Não sei. E nem desejo saber. Simplesmente ignoro. Quantos anos mais faltam para que minha vida termine.
Simplesmente vivo o presente que o presente me oferece.
Não me desvencilhando do passado do qual sempre me recordo. Ele me traz doces recordações da minha infância. Quando, aos meus cinco anos, para aquela rua me mudei.
Não nasci nessa cidade que considero minha. Meu berço foi noutra aqui bem perto.
Em Boa Esperança, naquele longincuo um mil novecentos e quarenta e nove. Hoje me cavalgam as costas setenta e quatro. Em dezembro mais um ano estarei. Poucas recordações daquela aprazível comunidade carrego dentro de mim.
Era ainda bem novinho. Meu saudoso pai, funcionário de um banco que leva o nome de nosso pais. Para aqui foi transferido. Minha querida mãe veio junto. E euzinho não podia dizer não.
Hoje, passados tantos anos. Espero continuar nessa agradável cidade por muitos anos ainda. Se não for transferido dantes para outra comarca lá no alto. Não sei se existem cidades no céu.
O finado julho quase respira seus estertores finais. O final de mais um mês se anuncia. Dentre em breve estaremos agostando. Quer gostemos ou não.
Bem sei que muitos de nós já respiram agosto. Mês ventoso quando os ipês florescem. Pena que a florada dos ipês dura tão pouco. Se pudesse alongar a vida dessas lindas flores confesso que o faria de bom agrado. Pena que a mim não é facultado esse poder.
Espero, no tempo que me resta, não me falte saúde a fim de viver meus derradeiros dias.
Que minha vida finde ao final de muitos anos ainda. E quando assim acontecer que suceda em saúde plena. Desejo morrer durante o sono. Um sono pesado, numa noite escura. Não nas madrugadas que prezo tanto,
Espero que não me falte. No resto de tempo que me sobra. Paciência e sabedoria para ensinar meus netinhos o caminho certo. Eles são a continuação do que sou e não sou mais. A extensão da minha infância. Espero que eles três se tornem melhores que seu avô foi.
Daqui em diante não espero mais tantas coisas boas. Aquelas com que fui agraciado me satisfazem. Pelo menos continuar como estou espero. Sempre madrugão a escrever cada vez mais. Já tenho editados vinte e um livros. Quem sabe unzinho ou outro mais serão incorporados a minha lavra? Talvez sim, ou não.
Espero que não me faltem palavras para agradecer tantas benesses recebidas. Tanta inspiração que me cavouca a alma. Tantos amigos que reuni nas minhas andanças vida afora. Tanto amor que tentei esparramar.
Espero não me faltar nunca fôlego para tantas andanças. Já fui um corredor e agora sigo caminhando sempre.
Espero que a esperança em dias melhores siga no meu caminho. E a encontre em algum lugar.
Espero, sem perder o fôlego, continuar estrada afora. Mesmo ouvindo desaforos eles não me fazem apoquentar.
Espero, nessa minha caminhada andando sempre, que nunca ofenda alguém intencionalmente. E se o fizer que eu possa retroceder e pedir perdão.
Espero que não me falte nunca a simplicidade no trato com as pessoas. Todos somos iguais mesmo sendo tão diferentes.
Espero nunca me faltar com a verdade. Mas empenharei para que ela seja posta na rotina de terceiros.
Espero sim. Já que até hoje tenho dito e deixado escrito. Caminhe homem. Ande, respire e inspire. Pois um dia outros irão pensar de ti o quanto foi bom o seu convívio.
Espero que nunca me falte esse combustível que me move a frente. Tenho pela escrita a gasolina que quase não gasto. A inspiração como mola propulsora. E a apreciação daqueles que comigo comungam o prazer de uma boa leitura.
Espero que nunca me falte a amizade de todos que me conheceram em vida. Já que noutra vida não saberei quem foi quem. Simplesmente vou continuar assim.
Esperando que nunca vá me faltar o prazer que a vida que tenho levado me traz. E reparto com vocês esse meu desejo.