Embora tenha poetado o grande poeta português: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Da mesma forma me pergunto: como mesurar a alma? Se nem sabemos se ela existe?
Mas deve valer a pena nos apiedarmos de outra pessoa. Soberbamente se ela inspira coisa boa. Se comunga de bons sentimentos. Se a nós fala baixinho. Quase sussurrando aos nossos ouvidos – como eu gosto de você.
Como tem feito calor nesses tempos de começo de ano. Parece que a chuva parou. O sol acorda a mesma hora que eu. E incendeia aqui em baixo com seus raios poderosos.
Como de costume a cama me cospe bem cedo. Antes da cinco já estou de pé. Depois de uma noite quase insone me preparo para um novo dia. Banho tomado. Depois de um final de semana quase igual a segunda me recebe dizendo: “acorda! Já é hora. Seu consultório lhe espera de portas fechadas. Seus peixinhos aquarianos devem estar famintos. Tome seu cafezinho magro, pois você já está gordo. Alimente-os, ligue o computador. Já tem nas idéias qual seria o titulo de seu próximo escrito”?
Se não o tenho penso na hora. São tantas as inspirações que me cavoucam por dentro que nem sei a qual darei preferência. Já que não vale a pena perder tempo a lucubrar tantas coisas. Já que um caminhão de idéias passeia-me pelo pensamento.
Já deixei escrito dantes: “a vida seria insustentável não fossem as mudanças”.
Mas nessa passagem pela vida. Depois de tantos anos completados. Seria de bom tom mudar a cor de nossa vida?
Mudar de roupa a toda semana faço. De morada já passaram pelos meus anos conto nos dedos mais de quatro. De esposa ainda não mudei. De filhos não tenho a intenção de mudar nenhures. De netos então me satisfaço com esses três peraltinhas que me dão tanto prazer em brincar com eles quando os tenho juntos.
Valeria a pena voltar aos tempos de antes? Aos vinte anos que se vão tão longe? Aos cinco não me atreveria. Era eu um garoto traquinas como são meus netos. Só que naqueles benfazejos anos nem existiam os tablets e celulares. A gente tinha de brincar na rua a salvo das repreensões de nossos pais que marcavam a hora de nossa volta. E ai da gente se não cumpríamos a risca tais recomendações. Uma vara de marmelo nos esperava por detrás da porta. Ou um puxão de orelha que nem era dado. Pois a gente, meninos comportados. A espera dos presentes de Natal. Não éramos rebeldes sem causa. E simplesmente de retorno a nossa morada deixávamos a bola de futebol descansar de nossas peladas cabeludas.
Se hoje tenho por mim que não vale a pena mudar de endereço; de família penso da mesma forma. Não vale a pena trocar de esposa. Com outra os problemas serão acrescidos mais ainda.
As contas chegarão com mais intensidade. Já que o salário continua o mesmo. De nada adianta dizer que a nossa mixa aposentadoria vai ser suficiente para passar férias na Espanha se ela mal permite outras extravagâncias.
Vale a pena passarmos o final de vida sonhando com uma vida melhor? Se nessa daqui não fomos felizes por que nos iludirmos se em outra a felicidade vai sorrir pra gente?
Vale deveras a pena continuarmos a pensar que o sossego se mostra na azáfama das cidades se em verdade ela pode ser encontrada no murmúrio do silencio. Na quietude das madrugadas no campo. Longe de tudo e de todos. Na rocinha que tanto amo.
Vale de fato a pena tentar entender que a paz se resume em não guerrear. Embora muitos entendam que em desavenças com outros povos a guerra seja necessária. Pra quê? Não me passa pela cabeça o porquê de tantos porqueres.
Uma vez passados os mais de setenta já não penso mais em mudanças. Se me mudar algum dia que seja para o céu azul que se mostra lá em cima. Para um lugar junto aqueles que ainda amo. Será que eles todos se mudaram pra lá?
Só sei que cada vez mais nada sei. Se vale a pena aquietar-me aqui onde estou. Ou se me mudarei para outro lugar melhor.
Mas se um dia tiver de mudar. Se vale a pena estar naqueloutro lugar. Pelo menos me deixem levar comigo esse mesmo computador. Minhas idéias permitam-me que as leve juntinho a mim. Minha imorredoura inspiração não tenha freios nem interrupções.
Ai sim. Irei me mudar feliz da vida a outra vida que me está reservada. Nalgum lugar especial. Onde moram meus pais.