Não sei há quantos carnavais ela foi plantada.
Se foi lançada a semente por um passarinho. Ou a mudinha foi inserida a terra por alguém que ama as plantas.
O fato é aquela arvorezinha. Pequeninha como um pé de feijão. Dotada de um caule fino. E de uma copa que só mais tarde se podia ver.
Pouco a pouco se transformou numa grande árvore. Que tentava chegar ao céu e nunca conseguiu. E dava sombra que acolhia a todos, indistamente, que se abrigava do sol inclemente do meio dia.
Essa velha árvore atravessou anos. Varou meses, dias, minutos e segundos. Desafiando a idade. E deixando atrás a mocidade de quando era apenas um arbusto de diminuta estatura. O caule esguio e fino deu lugar a um tronco forte. Que dava suporte a uma copa verde e frondosa. Que mais tarde deu abrigo a muitos ninhos de passarinhos.
Essa velha árvore, de tantos carnavais passados, assistiu a incontáveis desfiles de blocos e escolas de samba que por debaixo dela desfilaram.
Ela, creio eu, era da espécie muito usada em construções. E pena que ela também tem a serventia para ser usada em fornos na feitura de carvão. Dizem que a sua sombra fontes de água secam. Mas o grande eucalipto resistiu ao tempo. Vendo suas árvores irmãs crescerem a sua volta.
Debaixo dela taxis fazem ponto. A sua frente hotéis admiram sua majestade. Não sei dizer qual a idade da velha e majestosa árvore. Ela e a velhusca Tipuana rivalizam em anos. São vizinhas de praça, mas não sei se as duas se conhecem.
Toda árvore, de qual idade ou espécime sejam, têm a característica de darem de si o máximo que podem.
São altruístas, magnânimas, acolhedoras. Oferecem sombra a quem precisa. Seus galhos acolhem aves em seus vôos erráticos. Umas dão frutos. Outras embelezam apenas.
Muitas delas são sacrificadas ao chegarem a maior idade. Podem cair ao solo durante tempestades. Poucas resistem às intempéries. E ao despencarem podem cair sobre fios de luz. Deixando cidades no escuro. E pessoas desavisadas serem atingidas pelos seus galhos.
Essa mesma velha árvore sucumbiu na manhã desse domingo. Teve suas raízes arrancadas vivas do chão. E acabou tombando sobre o gramado da praça que tanto amava.
Ela mostrou, a sua morte previsível, toda a magnanimidade com que nasceu.
Se ela tivesse caído do outro lado teria por certo atingido as edificações vizinhas. Mas não.
Ela preferiu tombar para o lado contrário. Não contrariando sua vocação de dar sombra e abrigar pássaros cansados. A velha árvore agora vai se transformar em lenha. Sua copa verde não mais vai ser vista ao lado da velha Tipuana.
O velho eucalipto foi sacrificado pela inclemência do tempo. Não resistiu à tempestade da noite de sábado passado.
Agora ela pode ser vista tombada no passeio da linda Praça Augusto Silva. A velha árvore se tornou atração turística de nossa querida Lavras. Morta, sem vida.
Espero que o sacrifício da velha árvore não tenha sido em vão. Ela foi arrancada pelas raízes de nossa linda praça.
Que plantem, em seu lugar, outra mudinha igual.
Para que ela cresça e ofereça tudo que a velha árvore nos deixou como legado.
Mesmo sacrificada ela vai dar lenha. E tomara seu tronco forte seja transformado em algum banco. Para ombrear com outros bancos na mesma praça.
A velha árvore sucumbiu à tempestade desse final de semana. Que seu martírio nos deixe uma lição.
Árvores devem ser preservadas sempre. Quem planta colhe bons frutos. E não semeia tempestades.