A garotinha que vivia a sonhar

Quando setembro vier aqui estou a te esperar.

Que venha de mansinho. Sem muita chuva. Trazendo em seus braços o verdume do campo.

Colorindo de verde a natureza. Que logo chegue a primavera. Enfeitando a vida com suas flores. Mas não impeça que as flores dos ipês desapareçam. Pois elas, lindas flores amarelas, roxas, brancas, são pra mim algo maravilhoso. Pena que logo se despetalam. E caem ao solo ainda vivas. Se pudesse, e minha fértil imaginação conseguisse essa façanha, quem sabe iria conseguir de novo voltá-las à árvore mãe. Grudando aquelas florzinhas ainda vivas. Para que elas novamente caíssem. Repetindo novo ciclo da florada dos ipês.

E setembro chegou. Com seu hálito fresco. Com sua chuvinha mansa. Com seu sol timidozinho a brilhar no céu azul que agora se deixa ver.

Foi num mês de setembro que aquela meninazinha sonhadora nasceu.

Não foi por aqui e sim nos pampas gaúchos distante de cá.

Aquela menina clarinha como nuvens sem indicio de chuva, desde tenra idade, acalentava um sonho.

Por ter uma irmãzinha hiperativa. Que não se aquietava. Sempre dava enorme trabalho aos pais. Essa menina sonhadora sempre. Estudiosa, decidiu, numa manhã de setembro, continuar os estudos numa cidade próxima.

E, de mochila às costas, partiu.

O rumo já estava decido.

Sonhava desde menina ser pesquisadora.  E a biologia seu sonho maior.

Ali concluiu o ensino médio. Mas não parou por aí.

Sempre tirava boas notas. Era uma das melhores da turma.

A gauchinha biscuit, como era conhecida, logo se destacou pelos seus conhecimentos.

E foi mais longe.

A biologia, na especialidade genética, sempre foi seu sonho. Uma ambição que a levaria mais longe.

E aqui, depois de se graduar na sua área, aportou.

Fez mestrado e concluiu o doutorado.

Mas seus sonhos vagabundeavam em voos mais altos.

Sempre se lembrando da irmãzinha hiperativa, daquela meninazinha que não parava quieta, começou a pesquisar uma droga que ajudasse a aquietar aquela ansiedade que incomodava a todos ao derredor.

Sonhando sempre, de olhos abertos, continuou seus estudos numa universidade distante.

A fria Holanda a recebeu gelada.

A neve tingia de branco o negrume do asfalto. Laguinhos congelados impediam os patinhos de nadar.

Foi um ano inteiro até concluir com louvor seu sonho maior que era o pós doutorado.

Mas, de volta a sua pátria amada, sempre pensando na sua irmãzinha inquieta, que causava enormes dissabores por onde passava.

Aqui continuou sua pesquisa sobre os  efeitos medicinais da canabis.

Sabia ela que o THC, como é conhecida a molécula mais psicoativa da cannabis, atua como relaxante muscular e anti-inflamatório. Com efeito anticonvulsivo, antidepressivo e antipertensivo. Além de atuar como analgésico.

Nesse começo de setembro aquela doutora enfim teve seu sonho quase realizado. O moderno laboratório na sua universidade acaba de ser inaugurado.

Só falta um pequeno detalhe. Que a Anvisa dê o aval às suas pesquisas e permita que a maconha seja usada largamente com fins medicinais.

Aquela menina sonhadora, vinda dos pampas gaúchos, enfim vai ter o reconhecimento que bem merece. E eu a aplaudo sempre.

 

 

 

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