Não devia alimentar ilusões

Sonhos são quase símiles às ilusões.

Embora sejam as ilusões por vezes desfeitas com o passar dos anos. Os sonhos não se concretizem. Não devemos nunca deixar de sonhar. Apesar das desilusões nos desencantarem fazendo doer fundo em nosso peito. Por não podemos abraçar e amar a quem deveríamos. Já que obstáculos instransponíveis se interpõem entre nós e ela. Uma linda mulher que cobiçávamos, mas ela se mostrava bem longe de nosso alcance.

Bem sei que não deveria alimentar ilusões.

Mas por ter fome de amor. Por desejar além das minhas pretensões.  Por isso sofro. Dói-me fundo no âmago.  É como se um punhal afiado ensartasseme no peito. Provocando uma ferida que não se deixa ver, mas ela existe,

Já hoje, alquebrado pelo peso dos anos. Sujeito a mil desenganos que a vida me desfechou. Quase não sonho mais. Já que as ilusões me fizeram entender que não se pode desejar muito mais. Já que não tenho tanto tempo a admirar a beleza das flores. O murmúrio de um riacho descendo a encosta. O acarinhar de uma mãe vendo a cria nos braços pela primeira vez.

Ele bem sabia que não deveria alimentar ilusões. Mas não perdia os sonhos de vista. Mesmo durante o sono não sonhava mais.

O pequeno Zé. Menino de boa cepa. Nascido em família humilde de muitas bocas. Teve uma infância povoada de sonhos e recheada de desilusões.

Aos dez anos perdeu os pais. Ainda criança perambulava pelas ruas em busca de comida.

Tinha fome de crescer e se dar bem na vida.

Mas com o tempo foi perdendo as ilusões. Embora sonhasse tanto desencantos faziam dele um jovem desiludido e introspectivo. Vivia a margem da sociedade; um pária social.

O tempo deixou nele marcas indeléveis de tristeza. Sempre o viam pelas ruas andando a esmo.

Desencantado com a vida que levava desejava profundamente mudar o próprio destino. O que o levou quase ao desatino de atentar contra a própria vida não fosse uma mão amiga que o salvou de um fim trágico ainda pior.

Nosso personagem, naquele momento funesto, quase levado a morte, pensou que sonhava. Na ponte onde tentava terminar a sua história, eis que aparece uma linda mulher.

Não sabia se era verdade ou sonho. Acostumado às desilusões a ele pareceu mais um delírio.

E ela deu-lhe a mão. Impedindo-o de virar nacos de carne e ossos.

Salvou-o da morte certa. Que para ele parecia uma viagem sem volta a um destino melhor.

Zezinho de novo voltou à vida. Até então povoada de sonhos desfeitos e desilusões.

Ao ver a linda mulher ao seu lado pensou estar sonhando. Beliscou-se para comprovar se tudo aquilo era verdade.

De fato ela existia. Uma mulher morena quase da sua idade. Pensou.

Zezinho imaginou  que nova vida estava no começo. Encheu-se de coragem. Sonhou mais uma vez de olhos entreabertos.

Mas tudo aquilo se provou mais uma ilusão perdida.

A linda mulher morena desapareceu como fumaça numa cerração densa.

Já hoje, nessa manhã de sexta-feira, acabei por encontrar o que restou do pobre Zezinho.

Um reles andarilho andejo. Vestido em trajes andrajosos. Acordando sem ter dormido num banco da praça. Tentando se erguer segurando uma presumível mão amiga.  Daquela linda mulher com quem havia sonhado.

Daí a minha conclusão.

Não se deve alimentar ilusões. Mas deixar de sonhar, jamais.

 

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