2023 quase fecha os olhos.
Para abri-los novamente no ano que em janeiro tem começo.
É sempre assim. Entra ano e sai ano um ano novo se inicia.
Assistir ao óbito de um ano não quer dizer que vamos ao seu funeral. Anos morrem. Deixam dias, meses, horas, mugindo de saudades.
Nós sim. Terminamos os anos mais velhos. Mas os anos não envelhecem. Apenas dão lugar a outrem. Mais novinhos como meus netinhos que mal começaram a viver.
Tenho assistido a morte de vários anos. Mas a minha penso estar distante de acontecer. Tomara.
Que eu viva além de muitos anos mais. Desde que a saúde não me abandone. E ainda tenha lucidez o bastante para entender que não se deve viver em estado vegetativo como um vegetal apodrecido. Morto, a espera de se transformar em um móvel feito com todo capricho de um carpinteiro como dizem ter sido Jesus.
Meu desfecho gostaria que fosse algum dia. Dia fresco como esse que me fez acordar tão cedo. Nessa hora quase madrugada. Desse dia findo novembro. Quase dando começo ao mês de dezembro. Mês de tantas festas natalinas incluso. Entre elas celebro, no dia sete, mais um cumpleanos. Já que estarei um ano mais velho. Embora não sinta o peso dos anos. Embora carregue nos meus costados rijos quatro anos mais de setenta.
Em alguns dias mais estaremos fechando os olhos desse ano que morre em alguns dias somente.
Serão trinta e um dias. O Natal vai passar. As festas de fim de ano terão seu desfecho.
Eu desejo que todos fechem com chave de ouro esse ano que termina melancolicamente.
Antevendo o comércio a espera de boas vendas. E o povo comprando moderadamente. Sem se endividar.
Que o desfecho desse ano. Que em poucos dias será considerado ano velho. Apesar de não sabermos a sua idade. Sabemos tão pouco da vida vivida por anos a fio. Nos meus anos eu confio. Embora não saiba quantos mais viverei. A mim importa que sou feliz e ainda serei.
Meu desfecho. O dia em que fechar meus olhos. Que seja apenas para dormir. Um sono frugal. Curto e recheado de sonhos bons. Creio que vai ser numa data que ainda não escolhi.
E se pudesse eleger um dia para deixar de viver. Olhando para esse calendário que tenho defronte a mim. Por certo seria num trinta e um de fevereiro. Podem dizer que essa data não existe. Mas pra meus devaneios pueris é a ideal para o meu desfecho.
O dia em que fechar os olhos que não seja para sempre. Que eles se fechem e a seguir se abram novamente. Que não me privem do poder de enxergar esse teclado negro do meu computador. Escrever é uma das razões maiores do meu viver.
Desfecho. Palavra forte. Que traduz o final. O fim de tudo.
Bem sei que anos terminam. Têm o seu desfecho.
Que todos nós temos o nosso.
Mas, certos que anos recomeçam.
Por que não recomeçarmos novamente.
Ano novo; vida nova.
Assim deve ser nossa existência. Povoada de recomeços.
De dias novos. De horas renovadas.
Faço votos não de desfechos a vocês. E sim de sempre acordar dispostos a enfrentar as vicissitudes que se interpuserem entre nós. Com a valentia dos fortes. Dos bravos. Sem nos exaltarmos.