Já vi gente magra. Obesos se vêem aos montes.
Pessoas de mal com a balança evitam ver o peso.
A obesidade tem sido uma das causas mais importantes que levam ao óbito. Doenças se apoderam dos obesos. A gordura em excesso certamente faz mal à saúde.
Graças ao bom Deus tenho me livrado do sobrepeso. Coloco-me sempre abaixo dos oitenta quilogramas. Quando me olho no espelho começo por admirar minha silhueta. Quando a barriga estufa e encobre aquilo que nos dias de hoje só tem serventia para urinar fecho a boca. Em boca fechada não entra comida. Como da mesma maneira impede moscas de por ali passearem.
Emagrecer. Palavra em moda. Vocês sabiam que se permite grafá-la de outra forma?
Esmagrecer também é permitido. Sendo uma forma informal e registrada em dicionários que contemplam palavras coloquiais.
Como fazer para esmagrecer?
Mesmo não sendo especialista começo por recomendar que procurem um colega. Cuja especialidade se nomeia Endocrinologia. Médico que conhece glândulas e por elas se apaixonou.
Sabidamente o açúcar deve ser evitado. Tudo em excesso se torna danoso. Menos o sexo quando ainda se é capaz.
Outro conselho para evitar a obesidade é tirar as nádegas do assento. Como é prazeroso mandar as pernas trabalharem. Caminhe gente! Andem, tropecem. Dispersem-se em meio à multidão.
Não se tornem um sedentário. Tenham sede sim de caminhar. Frequentem salas de ginástica. Mesmo se suas aparências entrarem em conflito com aquelas mocinhas saradas. De bumbum na nuca e barriguinha em forma de tanquinho que não se usa mais para lavar roupa.
Usem a boca com moderação. Não falem durante as refeições. Cuidado para não engasgar quando alguém profere palavras que o contradigam. Evite falar de boca cheia. Alimente-se bem. Ingira verduras e legumes de fácil digestão. A cerveja faz crescer o abdome. Mas quem resiste a uma geladinha em pleno verão?
Ser magro parece tarefa não grata quando se trata de boa comida. A gula é um dos sete pecados capitais. A gente morre pela boca. Como exemplo cito os peixes que mordem a isca. Se ficassem de boquinha fechada essa tragédia não teria acontecido.
Ontem mesmo sucedeu o acontecido.
Por aqui passou uma senhorinha. De nome Filomena. Era bem andada em anos. Sua certidão de nascimento acusava exatos noventa.
Dona Filó, sua alcunha, veio bem acompanhada pela filha. Que pesava mais do triplo do peso da mãe.
Dona Filó era mais surda que uma porteira gasta quase em cacos. Se não fosse pela intersecção de sua filhota não sei como seria o nosso colóquio. Seria apenas e tão somente um monólogo de minha partitura.
“O que a trouxe aqui?” Usei a filha para começar a prosa amistosa.
Assustei-me quando a dona Filó disse em altos decibéis: “ah! Foram minhas pernas seu dotô. Vim andando devagarinho.”
E ela continuou sua palração desenfreada: “dotô. Tô com a urina sorta. E dói pra mijar. Já tomei de tudo e nada de aliviá. Tem um remedinho pra me receitá”?
Na hora não respondi. Levei-a a mesa de exame onde constatei uma bexiga caída. A sua urina solta era devida a fraqueza do assoalho da bexiga e uma infecção urinária de fácil tratamento.
Mas o que mais me causou espanto foi a magreza da dona Filó. Distribuídos naqueles metro e mucado de pura simpatia a balança acusou exatos trinta quilogramas.
Nela mal se via a barriguinha. As costelas se mostravam magérrimas. As pernas eram mais finas que cana sem casca. Mas o sorriso; ah! Ele engordava a minha sala de tão sorridente que era.
Foi quando, ao final da consulta, brinquei com elazinha sobre a sua magreza.
“Dona Filomena. A senhora sempre foi magra assim? Desde mocinha”?
Fungando e rindo ela respondeu: “sempre fui desse jeitinho. Na escola brincavam comigo dizendo: dona Filó. A sua magreza é tanta que daqui de fora se pode ver sua alma. E eu ria dizendo. Alma boa né”?
Pensando nos magros e nos obesos pude concluir, ao ver dona Filó sair do meu consultório.
Quando se pode ver a alma das pessoas, aí sim. Trata-se da expressão máxima da magreza.