ignoro aquele desafeto. Já que felizmente coleciono admiradores pelos meus textos que nascem a cada dia. Pela minha pessoinha humilde que sempre distribui bons dias mesmo a desconhecidos.
Já passei da idade de me contrariar a cada momento. E não lamento se a chuva cai ou deixa de cair. Embora torça para que chova quando no campo eles mais precisam.
Já passei, e muito, de perder tempo em discussões infrutíferas. Prefiro me ater a ler ou escrever a participar de rusgas sobre futebol, religião ou política.
Já passei da hora de sofrer antecipadamente por noticias trágicas veiculadas pela mídia. Simplesmente passo adiante e mudo de canal. Bendito controle remoto que me permite selecionar aquele que me convém.
Confesso ter passado a hora de ficar assentado a um banco da praça vendo o tempo passar. Pra mim é bem melhor caminhar que conferir minhas nádegas ao assento daquele banco duro e desconfortável.
Já e muito passei da hora de me imiscuir em briga de marido e mulher. Eles que se entendam. Eu cuido dos meus problemas que já são muitos e cada um tem o seu.
Já passei do tempo de perder tempo pra mim precioso mais ainda que ficar pensando no que vai acontecer no amanhã incerto. Pra mim o que vale a pena é tentar acertar mais que errar.
Passei do tempo de me preocupar com coisas e loisas que não me dizem respeito.
Já que sempre respeitei, sobretudo os mais velhos, que merecem de mim a maior consideração.
Já passei do tempo de ficar pensando no atual momento por que passa o nosso amado país. Cada povo tem o desgoverno que merece. Daí a minha alienação a prosear sobre política e assuntos citados atrás.
Ontem completei mais um ano de vida. Cheguei aos setenta e quatro. Não sonego idade. Muito menos sofro de um defeito chamado vaidade.
Já passei da idade de sofrer por causas perdidas. Simplesmente vou vivendo. À procura da tal felicidade.
E confesso já tê-la encontrado em momentos fugazes. Quando escrevo. Aqui chego, bem cedo. Quando ponho meu computador a funcionar. E me perco entre essas teclas negras recheadas de números e letras branquinhas.
Já passei da idade de resmungar. De vez em quando choro. Sem que percebam. Sofro sim. Mas esse sofrimento guardo pra mim.
Já passei da idade de fazer outros chorarem. Prefiro fazê-los rir. Não de mim e sim na minha direção. Por terem de minha pessoa algo de bom a passar adiante.