Acabei de me inteirar do nome do doce sabor da juventude

Sei que, desde que a senilitude se apoderou de mim, nem de longe imagino quanto tempo foi, se há dez anos, metade deles, um tempinho maroto, que se foi nas asas velozes do tempo, a juventude, a mocidade, recebem tantos epítetos que os dedos todos das minhas mãos são poucos para enumerá-los.

Vou tentar, em incontáveis idiomas, expressar o que cada um deles traz em sua língua o que significa juventude: espanhol – juventud, francês- jeunesse, italiano – giovineza, catalão – xuventú, bretão – yaovanskis, provençal – jouvenço, romeno – junine, alemão – Jugend, inglês – youth, japonês – Jakunen, grego moderno – neóteta, latim – inventus, sânscrito – Tasuno, Russo – iúnoet’, sueco – ungdon, chinês – ckêng nin, e outros nomes mais.

Consultando os infinitos nomes em português, que dizem ser aparentados à juventude, seguem: abril, adolescência, mocidade, primavera, moidade, puberdade, alvorada, alva, alvor, antegozar, antemanhã, aurora, dilúculo, madrugada, juvenilidade, juventa, alvorecer, antegostar, entremanhã, precocidade, prematuridade e outros mais.

O fato, que concerne a mim, é que os verdes anos não voltam mais. Quem sabe numa máquina do tempo, utopia com que sonham os sonhadores, os tais inventores reais, e algum dia alguém criasse um projeto de um veículo não dotado de rodas e sim de asas, que nos levasse ao passado, daqui de onde escrevo posso vislumbrar parte do meu, ao ver aquela Rua Costa Pereira, artéria antiga, mais do que eu, a gente, os mais idosos, pudesse desenrodilhar o novelo de linhas finas, o qual partisse de onde estamos, voltasse não sei quantos anos atrás, e nos permitisse, numa viagem com ida e volta passar alguns instantes apenas, pena que serão tão poucos, ao lado da gente que a gente amou, em verdade, e, num instante fatídico Deus os levou pra junto dele, no céu azul, como o de hoje, ou por cima de nuvens cinzentas que prometem trazer mais chuva a fertilizar a terra, tão carente de água que vem do alto, principalmente onde ela não se faz presente, verdadeiro regalo que gente da roça agradece penhoradamente.

E por falar em andar sempre entre jovens como me sinto bem entre eles! Não que desdenhe dos mais iguais à idade que conto agora. Minha especialidade conta, entre meus pacientes, com uma faixa avançada, pois se trata do começo dos sintomas da dificuldade de urinar, que perde o ritmo, a força do jato que sai pingando por entre as pernas, quando ainda sai. E não empaca a exemplo do cavalo xucro, o que um dia boleou comigo, caímos os dois para trás, só não tive danos maiores por um singelo motivo: Deus estava do meu lado, o lado direito, segundo o conceito de quem viu a queda.

Hoje, cedo, antes das sete, ao descer a rua em direção ao consultório, antes das oito não sou médico urologista, e sim escritor, avistei, caminhando ao meu lado, não sei se do direito ao revés, uma linda garota no esplendor dos seus pouco mais de quinze anos.

Como de costume não aprecio que caminhantes me ultrapassem. Como tenho pernas boas atiço-as e sigo adiante, numa velocidade supersônica. A linda jovem que tinha pressa de ir à escola, logo ali, uns quinhentos metros mais, ora passava a minha frente, ou ficava atrás.

Nós nos invertíamos de quando em vez. Sem correr passava por ela, que deveria ter menos de um terço da minha idade. Sem mais nem menos ela me ultrapassava, bulia comigo.

Ainda me lembro de algumas perguntas desferidas a ela: “o que vai ser quando crescer, o que desejaria fazer quando a juventude a ela pedisse trégua. Qual o sonho por ela acalentado”?

A linda jovem, a meu ver estudiosa, bem comportada, tinha pressa de não perder a hora, antes de entrar por aquele portão azul, cujo bedel é meu amigo, ainda fui capaz de escutar-lhe o nome. Depois de a ela dar o meu.

“Meu nome é Larissa”. Ou seria Marisa? Sou péssimo em guardar nomes.

Carece de importância saber se era Larissa ou Marisa.

Deixei a linda moça dentro da escola. Talvez inda agora tenha começado a aula de Português.

Agorinha mesmo, oito e dezesseis minutos dessa manhã linda de fevereiro, precisamente dia oito, recordando-me da linda jovem a qual acompanhei durante a descida de minha casa ao consultório, acabei por me inteirar do doce sabor da juventude perdida há tantos e tantos janeiros. Seria Larissa?, ou até mesmo Marisa? Até agora não sei…

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