Confesso que o desconhecido me atrai.
Da mesma forma que o inusitado me encanta.
Não sabendo o que me espera ao final do caminho tento chegar até ele.
Por vezes não encontro o que procurava. Mas persisto na minha busca.
Deveras o desconhecido me fascina. Quando conheço, de antemão, aquilo que está, logo à frente. Sigo por outro caminho. E, mesmo dando de cara com o imprevisto, desvisto-me de tudo que conhecia. E de novo volto meus olhos ao desconhecido. Tentando avistar algo novo que até então pensava conhecer.
Desde pequeno creio que o mundo seria bem melhor se a gente desconhecesse a maldade. A falta de decoro. A falsidade que nos faz bem piores que realmente somos. A imodéstia que move pessoas. Que adoram se mostrar solícitas e bondosas tentando esconder suas verdadeiras facetas. As quais são o retrato sem retoques do que em verdade são.
Assim como o desconhecido me faz acreditar que nem tudo se tinta com suas cores verdadeiras. Quando a verdade se camufla não com as cores do arco Iris e sim com outras tonalidades dispares.
Amo o inusitado. Vivo a procura de coisas novas. Novos horizontes me atraem como abelhas ao mel.
A cada manhã me inspiro em novos títulos para as minhas crônicas diuturnas. Tento inovar nos meus escritos.
Nessa madrugada. De tanto pensar nela. Acabei mais uma vez procurando o desconhecido.
Nem sequer imagino quando ela vai chegar.
Com que veste ela vai tentar encobrir sua nudez. Penso ser negra como uma noite escura. Nunca de um branco diáfano como seriam as asinhas dos anjos ou querubins.
Se ela seria mulher. Novinha como uma mocinha pudica. Menino ou menina nem sequer imago qual seria o sexo em questão.
Se ela já tinha amado algum amado. Outra dúvida me faz pensar.
E quando ela viria nos buscar nem me aprazeria saber.
E qual seu maior desejo? Já que bem sei que uma vez chegada a nossa hora não seria possível protelar mais um tempinho.
Essa ilustre desconhecida mete medo a muita gente. Pois sei que ela chega de repente sem se anunciar.
E ela vem em tempos dispares. Nuns ela aparece bem antes da hora imaginada. Em plena mocidade ela mostra a cara nunca risonha. Essa desconhecida senhora. Penso ter mais idade que nós todos. Cavalga corcéis negros como a noite. Traz nas mãos uma foice. E usa uma máscara negra para cobrir-lhe a face que se foi bela perdeu a formosura há muito tempo. Séculos atrás.
Minha ilustre desconhecida se esconde onde nossa vista não alcança. Num lugar lúgubre e baldio. Num lugar ermo e desconhecido. Onde a gente vai morar no final de nossos dias.
Os olhos dela não se abrem ao lume dos dias. Talvez ela prefira a noite para vir nos buscar.
Todos iremos saber. Mais cedo ou no mais tardar. Qual a identidade dessa minha personagem que me tanto inspira aos poetas noctívagos ou aos pensadores do além.
Ela tem apenas cinco letrinhas em seu nome. Fácil de adivinhar.
Se quiserem saber esperem a hora de acontecer. Depois não digam que ela não me atrai. Como qualquer desconhecido por ela serei levado ao final dos meus dias. Espero ainda estar bem distante do agora. Um dia quem sabe quando. Esse dia desconhecido não mais estarei aqui para contar a vocês.