Não restam dúvidas que a maioridade vive rodeada de problemas.
Não mais se pode brincar como dantes. A responsabilidade vem. As contas começam a nos apoquentar. A casa dos pais passa a ser apenas um lugar gostoso para visitar. Isso quando ainda os temos.
E a partir de então a idade muda. Mudamos de costumes. De amigos. Ficamos mais seletivos na escolha daqueles em quem iremos confiar.
Já antes dos trinta, como aconteceu comigo, cometemos a insanidade de repartir nossa vida, até então tranquila, com outro de sexo díspare. Por vezes dá certo. Já outras em verdade faz parte de uma aventura nem sempre com um final feliz. E começamos a desgraçar nossa existência a partir de antão. O que era doce azedou-se de vez. Segundo o dito de uma maioria que não encontrou no casamento a salvação daquilo que se transformou naqueloutro. Já que as incompatibilidades foram se somando paulatinamente.
Quando a idade avança e a saúde capenga a vida começa a suplicar pela paz. Mas quem diz que a tão almejada paz se pode ver uma bandeira branca a ser empunhada por um dos cônjuges. A renda mal da conta de pagar os fraldões. E quanto custa a despesa a ser paga aos cuidadores? Cuidado para não tropeçar. Olhe bem antes de caminhar. A vista claudica e surdez faz a prosa não ser ouvida. Ser velho não é padecer no paraíso. Pouco riso e muita tristeza.
Daí a observação inteligente daquele menino espertinho. Que um dia pediu ao pai: “paizinho. Não me deixe crescer”.
De fato. Deveria ser o revés.
Filhos que não crescem muito provocam preocupações aos seus genitores.
Que logo procuram um médico especialista para saber a razão de assim ser.
Filhos nanicos podem sofrer bullyng na escola. E serem apartados daquele grupo seleto dos bem aquinhoados. Daí quem não cresce e não espicha pode ser fadado a se tornar anãozinho de circo ou pintor de rodapé.
Mas o serelepe Joãozinho. Antevendo as agruras do caminho a ser percorrido pelos de mais idade. Já preocupado com o porvir. Convivendo com as rusgas diárias entre os pais. Com as desavenças intermináveis entre os casais. Foi o motivo de ter feito aquele pedido ao seu amado pai.
Em criança a inocência nos faz pensar que tudo são flores. A ingenuidade predomina. As brincadeiras nos aproximam dos amigos.
Já na maior idade tudo muda de figura. Não mais somos a cereja do bolo. Nem ao menos nos convidam a assoprar velinhas.
Uma vez adultos perdemos não só a inocência como parte da inteligência que ficou na cabecinha sonhadora dos meninos.
A partir de certa idade vamos perdendo a capacidade de olhar o mundo com olhos inspiradores de beleza. Já que a tristeza domina nesse universo tão ingrato. Onde muitos tem tudo conquanto a maioria nada tem.
Crescer implica ter de sobreviver. E a sobrevivência tem sido quase missão impossível. Onde preços sobem mais que os ganhos. Onde o trabalho não mais dignifica o homem. Já que trabalhadores são pagos a preço de banana enquanto jogadores de futebol percebem fortunas e são considerados ícones. Pra mim ídolos de pés de barro que se esboroam a menor enxurrada.
Crescer pra quê? Também a mim interrogo.
Se somos felizes menorzinhos por que esticarmos algumas polegadas?
Em acórdão com o menino Joãozinho.
Esse carinha, sem juízo, sou eu.