Como é gostoso ouvir, do outro lado. Um sonoro e bem dito “muito obrigado.”
Um agradecimento sincero. Dado de coração. Do fundo d’alma como diria um poeta inspirado.
Muitas vezes a gente se esquece de agradecer simplesmente alguma graça alcançada. E saímos sem nos despedirmos daquela pessoinha que nos fez um favorzinho qualquer. Alguma coisinha singela. Como ajudar-nos a atravessar uma rua movimentada nas horas de pico. Salvando-nos do atropelamento de um auto em alta velocidade. Fato que poderia incorrer em perda de nossa vida ou invalidez permanente ou algo parecido.
Muito obrigado deveria fazer parte de nossa rotina. Ou andando nas ruas ou simplesmente em nossas atitudes diuturnas. Mas nem sempre essa cortesia acontece. Por falta de quê? Pergunto-me. Seria por falta de berço? Diria não. Ou devido à falta de educação singelamente.
Educação não se aprende na escola. Ela começa ao crescermos. Ao pedir bênçãos aos pais. A aprender a respeitar aos de mais idade. A oferecer nosso acento no ônibus àquela velhinha que fica dependurada quase desequilibrada prestes a cair. É em nosso lar que deveria ter começo o aprendizado vida afora. Que se completa nos bancos escolares. Mas nem sempre é isso que se tem observado. Uma inversão de valores é visto por ai afora o que não deveria acontecer. Dai os desentendimentos, a violência desmedida, as agressões sofridas pelos professores. E por ai caminha a humanidade nessa falta de humildade que pulula aos nossos olhos.
Na grande experiência acumulada pelos meus cinquenta anos de formado em medicina aprendi como é difícil enfrentar o dia a dia nessa nossa arte de curar ou atenuar dores.
A impaciência domina os pronto atendimentos de saúde. Quem lá espera nem imagina as atribulações que os profissionais enfrentam em sua rotina.
“As filas não andam”. Diz quem espera. “Até quando vou ter de esperar”? Rumina outro inquieto. “Mais um minuto aqui vou chamar a policia!” Gesticula outro impaciente.
E assim transcorrem os plantões que varam madrugadas.
Foi exatamente essa cena que assisti num dia perdido na memória.
Não estava naquela unidade de saúde como médico e sim como espectador tão somente.
Na primeira fila de cadeiras se postava um jovem que aparentava apenas trinta anos. Ele tossia estrepitosamente. Nem ao menos tentava proteger os esputos que saiam de sua boca escancarada. Levantava-se a cada minuto. Atitude que bem demonstrava sua falta de educação. A pobre atendente não sabia o que fazer naquela salinha acanhada. Ela simplesmente dizia, usando máscara: “espere um pouquinho. Logo o doutor vai atendê-lo”.
Mas o rapaz tossia mais ainda. Insatisfeito com a demora. Não se passou nem dez minutos quando ele chegou. E outros já estavam à espera muito mais tempo. O reclamão vociferava a plenos pulmões: “que merda! Pago um plano de saúde uma soma de vulto e quando preciso ser atendido tenho de esperar. Vou me queixar à direção desse hospital. Tenho meus direitos”.
A gentil atendente mais uma vez pediu paciência. A sala de espera estava cheia de pacientes. E nem um deles reclamava a duração da espera.
Foi nesse minuto que não me contive. Deixei aquela sala pensando como é difícil ser paciente. A impaciência domina os ambientes de qualquer sala de espera. E como se torna difícil suportar a dura rotina daquelas pessoas que militam em áreas de saúde nos pronto atendimentos em hospitais púbicos ou privados. Os reclamões deveriam receber uma dose extra de educação tanto nos bancos escolares, ou melhor ainda, onde deveriam estar. Aprendendo a difícil arte de conviver. Já que um muito obrigado demonstra nada mais que refinamento. E agradecimento é mais que necessário.