Qual o seu maior desejo?

Já me fiz essa pergunta uma montanha de vezes.

E a resposta sempre dependia da idade em que me encontrava.

Ainda menino, espertinho como era, a resposta a tinha na ponta da língua.

Era época de Natal. Que quase coincidia com meu aniversário.

“Pai. Desejo muito, caso passar de ano sem recuperação, ficar um mês inteirinho na rocinha de minhas tias avós. A rocinha da Cachoeira me encanta. E ainda um desejo me faz querer muito. Meu querido pai. Seria possível ganhar um cavalinho pra minzinho andar nele? Seria pedir muito”?

E meu desejo foi concretizado. Só que aquele cavalinho piquira não foi do meu agrado. Era pequenininho demais. E ele foi trocado por um de maior estatura. Seu nome era Guarani. Um lindo alazão que muitas vezes me jogou ao chão.

Já em outra idade, anos mais tarde, meu desejo mudou de cara.

Não mais queria por que queria outro cavalo. E sim cair nas graças de uma mocinha a qual um dia vi no rela do jardim. Mas ela nem me olhou. E se o fez foi de esgueio (palavra esquisita que parece não existir). Mas ela consta no meu vocabulário. E se não a conhecem apresento-a agora.

Voltando as mocinhas frias e não pudicas. Aquele meu desejo foi aceito de bom agrado.

E aquela mocinha linda passou a ser minha namoradinha. Encantadora menina. Hoje somos avós de três netinhos lindos.

Já anos mais tarde outras vontades passaram a ser anexadas as outras que foram minhas.

Já estudante de medicina passei a desejar voltar a minha amada Lavras. E assim o fiz depois de concluir a residência em minha especialidade. Umazinha complicada que tarda mais de onze anos para sermos capazes de percorrer as vias urinárias tentando entender a razão de uma pedrinha tão pequenina fazer tanto estrago em sua passagem dolorida pelos canais fininhos que levam a urina até o final onde ela felizmente enxerga a luz do dia.

Nessa ocasião, uma vez meu desejo satisfeito, não via a hora de encontrar uma parceira que me acompanhasse até nos dia de hoje. Encontrei-a na mesma menina que um dia vi no rela do jardim. Afinal muitos anos se foram. Só de namorido e de casamento conto nos dedos uma soma mais que grandona. Não sei mais quantos anos temos de união.

Meus desejos continuam mudando. Numa metamorfose ambulante tal e qual uma borboleta bate as asas sem saber em que flor pousar.

Agora, já passados os tantos entas, não desejo muito mais.

Queria simplesmente que os relógios não tivessem ponteiros. Que as horas não passassem tanto mais. Que o tempo voltasse atrás. Que os anos não me pesassem tanto às costas.

Quisera eu que minha infância não fosse outra senão aquela. A mesma que passei ao lado dos meus queridos pais.

Não queria outra vida senão a que tenho levado. Dou-me por mais que satisfeito por tudo aquilo que amealhei nos meus mais de setenta anos de existência.

Desejo sim viver anos mais desde que a saúde não me abandone. E outros ao derredor se sintam felizes ao meu lado.

Se me perguntarem qual o meu maior desejo não sei dizer qual seria.

Talvez seja continuar vivo. Admirar a beleza desse dia que nasce em sol desperto.

Ter o mesmo prazer em retratar o cotidiano tão rico.

Desfrutar da mesma inspiração que me cavouca e me consome as entranhas.

Tenho muitos desejos ainda não conclusos. Que tal ver meus netinhos já emancipados na vida? A lerem meus escritos.

E dizerem admirados: “vovô! Como o senhor escreve bem”.

Seria muita pretensão minha ver algum deles descritor?

Termino esses meus desejos desejando a vocês uma ótima semana. Tão linda como essa recém iniciada.

 

 

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