Desde aquele dia distante, de um ano longe, o jovenzinho menino nascido na roça, não conheceu a mãe, que se evadiu com o primeiro safado que apareceu logo após expelido o concepto, deixando a cria sem leite, pelo menos o colostro que tanto fazia falta, Juvenal, apelidado de Ju Balaio Cheio de Saudade, por um singelo motivo: não sabia viver o presente.
Sempre ia olhando, de soslaio, o lado de trás da vida, o tal passado que nunca olvidou, desde a infelicidade de ter crescido sem uma presença feminina ao lado, sem o carinho maternal, sem pode sugar as tetas que tanto lhe faziam sonhar com elas.
Juvenalzinho era um menino no qual a sensibilidade nele pedia montaria. Clarinho como um dia claro, de céu azul, de sorriso tímido, tendo a cabecinha coberta por penugens lourinhas, tudo fazia indicar que seria um belo exemplar de macho. Mas o futuro, do qual sempre desdenhou, provou que a macheza do Juvenal era só fachada. A brincadeira de que mais gostava era fazer de conta que a espiga de milho, já embonecada, se passasse por uma boneca de verdade. Ocorre um fato curioso, seu pai, roceiro, sonhava ter um herdeiro a quem deixar a propriedade pequena, um varão, um jovem mancebo que falasse grosso, usasse as calças rancheiras guardadas com todo carinho numa gaveta do criado mudo, não as sainhas rodadas, feitas de chita colorida, toda rendada pela avozinha que já morreu. Ao revés do que nasceu a criança com todos os trejeitos femininos. Dotada de uma sensibilidade ímpar.
Anos e meses se passaram. Rápidos como as chuvas de verão.
Ju Balaio Cheio de Saudade continuou seu périplo tentando se fazer tal e qual o pai. Um fazendeiro de verdade verdadeira. Não um reles aprendiz que o leite é branco embora saiba que a vaca é preta. E que vaca de três peitos não dá leite como a de quatro perfeitos. E que o bezerrinho macho, tinto em preto e branco, fraquinho, sem futuro como reprodutor, tem um destino ingrato: ou vira salsicha, ou é abandonado a sua sorte, prestes a ser devorado por um bico de urubu. O tal recebe o nome de gabiru.
Aos treze aninhos completos, naquele ano de 2007, Ju teve sua primeira experiência sexual. Não foi com a priminha da cidade. Nem ao menos com a caboclinha de vida fácil, apesar de não achar nada fácil a vida de prostituta. Ela rala a noite inteira, se deitando com quem não aprecia, tem de usar preservativo, não tem carteira assinada, muito menos beija na boca. E se o faz lava o local do ósculo leviano. Com medo de pegar sapinho.
Ju tentou namorar uma galinha caipira. Ela sujou-lhe tanto a região genital, pouco desenvolvida, que Juvenalzinho tomou verdadeira ojeriza pela cloaca de galinha. Depois, um mês depois, uma cabritinha do pai, pretinha como a alma de pessoas péssimas, assanhou-se toda com o Ju. Foi outra tentativa malograda de fazer sexo com uma fêmea. Não precisa repetir a cena acontecida com uma égua cupinzeira.
Mas, naquele ano seguinte, precisamente em janeiro, fim do mês, como chovera naquele de verão!, foi quando Ju Balaio Cheio de Saudade enfim se encontrou.
Numa noite escura, quente, úmida, quando o pai se fazia ausente, eis que o rapaz, que não se sentia em paz, era em verdade menina, por ali passou um rapagão simpático, músculos bem torneados, famoso na região por ser pegador de mulher, acabou simpatizando-se com o solitário e indefinido moleque.
Foi a primeira vez que Juzinho viu um pênis enorme de perto. Não vou entrar em detalhes minúsculos para não chocar o leitor. Só quero deixar nas entrelinhas o desfecho do ocaso ocorrido naquela noite quente, quando Ju teve a primeira experiência, e que experiência!, com um macho de verdade. A manhã a ele descortinou-se sorrindo, fazendo um caprichado café da para o seu primeiro e único amor, não correspondido.
Não precisa afirmar que aquela foi a primeira e derradeira vez que Ju Balaio Cheio de Saudade teve em seus bracinhos finos o tal corruptor de menores.
O fato ficou quase em segredo de todos. Não fosse publicado no Face, por um priminho que filmou tudinho, com seu i-phone sete.
Depois do incidente fatídico, mas que profundamente agradou ao Juvenalzinho, que gostaria de mudar o nome para Juzinha Cestinha Cheia de Saudade, o pai o expulsou de casa, e da roça onde moravam.
Para onde iria o pobre jovem, agora redescoberto feminina? Na roça não tinha futuro. Nem ao menos presente. O passado ficou pra trás, de uma moita de bananeira, ai que saudade Juzinha tinha, do rapagão que a fez mulher.
Só a ela, ou seria ainda ele?, restava se mudar para a cidade perto. Amochilou todos os pertences numa malinha cor de rosa. Lá dentro se viam calcinhas de mulher, o primeiro sutien, anáguas azuis e brancas, meias finas de cetim, vestidinhos engomadinhos, e mil bijuterias.
Aportou na rodoviária sem saber para onde ir. Voltar atrás, nem pensar. Ir adiante, pra onde? Viver o presente intensamente, era o papel escolhido, por aquela donzela em que se transformou.
Mais uma vez Ju Balaio Cheio de Saudade (a mudança de nome não foi aceita no cartório de registro de nascimento), se lançou, de corpo e alma, na profissão mais antiga do mundo. A carreira de mulher da vida foi longa como a saudade do seu passado, de futuro incerto, de presente não muito fácil.
As saudades, naquela instância da vida, difícil e concorrida, fez com que Ju Balaio Cheio de Saudade, fosse reconhecido por todos, por provocador desse sentimento que faz doer, cada vez mais que pensamos no passado. E não temos boas recordações desse tempo bom que passou, e não volta jamais…