A finitude da vida é um fato inconteste.
Viver é preciso. Morrer, inevitável.
Um dia desses uma grande amiga se despediu de nós. Uma insidiosa enfermidade aboletou-se nela e a levou ao óbito.
Era ainda bem jovem. Foi uma despedida prematura. Uns morrem na mais tenra idade. Outros vão além dos muitos anos.
Desde que vivamos felizes e com a saúde penetrando em nossas veias melhor viver mais tempo.
Mas, quando a tristeza nos domina. E nosso corpo alquebrado faz sinal de que deseja não mais viver. Que tal convidar a morte a fazer parte de nossa ceia de despedida? Mas se ela chega sem aviso prévio, num trágico acidente, não saberemos e nem podemos evitar o seu aperto de mão.
Tudo acaba um dia. O meu espero ainda esteja distante desse dezembro quando fiz mais um aniversário. Que tal postergá-lo sine die? Que a data do meu cumpleanos caia num trinta de fevereiro. O mais tardar em outros janeiros. Num novo ano ainda sem data marcada para acontecer.
Tudo acaba um dia. Quando nossos olhos se fecham. Para nunca mais se abrirem.
No dia de os meus se fecharem não desejo mais ver outro dia começar.
Espero, com as esperanças renovadas, que o dia em que tudo acabar, que não sobre nenhuma alma viva sobre a face da terra. Esse desejo espero jamais se realizar. Pois bem sei que nossa vida é finita. E que a terra, nosso lindo planeta, por mais que o maltratem, a natureza sempre se renova como fênix depois de virar cinzas.
Bem sei que um dia tudo termina pra gente. Vis mortais que pensam ser o único ser vivo entre as galáxias. Mas quem saberia responder que sim ou que não.
No dia em tudo terminar espero, dentro das minhas crenças, que outras gerações melhores hão de continuar. E deixarei como legado aos meus netos as minhas sinceras convicções que nem tudo está perdido. E eles encontrão um mundo melhor para viver e conviver em harmonia plena. Que as guerras sejam apenas lembranças cruéis de um passado que deixou rastros de sangue e mortes em seu caminho. E sejam apenas lembradas como páginas da história.
Bem sei que um dia tudo acaba. Que nós terminaremos em ossos, pele e vísceras digeridas pelos germes famintos. Que nada mais restará da gente senão recordações fugidias. Daí se torna imperativo deixarmos bons exemplos de integridade e humildade somente.
Que plantemos sementes de boa cepa. Para que elas germinem em terra fértil.
Sei que um dia tudo vai terminar. Ninguém passa pela vida em nuvens cinzentas. Delas desprende a chuva. Mas de repente incendeia o sol.
Um dia tudo acaba.
Acredito nessa premissa.
No dia em que me acabar, que meus olhos não mais enxergarem. Que pelo menos me permitam, onde eu estiver, se em verdade existe vida depois dessa, do outro lado de lá que eu continue a retratar o cotidiano. Descrevendo e deixando meus escritos a serem apreciados por amigos que desfrutam o prazer de me lerem.
E desejo deixar como testamento pós mortem. No meu epitáfio deixarei escrito em letras maiúsculas: “NÃO ME PRIVEM DO PRAZER DE ESCREVER.”
Um dia tudo acaba. Já que agora acabei de escrever.