As partidas são inevitáveis.
Quanto as que deixam a rodoviária. O aeroporto e o porto a ver navios em alto mar.
Da mesma forma aquelas que nos causam tristeza. Quando um ente querido, alguém de quem nos lembraremos pelo resto da vida, se encaminha ao alto. E alguém a ele abre as portas do céu.
Não restam deudas de que, uma vez chegada a hora e a nossa chega por vezes sem se anunciar. Que a gente viaja pra algum lugar desconhecido.
Anos passam quando a minha pequena jornalista ia ao Rio de Janeiro. E nós íamos, olhos lacrimejantes, despedirmo-nos dela já dentro daquele busão que deixava a rodoviária. E eu o chamava de ladrão de meninas indefesas. Mal sabia que ela, não mais menina, era esperta o bastante para se defender dos ladrões. E eu pensava que algum larápio poderia roubá-la de meus abraços. Mas um espertalhão de um doutor veio a levá-la finalmente quando minha menina se fez mulher.
Sempre me perguntei, desde cedo, o porquê de tantos porqueres.
Na sala de aula inquiria à professora de matemática a razão de ser a tal equação tão difícil de resolver. A outra, de português, a minha matéria preferida, embora já soubesse decifrar a questão, por que o c cedilha deveria ter na sua bundinha um rabicho por baixo. Aquele tracinho que se parece a uma vírgula de cabeça pra baixo. E ela me respondia a me olhar raivosa: “cria modos menino. Lava a boca antes de falar nome feio”.
Chega uma hora em que a gente vai embora.
Pena não ser de uma rodoviária. Ou de um aeroporto de onde aviões decolam.
Essa despedida é tão sentida não como se fosse um adeus e um até logo.
A gente se despede da vida rumo à eternidade.
Uma vez chegada a nossa hora nada se tem a fazer. Nem ao menos temos a capacidade de fechar os nossos olhos. Outros o fazem por nós.
Viver é consequência de nascer. Vem depois.
E me pergunto. Perguntão que sou.
Pra que passarmos a nossa vida imersos em ressentimentos? Guardar rancor de outrem? Se a hora da partida está marcada numa data que a gente nem sabe quando?
Pra que tanta vaidade se a velha idade acaba com nossos traços de beleza quando sobrevêm as rugas e pelancas desabam inexoravelmente?
Pra que tentar remar contra a corrente se nosso barco sempre vai em direção ao mar?
Pra que tanta ambição se a gente, quando morre, nada levamos dentro de nosso caixão?
Pra que tanta sofreguidão se a pressa nos consome? Pra que tamanha amargura se penso ser a tristeza a mola mestra para a depressão?
Pra que tanta empáfia se a humildade penso ser um das maiores virtudes do ser humano?
Pra que tanto desamor se o amor é tão necessário como estendermos a mão a quem precisa?
Sei que todos tempos a nossa hora de partir.
Chega uma hora que os adeuses acontecem independentes de nossa vontade.
E mais uma vez indago: pra que?
Se o que nos resta é viver tentando soterrar problemas. E enfrentá-los estoicamente.
Sei que um dia a gente vai embora. E quando chega a nossa hora nada se tem a fazer.
A espera dos meus últimos dias acontecerem espero. Tentando anotar tudo de bom. Não me esquecendo daqueles que um dia me ensinaram a admirar a vida com os melhores olhos que tenho.