Sempre fui um obstinado viajor rumo ao passado.
Ele me seduz. Embora saiba que vivemos no presente. E o futuro seja incerto.
Não tenho como me desvencilhar de anos passados.
Foi num longínquo um mil novecentos e quarenta e nove que conheci o mundo. Pela primeira vez ele se desenhou aos meus olhinhos inocentes.
Não foi nessa cidade onde nasci. Mas considero Lavras me berço esplêndido.
De Boa Esperança guardo poucas lembranças.
Fora o sobrado da Dona Didi. Onde abri os olhos pela vez primeira. Na Rua Coqueiral 155. Nada mais me resta para recordar.
Como aqueloutra rua, que ainda cochila a mão esquerda. A Costa Pereira sim. Foi no seu calçamento de pedras duras que aprendi a ter amigos.
Pra onde foram os meninos da Costa Pereira? Já fiz essa pergunta uma pá de vezes. E eles não me responderam. Decerto ou não ouviram a minha indagação ou já não estão mais aqui.
Já que não mais é possível trazê-los de volta só me restam doces recordações.
Mas por que não trazer de volta os bons costumes?
O respeito aos de mais idade? As mesuras e rapapés quando uma moça elegante passava?
Por que não trazer de volta os folguedos de rua? Antes dos celulares e da internet podíamos brincar nas ruas sem temor algum. Temerosos de que nos afanassem os telefones andejos. E com as senhas liberadas fazerem saques em nossas contas bancárias.
Uma súplica faço ainda. Tragam de volta a minha primeira namorada. Embora saiba que ela agora se tornou avozinha de netinhos faceiros como são os meus.
Tragam de volta os amores que perdi. Mas agora tenho certeza que foi aquele amor que elegi para ficar com ela até o final dos meus anos. Seu nome não sonego. Ele se grafa com R no seu começo. E termina com N. Em maiúsculo sim.
Tragam, por favor. Aquelas músicas melosas de antão. Para que nossos ouvidos não ouçam baboseiras que nos ofendam a audição. Como funks e coisas e loisas parecidas.
Tragam de volta os velhos bailes de salão. Que nos embalavam as noites estreladas de rostos colados. E se um beijo era roubado o máximo que acontecia era sermos repreendidos pelo pai da moçoila. Que se ruborizava todinha. Tentando esconder sua castidade que guardava a sete chaves para depois do casamento.
Tragam de volta o respeito que nutríamos pelos nossos pais e avós. Que a menor arte que fazíamos bastava acenar com um piscar dolhos que a gente voltava à casa de cabeça baixa e dizíamos- “me perdoe meu pai”.
Por favor, eu peço. Traga-nos de volta o respeito aos velhos mestres. Foram eles que nos ensinaram a ser gente. São eles os mais importantes a seguir de nossos pais agora ausentes.
Tragam ainda de volta. Se possível for.
Nem que seja por um minuto apenas. Os meus pais de volta. Para que eu possa dizer a eles. Num abraço afetuoso e sincero: “como vocês me fazem falta. Não me esqueço de vocês dois.”
Se possível fosse trazer de volta nacos do meu passado não queria mais nada. Na presença de pessoas amadas me sentiria. Como me sinto agora. Feliz da vida nesse resto de vida que me reserva o futuro. Até o instante final. Que se alongue tanto quanto me permitirem dar adeus a vocês todos.