Rodarteano

Aqui em nossa cidade esse sobrenome é bastante conhecido.

Rodarte, no meu estulto entender, quer dizer “rodar com arte”.

No entanto dos entretantos Rodarte, em verdade, é uma adaptação ibérica de um nome francês de origem germânica. Rodart- em sua forma original Hróõr significa glória, fama, reputação. Além de forte e duro. Embora muitos Rodartes tenham o coração amanteigado que se derrete todo ao olhar da linda donzela cujo pai não é nenhuma fera.

Somos oriundos de uma linhagem espanhola. Em muito parecida aquela cujo herói montava o cavalo de nome Rocinante tendo como fiel escudeiro o fiel Sancho Pança. Embora nossa pança não seja tão proeminente quanto a daquele cavaleiro que servia de chacota por suas trapalhadas a mando do seu parceiro de tantas andanças confundindo moinhos de vento com dragões que soltavam fogo pelas ventas.

Daqui de cima avisto a rua onde moraram os Rodartes.

Ela tem o nome de Costa Pereira.

Ela começa na velha caixa d’água que há muito deveria sair de lá. É uma ruinha curta, mas de rico passado.

Nos velhos anos quando fui ter por lá, meados de 1955. Oriundo de Boa Esperança. Sempre que por ali passo me pergunto: “pra onde foram os meninos da Costa Pereira”?

Aqueles mesmo que foram meus amigos. Os filhos da dona Ester que morava numa casa numa depressão daquela rua. Onde hoje se ergue o prédio construído pela associação comercial.

Também no começo daquela rua morava a simpática dona Violeta. Esposa do dentista João Batista. O mesmo que ajudou meu estimado primo Pedrinho Rodarte a extrair um dos meus dentes siso. Embora até hoje não tenha juízo. E me gabo por isso.

Pra onde se mudaram os filhos da dona Nivalda Carvalho? Meus amigos de infância.

Na casa de baixo vivia o fazendeiro Lito.   Pai do Fábio e do falecido Piriquitão. Um alegre menino que fazia a alegria da rua com seus repentes de falsa fúria quando o chamavam assim.

Uma casa depois morava outro fazendeiro de nome Seu Tuchê. Gente boa de Luminárias terra de pedras e lindas cachoeiras.

Descendo um cadinho mais morava Paulo Reis. Vizinho da casa dos meus pais. Onde agora só restam dois lotes vazios. Mas cheios de saudade.

Meu tio Chico Rodarte morava logo abaixo. À porta do mesmo clube onde frequento ao cair das tardes.

O velho hospital ainda mora no mesmo lugar. Foi onde comecei a dar meus primeiros passos pela medicina.

Voltando ao começo da rua redivivo a casa do meu avô Rodartino. Era uma casa edificada creio por ele mesmo. Ela tinha um jardim defronte. Onde minha avozinha Belica plantava rosas amarelas. E minha mãe um dia me pilhou comendo tatuzinhos oriundos de esterco de jardim. Até hoje não sei qual o sabor daquilo.

O edifício construído pelo meu pai leva o nome do meu avô Rodartino Rodarte. Era ali que deveria ter sido meu primeiro consultório. Penitencio-me por não tê-lo feito desse modo.

Não poderia me esquecer da casa do meu tio Rui Rodarte. Que deixou como legado o cartório que foi do meu avô ao seu filho Luis Carlos. Nobre tabelião que até hoje vive solitário naquela casa da tia Dorinha que encerrou sua passagem pelo nosso mundo naquela mesma morada.

Hoje, quando passo por aquela rua, de tantas lembranças ternas. Volto meus olhos para os Rodartes.

Agora restam alguns de nós a continuarmos nossa saga.

Dizem que o sobre Rodart significa glória, fama, reputação.

Mas que me orgulho de ter meu segundo sobre escrito desse jeito de fato só tenho de me vangloriar. Da mesma maneira que aos Abreus tenho de reverenciar.

Enquanto viver vou Rodateano sem parar. Tentando abrir, dos Abreus, as portas às futuras gerações.

 

 

 

 

 

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