E não morrem de overdose.
Bem entendido. Eles não têm seus pés de barro. Que não se esfacelam a menor tempestade.
Eles sim. Não moram em palácios. E sim em casebres por eles mesmos construídos numa gleba de terra qualquer. Comprada ou herança de famílias todas elas moradoras de alguma rocinha perdida bem longe das cidades. Pra onde vão uma vez por semana. Se tanto. Para comprar mantimentos para passar o mês inteiro. Meus ídolos, se jogam futebol, não pensam em ganhar fortunas. Jogam simplesmente para passar o tempo. Pra eles escasso. Naquelas tardes, quase noites, depois da ordenha da tarde. Assim que apartam as vacas dos seus bezerrinhos, sempre famintos, que pulam de alegria ao verem suas mãezinhas voltarem ao curral. Bem cedo. Ao cantar do galo e o cacarejar das galinhas. Que põem seus ovos numa moita de bananeira. De onde eclodem pintinhos amarelinhos zelosamente guardados por sua mãe. Tentando evitar a gula dos predadores como gaviões e outros alados pássaros que do alto espreitam o alimento com seus olhos de lince.
Meus verdadeiros heróis não desfilam pelas cidades a bordo de carrões último tipo. Pois não têm tempo pra isso. Já que a faina na roça não lhes permite tais extravagâncias muito menos o que percebem na sua lida mal é suficiente para a sua subsistência. Já que o preço do leite não compensa. Dado ao alto custo dos insumos. E na entressafra o preço pago a um litro de leite nunca cobre a sua produção.
Meus ícones não usam tênis de boa marca. E sim botinas gomeiras furadas na sola. Nem ao menos estão acostumados a passar noitadas em baladas. Pois suas damas os esperam em casa. Com a janta pronta no rabo do fogão a lenha. E nunca engravidam moças pois têm consciência do que seja certo ou errado. Pois foram ensinados por seus pais a respeitarem as pessoas.
Meus ícones de verdade sabem de berço que o trabalho dignifica o homem. E que cada gota de suor derramado vale mais que uivos frenéticos de torcidas desequilibradas que matam sem razão de ser.
Meus ídolos de verdade dão graças ao bom Deus quando a chuva cai. E não a consideram desgraça como certos falsos ícones que a renegam quando atrapalham a realização de um show ou festival.
Meus verdadeiros heróis não são beatificados pela mídia sedenta de notícias falaciosas como alguns ícones de pés de barro. Que são considerados heróis sem nenhuma razão de ser.
Considero ícones aqueles que nos ensinam. Que salvam vidas sem mostrar a intenção.
Aqueles homens e mulheres que estudam ao mesmo tempo trabalham. E não têm tempo de mostrar carrões e jatinhos que custam uma infinidade maior que o salário que meus verdadeiros ícones percebem ao final do mês.
Eles são meus verdadeiros heróis. Não aqueles endeusados pela televisão. Jogadores de futebol milionários. Atores adorados pelos espectadores. Lindas mulheres que exibem seus traseiros esculpidos a bisturis afiados. Que desfilam pelas redes sociais como se fossem deusas da luxúria e perdição.
Meus heróis não são pilhados em festas pomposas sempre bem acompanhados. E, se morrem algum dia não seria nunca por over dose. Pois o máximo que pitam é um paiero apagado. Mesmo assim depois de sofrerem na pele um pito dos seus pais.
Meus ícones têm seus pés no barro. Que resistem à inclemência do tempo.
Mas não se desmancham quando a chuva cai. Pois eles têm mais valor embora ganhem muito menos que aqueles falsos ícones endeusados pela mídia. Cuja notoriedade não dura para sempre.
Um dia, espero, de coração aberto, que aprendam a dar valor a quem em verdade o tem.
E aprendam a identificar o joio do trigo.
Aos meus heróis, de verdade, o meu aplauso sincero.
Aos demais, aqueles ícones de pés de barro, o meu apupo sonoro.
Que sejam reconhecidos, antes que seja tarde, quem deve ser valorizado. E aqueles que não têm, em tempo. Joguem-nos no ostracismo.
Meus ícones de verdade não usam chuteiras prateadas. E, se caem nos gramados não muito alinhados de suas roças, são por motivos mais que justificados. Por excesso de trabalho em sua lida diária.