Como o tempo passa.
Devagar para os pacientes. Rápido demais para quem tem pressa.
Pra que tanta pressa se a gente sempre chega ao final? Num dia ou outro qualquer.
A idade em breve nos cavalga as costas. O peso dos anos pra muitos se torna um fardo pesado demais.
Antes a minha expectativa era chegar aos vinte anos. Pois considerava os verdes anos da minha vida a melhor época de nos emanciparmos.
Mas, bem antes, aos cinco, pra essa cidade linda vim morar. Naquela rua que daqui se avista pelos fundos foi que aprendi a ter amigos.
Pra onde foram os meninos da Costa Pereira? Já fiz essa mesma pergunta em crônicas passadas. E como o passado me corteja. A ele sempre volto. Mesmo sem poder voltar.
Olhando pra trás. Enxergando velhas lembranças. Dos tempos quando fui criança. Ainda tinha cabelos. Agora eles, longas madeixas, apenas enfeitam minhas têmporas. Grisalhas. Mostrando lá no alto um amplo descalvado.
Um dia desses meu netinho Dom, olhando seu avozinho, olhou pra mim e disse sorridente: “olha! Você esta carequinha.”
Já sabia e ressabia dessa não mais novidade. Pois na minha idade os cabelos se vão não ao sabor do vento. Pois eles se perdem em consequência da genética.
Tomara eu perca os cabelos e não o discernimento.
Antes as expectativas dos brasileiros era atingir mais ou menos cinquenta.
A vida foi ganhando anos e desenganos. Em alguns anos mais chegava-se aos sessenta com muita facilidade. A expectativa de vida foi aumentando. Gradativamente ao passar dos anos.
Meu saudoso pai chegou ao setenta e poucos vendendo saúde. Bem me lembro dele na academia do mesmo clube que ainda frequento. No entanto dos entretantos uma insidiosa enfermidade nele aboletou-se a partir dos setenta e cinco. A partir de então ele desistiu de viver. Se aquela doença pode ser chamada vida eu também não desejo viver.
Antes a minha expectativa de vida era chegar mais longe que meu saudoso pai. E enfim consegui transpor mais essa barreira.
A vida é uma corrida de obstáculos. Que devem ser transpostos enquanto a saúde nos permitir.
Mas uma vez que as enfermidades se tornam obstáculos intransponíveis pra que continuarmos a lutar? Já que a vida é combate que aos fortes aos bravos só deve exaltar.
A expectativa de vida só tem aumentado.
Dantes mal se chegava aos cinquenta. Os sessenta eram objetivos inalcançáveis. Passar dos enta então algo impensável.
Agora que cheguei aos setenta e quatro em absoluto não sinto o peso dos anos.
Pretendo continuar por muitos anos mais. Desde que a saúde não me abandone. Que a clarividência não claudique. Que a sanidade ainda persista. Que os sonhos continuem.
Hoje completo setenta e quatro. Ontem ainda era menino. O que vai ser de mim no ano que vem?
Lucubrando sobre expectativa de vida qual seria a nossa em alguns anos?
Deve ser mais de cem. Desde que tenhamos a idade que nos convém.
Se eu disser que meus setenta e quatro nada pesam nos meus costados não minto.
Se duvidarem consinto.
Pretendo, sem muita pretensão, dobrar minha expectativa de vida. Ir além daquela serra que daqui se avista. Já que a ultrapassei faz tempo.
Sonho em superar e suplantar expectativas. Ir além dos vinte e um livros que já editei.