Bem me lembro da vó Belica. Esposa do meu avô Rodartino.
Mãe da minha querida mãe Rute.
A outra avozinha, mãe do meu pai, Paulo Abreu, cujo nome pedi emprestado para me diferenciar do Rodarte, mais conhecido nessa cidade, era mulher de outro avô. De nome Alberto de Abreu. Senhor circunspecto e muito religioso. Que ao final da vida morou aqui pertinho. Numa rua que dantes era um cafezal onde brincava de pique esconde com meus amiguinhos. De nome Horácio Carvalho.
A casa da minha avó Belica, oriunda de Perdões, terra dos Alvarengas e outros sobres ilustres, era onde nos reuníamos, primos, tios, aparentados, todo mundo festivamente a espera de o pé de jabuticaba frutificar. E como eram doces aquelas jabuticabinhas bem madurinhas. Da mesma doçura dos seus olhos esverdeados. Da cor dos de minha saudosa mãezinha.
Era uma casa extremamente acolhedora. Do alto ela observava o começo da Costa Pereira. Com seu jardim suspenso onde minha vó Belica cuidava de seu roseiral cheio de rosas cor de rosa.
Ao lado da casa da minha vó existia outra morada. Era onde habitou, por longos anos, minha querida tia Cida. Sempre dedicada ao seu marido Vavá Werner. Prestante radio amador. Que mesmo acamado não se desgrudava do seu aparelho de radio. Comunicando ao mundo inteiro. Noticiando boas e más novas. Prestante cidadão seguindo os passos do meu avô Rodartino.
A tudo assistia aquele entrevero. E minha querida irmã Rosinha nasceu sem entender nadica da vida. Pois ela, meninota ainda despontou para a existência como um anjinho que até hoje é.
A casa da minha avó Belica era onde os netos se encontravam. Numa mesa sempre farta. Naquela sala imensa. Naqueles quartos amplos que hoje só existem nas minhas lembranças mais ternas.
Era o tipo de casa com roseiras no jardim cercado por muros baixos.
Pena que o tempo passa. A gente cresce e envelhece. De filhos pródigos nos tornamos pais. De pais amantíssimos passamos a avós.
Nossos passos acabam trôpegos e inseguros. A barba branqueia. A vista claudica. As mãos tremem.
A casa da minha querida avó cedeu lugar a um prédio modesto que daqui se avista. Ele tem o nome do meu avô Rodartino Rodarte. Ele foi construído, com enormes sacrifícios por meu Paulo Jose de Abreu ao qual reverencio mais uma vez.
A da minha avozinha Maria da mesma forma hoje faz parte das minhas lembranças.
Hoje, avô convicto e assumido, só posso oferecer aos meus netos a casa de minha esposa Rosa. Essa casa não tem rosas no jardim. Mas tem todo o nosso afeto e carinho.
Ontem mesmo um dos meus netinhos estudava na sala de jantar. Theo, a principio arredio, depois de a aula terminar manifestou seu desejo de ali continuar.
As casas das minhas avós não existem mais. Mas a minha sempre vai estar sempre aberta aos meus queridos netos. Pena que nem sempre estaremos presentes a recebê-los.
Pois, mais cedo ou mais tarde iremos nos juntar aos nossos queridos avós. Aos nossos pais. Numa mesa larga e acolhedora onde certamente eles todos estarão prontos a nos receber. Acredito num céu ensolarado como o de hoje. Seis de dezembro. Véspera do meu cumpleanos. Até um dia; não sabemos quando…