As eleições municipais se avizinham.
Candidatos alardeiam seus feitos mesmo que não os tenham feito.
Falsos santinhos enxovalham as ruas com suas carinhas de anjos que não moram no céu.
Promessas vãs campeiam as soltas. Muitos se oferecem com falas mirabolantes em palanques de onde discursam na direção de platéias vazias. Muitos eleitores, que não são leitores assíduos de jornais, trocam seus votos por sacos de cimento. Que quando chegam as suas casas. E os candidatos não se elegeram. Já se tornaram duros. Já que os pão duros dos tais pretensos candidatos nada mais são que protagonistas de um teatro mais falsificado que uma nota de dez mil reais. Que é passada adiante sem a credulidade que deveriam ter todos aqueles postulantes a um cargo de suma importância nos destinos de qualquer pais que pretende emergir do lodaçal em que nos encontramos no cenário atual.
O atual alcaide tudo tem feito para se manter no leme de uma embarcação quase a deriva nesse mar revolto.
Inaugura bustos de opositores na praça central. Faz promessas de campanha que nunca serão cumpridas. Promete abaixar o preço da picanha embora seja ela carne de segunda. Aperta as mãos de gente que nunca conheceu. Toma cafezinhos frios e requentados na casinha humilde aonde nunca mais vai assentar o rabo. Oscula faces desenxabidas de pessoas as quais sempre ignorou. Recapeia ruas e avenidas mesmo onde o asfalto novinho recém pisou. Toma nos braços garotinhos de carinhas sujinhas, mas logo, as escondidas da mãe, faz cada careta de espantar lobisomem. E logo some na invernada de cara lavada. Pensando ser votado por aquela gente sofrida. Mas ledo engano, pois os tais fulanos e cicranos. Os quais já têm candidatos definidos e sabem que aquele bandido nunca mais voltar àquelas casinhas de periferia. Onde falta tudo, menos vergonha na cara.
Estamos prestes a votar. Repense e pense bem em quem vai depositar na urna. Que não seja num ataúde preto ou branco descolorido de verdade. Não falte ao pleito. Pois ele é um direito inalienável do cidadão.
Vote com consciência deslavada de emoção. Não vote por amizade nem no parente que nunca o visitou. Pra depois não se arrepender do resultado. Que vença aquele sujeito que não se sujeita a manobras eleitoreiras. Que não se corrompa por baldes de dinheiro. Que não se venda nem use venda nos olhos.
Naquela infeliz cidade. Onde tudo caminhava nos conformes. Onde a praça era do povo. Onde se reuniam os amigos. Para falar da vida alheia. Esquecendo-se das próprias desventuras amorosas. Onde as amantes disputavam o mesmo leito das verdadeiras.
O atual candidato a prefeitura discursava no palanque a beira de uma ribanceira. Quase despencando de seu púlpito igual poleiro. E palrava quase igual a uma maritaca palradeira.
“Prometo erradicar a fome onde ela mora. Vou asfaltar as ruas mesmo quando elas não precisam. Prometo, assim que ungido à prefeitura, repensar os erros da minha atual administração. Não vou gastar além das minhas posses. Não irei me vangloriar de feitos que não fiz. Bem sei que pouco sei. Mas sei quem eu sou. Um zero a direita embora não seja direito. Prometo, se eleito for, endireitar a rua direita. Não sou de esquerda nem do PT. Ao revés vou me revezando por onde o vento sopra. Se ele assopra pra riba é pra lá que vôo. Um vôo suave como dos urubus. Prometo, se for conduzido ao palácio onde morei por muitos e muitos anos. E não pretendo me mudar. Fazer tudo igualzinho ao que tenho feito nas minhas últimas gestões. Embora tenha cometido senões não irei errar tanto, Penitencio-me de fatos e atos falhos e fracassos na minha folha corrida. Se eleito for prometo pagar aquela caixa de cerveja que deixei dependurada na venda do Ernesto. Meu compadre há de me perdoar. Prometo ainda. Essa promessa juro e desconjuro que irei cumprir a risca de giz. Não vou roubar tanto como da derradeira vez. Vou afanar mais ainda a grana de vocês. Se não cumprir tudo aquilo que prometi tomara não me eleja. E fique aleijado. Manquitolando numa perna só”.
E num é que ele se elegeu?
Soube. Tempos depois, que aquela ex linda cidade acabou fechando as porteiras e nunca mais abriu.