O que são os netos senão um pedacinho de felicidade que os filhos colocaram em nossa vida.
São eles que nos rejuvenescem. Mas que nos cansam de fato. Experimente passar um dia sequer com eles.
Netos tenho três. Em ordem de nascimento nomeio- Theo, Gael e Dom.
Falta uma menininha para presenteá-la com uma boneca. Enfeitá-la com um lacinho de fita amarela gravada com o nome dela.
São eles a minha alegria quando seus pais os deixam comigo. Mas confesso não ser fácil acompanhá-los em suas peraltices. Eles pulam. Fazem de mim cavalinho. Saltam sobre meu corpo despreparado para tanta algazarra. Mas, depois de tantas traquinagens como é bom vê-los dormir assistindo desenhos animados e jogando joguinhos em seus tablets até fecharem os olhinhos naquele soninho peculiar dos anjinhos endiabrados.
Netos, que bom vê-los crescerem. A vida passa e a gente passa a vida inteira assistindo as conquistas dos netos crescidos. Um dia espero, que a esperança não me abandone, ver meus três netinhos emancipados e felizes na profissão que escolherem. Que seja na mesmo do seu avozinho. Ou melhor ainda se algum deles herdar aquela que abracei na maior idade. A de ser escritor. Mas não tenho tanta esperança de acompanhar por mais tempo a vida dos meus netos. Hoje conto com setenta e quatro. Fazendo as contas em vinte anos mais estarei novena e mais quatro. E eles decerto, se vivo ainda, assentarão ao meu colo. E eu, de barbas brancas, como um Papai Noel, não me restará nada mais a não ser olhar pra eles e sentir aqui dentro como é bom voltar a ser criança. Jogar bete e finca e ver aquele pião rodopiar presente do meu avô.
Ontem tive dois dos meus netinhos ao meu lado. Uma hora apenas foi o bastante para inundar meu peito de felicidade.
E agora vô? Que a luz acabou e seus tablets tiveram as luzes apagadas. Não sabia qual a senha da minha internet. Ah! Não fossem os tablets. O que seria de mim com aquelas pessoinhas ruidosas a me fazerem companhia. Dormir não era a hora. Alimentá-los não saberia fazer suas comidinhas prediletas. Não havia hambúrgueres nem milk-shakes no meu apartamento. E oferecer batatas fritas com cozumel não seria de bom tom.
E agora vô que a bateria do meu celular acabou. Eles dois me deram uma canseira danada. Enquanto Dom manejava seu tablet Theo fazia o mesmo no seu. E eu nada entendia dos tais joguinhos. Melhor assistir ao jornal nacional na minha televisão. Mas eles nem longe olhavam pra mim. Imersos de olhinhos grudados em seus i-pads.
E agora vô que a hora passava. E o sono me atormentava. E os dois não se desgrudavam de seus mini computadores.
Eu quase dormindo a eles suplicava: “por favor me deixem dormir”.
E agora vô que mesmo de luz apagada eles não dormiam. Ao meu lado nem cochilavam.
E agora eu que tinha de acordar amanhã bem cedo. Embora fosse meio feriado tinha de ir ao consultório.
E os dois serelepezinhos continuavam com seus joguinhos mesmo sem internet. E eu me lembrava da minha patinete de rodinhas de rolimã.
E agora vô pra onde eu vou. Se abro a janela eles não avoam. Continuam a jogar nos seus tablets. E eu nada entendo daquilo.
Ainda bem que seu pai buzinou lá fora. Bendita hora.
Com meus olhos quase cerrados de sono acompanhei meus netinhos até a garage.
E agora vô? Será que posso assistir a minha novela das nove? Não deu dessa vez.
Um soninho bom me levou a ter pesadelos. Sonhei que vivia cercado de netos. Eram uns trinta. Todos manipulando seus tablets e eu não sabia sequer a senha da internet.
E agora vô. Ainda bem que o sono acabou e eu acordei. Sem saber se sonhei ou não.
E agora eu? Que sou avô de três netinhos sapecas. Não me resta senão, nesse natal que se avizinha. Pedir de presente ao Papai Noel que me ensine usar os tais tablets. E aprenda e não esqueça qual a senha da minha internet.