Sem perspectivas

A esperança deveria ser a última que morre.

No entanto nem sempre…

Por vezes o indivíduo morre antes de atingir seus objetivos.

Assim acontece em nossa vida.

Existência que pra muitos é desprovida de cores. Onde tudo se acinzenta. Nada é colorido.

Pra ele, em muitos natais passados, nunca recebeu um presentinho que fosse.

José era um garoto nascido em um lar desestruturado.

Aquela bola de futebol, que fosse uma velhinha, de segunda mão. Um patinete deixado num lixão qualquer. Um caminhãozinho de madeira tosco. No qual faltava uma roda. E ele a colocaria de novo. Qualquer regalo deixado numa arvorezinha toda enfeitada de bolas coloridas. Sempre foi seu sonho de menino.

Mas ele cresceu naquela casa onde todos viviam a espera de dias melhores. E esse dia nunca aconteceu.

Ao revés. Naquela salinha desconfortável. Naquele quartinho acanhado e quente. Zezinho nunca conheceu as palavras carinho e amor.

Seu padrasto, homem rude e sempre mal humorado. Chegava a casa sempre cheirando a odor etílico. Ele metia medo a todos que com ele conviviam.

João era beberrão convicto.

Desde que seu pai verdadeiro deixou a família há tempos idos a paz deixou de morar naquela residência. Lá imperava a discórdia. A mãe de Zezinho era uma mulher infeliz e chorosa.

Quem a visse chorar pelos cantos dela se apiedaria. A pobre não tinha a quem se queixar.

O garoto Zezinho, não suportando viver naquela casa, acabou se mudando pra rua.

Lá passou a viver em más companhias.

Dormia num banco da praça.

Para tentar sobreviver vendia balas num semáforo. E limpava para brisas dos carros que por lá passavam.

Aos trezes anos de flanelinha enveredou-se pelo caminho do tráfico.  Transformou-se em aviãozinho de traficantes de verdade.

Foi preso aos quinze anos. Como menor infrator foi levado a uma instituição inadequada. Ali aprendeu tudo que um bandido de verdade sabia de cor e salteado.

Aos dezoito, uma vez completa a maior idade, mais uma vez em más companhias participou do primeiro assalto a banco. A sua liberdade pouco durou.

Mais uma vez entre grades. Com uma extensa ficha corrida pelo crime o não mais garoto Zé foi sentenciado a uma pena a ser cumprida pelos próximos dez anos.

Da cadeia saiu aos vinte e cinco. Mas quem diz que uma vez preso a pessoa se redime e volta a sociedade se engana. Uma vez egresso da cadeia sempre retorna às barras dos tribunais.

E assim foi sempre a vida do nosso anti herói.

De assaltos em contravenções. De roubos de arma em punho. De idas e vindas ao mundo do crime. Girava a vida do meliante Zezinho.

Ele não sabia fazer outra coisa senão afanar. E de vez em sempre era apanhado em flagrante delito.

Não tinha jeito de ser remediado. Era um caso sem remédio.

Foi quando Zezinho cometeu um assalto a um carro forte. Foi o derradeiro em sua vida no crime.

Durante a fuga o carro em que trafegava acabou tomando em uma rodovia. Foi levado a um hospital já sem chances de sobreviver. Mais um óbito a ser declarado num atestado que dizia: “causa mortis sem perspectiva de uma vida sem a menor chance de ser feliz. Aqui jaz uma pessoa que tinha tudo para não terminar assim. Ele teve todas as perspectivas de não terminar desse jeito. Mas acabou desperdiçando-as. E deu no que deu”.

 

 

 

Deixe uma resposta