A vida é feita de lembranças, recordações, saudades.
Desde a tenra infância nos lembramos, mais tarde, daquele presente dado pelo nosso avô.
Em nosso aniversário ele me presenteou. Todo orgulhoso do seu primeiro neto. Com um lindo patinete feito em madeira de lei. Ele mesmo foi quem nele trabalhou. Por dias a fio. E ficou uma belezura aquele regalo que até nos dias de hoje guardo não apenas em minhas lembranças, mas ainda mora num sótão esquecido entre velhos trastes.
E bem me lembro de como meu pai ficou orgulhoso ao ver aquele boletim. Cheio de notas acima dos nove. E ele elogiou meu desempenho, mesmo sabendo da minha ojeriza pelos números que até hoje guardo comigo.
E ela, minha mãezinha querida, a me ver voltar da escola com um machucado no joelho direito, não quis saber qual foi a minha arte. E logo colocou uma bolsa de gelo na região. Além de me dar um beijinho adocicado que logo pôs fim a dor que não sentia.
Hoje, oito de março, é dia dedicado a elas. E minha amada mãe foi uma delas.
Lembro-me sempre dela naquela casa que daqui se avistava a mão esquerda.
Agora aquela casa não existe mais. Foi derrubada há tempos atrás.
Mas ela continua erguida nas minhas lembranças. Assim como era antes.
Um alpendre a frente da sala principal. Uma copinha onde tomávamos refeições. A cozinha vinha logo a seguir. Uma mesa coberta de azulejos brancos tintos de saudade com três lugares que serviam de assento. Um curto corredor que levava aos quartos. O meu era no fundo. A suíte dos meus pais era no meio.
Descendo pelas escadas havia um pequeno escritório. Onde a velha Facit morava. Outra espaçosa suíte era onde as visitas dormiam. Antes era um porão onde guardava minha bicicleta. Mais abaixo existia uma hortinha pequena. Onde uma jabuticabeira nos permitia deliciar com seus frutos.
E como me lembro da minha querida mãe. Era uma cozinheira de mancheia. Fazia com maestria um arroz branquinho como sualma pura. Um feijão que se derretia e nem carecia de mastigar. E seu café com pão de queijo? Ainda me lembro de quando passava naquela casa, à hora do café da tarde, já adulto, e me lambuzava com aquelas iguarias que só ela sabia fazer.
E como ainda me lembro dela, ainda menino, levado da breca, ao cabular aula ela quase não me repreendia. Simplesmente, com aqueles olhos verdes me dizia: “Paulinho. Não perca aula. Se deseja ser alguma coisa na vida estude.”
E ela foi professora por poucos anos. E como gostaria de ter sido seu aluno. Mas tive sorte, pois outras mestras me ensinaram à sua ausência.
Lembro-me sempre dela naqueles anos doirados. Aos dezoito parti rumo a outros ares. Mas sempre voltava ao seu aconchego. Não há quem resista ao colo de mãe. E nada se equipara aos seus beijos.
E como me lembro dela não somente no dia de hoje. Lembrar-me-ei sempre dela ad eternum.
Ela se despediu da gente aos oitenta e três. Ainda me lembro daquele dia.
Chamaram-me na Santa Casa. Estava em meio a uma operação delicada.
Terminei a derradeira sutura da pele. E, naquele fiatizinho azul marinho fui até aquela mesma casa.
Ainda me lembro de suas últimas palavras: “meu filho. Será que vou morrer”?
Assisti, impassível, ao seu passamento. E minha mãezinha partiu sem meu consentimento. Era a hora dela. Estava escrito nas estrelas.
Nunca me esquecerei das horas, dias, meses, anos, que passei ao lado dela.
Ela me enseja um monte de saudade e recordações ternas.
Bem me lembro do desvelo e carinho que elazinha dedicava a nossa família. Das dificuldades que ela enfrentou na doença do meu querido pai.
Lembrar-me-ei sempre dela não apenas nesse dia oito dedicado às mulheres.
Mas ela sempre vai estar presente. Mesmo a sua ausência. Aqui dentro. No meu peito. Nas minhas lembranças. Nas minhas andanças pela vida. Enquanto um sopro de vida pulsar dentro de mim.