A única alegria dele se chamava tristeza

Sentimentos díspares que habitam dentro da gente.

Ora um deles se mostra indiferente ao tempo que amanhece.

Já o outro, num dia radiante de sol, parece enxotar as nuvens que de repente despencam sob a forma de chuva nesses dias secos de julho.

A alegria talvez seja Irmã da tal felicidade. Ambas são vistas de mãos dadas nalgum lugar onde a tristeza não tem morada.

Mas, independente de onde estamos. Seja de férias numa praia paradisíaca. 0u numa montanha de onde se avista uma linda paisagem. Tristeza ou alegria podem encher nossa alma de alguma coisa que se define como melancolia ou angústia. Sentimentos próprios de poetas ou indivíduos cuja sensibilidade nos enche o peito de amargura.  Algo inexplicavelmente sem sentido. Já que não podemos dizer que estamos sempre alegres. Pois quem manda na gente não somos nós. Na verdade faltamos com ela. E podemos falar baixinho que ela não nos escuta. Quando a gente mais precisa da tal alegria e ela nos abandona.

Conheço um senhor. Já bem andado em anos. De nome Alegria. Pessoa que nunca o vi sorrindo. Embora tivesse motivos suficientes para andar sempre alegre. Ele caminhava solitário por uma estrada poeirenta. Em pleno inverno que se confundia com os verões de tão quente que se mostrava.

Seu Alegria a ele fazia companhia. Vivia só. Não tinha família.

Durante a vida inteira ele se recusava a sorrir.

Na cidade onde morava todos o consideravam um homem duro e de riso contido.

Era uma pessoa misteriosa.  Não falava com ninguém. Sempre portando um guarda chuva mesmo que o sol despontasse sorridente lá no alto.

Usava um terno escuro. Sempre cobrindo a calva com um chapéu de abas largas.

Seu nome, ignoravam. A única coisa que sabiam era que ele morava num casarão no fim da rua.

Bem a tarde. Quase noite. Seu Alegria retornava a sua morada com um embrulho de conteúdo desconhecido. Diziam, as línguas de trapo. Que aquilo embrulhado num papel de pão seria um facão de lâminas afiadas. Próprio para matar pessoas que a ele se atrevessem a chamá-lo de Tristeza.

Mas seu Alegria ignorava a vizinhança. Não tinha amigos ou aparentados. Vivia solitário naquela casa enorme de muros altos.

Uma dia. Que se foi ao longe.

Viram Seu Alegria sorrir. Era um riso não declarado encoberto pelos seus lábios finos. Um sorriso de mofa, diziam.

Mas o que todos sabiam era que ele tinha uma cadelinha peludinha que o acompanhava sempre nas caminhadas.

Sempre atada por uma coleira da qual nunca se soltava.

Numa noite estrelada. Já bem tarde. Viram os dois caminhando na pracinha.

Era num mês de julho férias escolares.

De repente. Surgindo do nada. Apareceu um canzarrão morador das ruas.

Deu um bote certeiro abocanhado a pobre cadelinha. Dela não restou senão um monte de pelos esparramados pela calçada.

A pobrezinha era chamada de Tristeza.

Naquela noite enlutada acabou falecendo a única tristeza do Seu Alegria.

Foi a partir de então que nunca mais o viram sorrir.

Um ano depois foi a vez de desaparecer o infeliz Seu Alegria.

Dizem, nos arrabaldes que. Nas noites de lua cheia Seu Alegria voltou a caminhar.  Na mesma pracinha. Trazendo junto dele a sua cadelinha de nome Tristeza.

Foi no dia de ontem que os vi. Foi então que se desfez a minha tristeza.

 

 

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