Pra alguma coisa a gente deve servir.
Nenhures é ruim pra tudo na vida.
Uns sobem mais alguns degraus. Já outros se dão bem em qualquer atividade seja laboral ou intelectual.
Eu mesmo me dou bem com e entre as palavras. Amo-as amontoadas ou soltinhas como o arroz que minha mãezinha fazia quando ela preparava o almoço de cada dia.
E por falar em minha mãe, que ainda me enche de ternura e gratidão o coração, no próximo sete desse mês que adentramos ela, se estivesse ao alcance de meu enlace completaria cento e um anos de vida. E que vida primorosa tivemos, meu irmão, Fred, a minha querida Rosinha que vive pertinho de nossa casa hoje reduzida a um lote vazio. E eu que tantas saudades sinto de ambos- ela e meu não menos saudoso pai.
Bem melhor se os dois estivessem vivos ao nosso lado. Como seria infinitamente melhor ter todos os nossos pais por perto para verem de perto nossos sucessos e nos livrassem dos fracassos que por vezes trombamos com eles em nosso caminhar a frente ou por detrás de nossa existência profícua ou desprovida de significado.
Seria muitas vezes melhor vivermos ao lado de pessoas que amamos e elas nos respeitam. Mas nem sempre essa felicidade acontece.
E como seria bom tomarmos sorvete num dia quente como no verão passado. Mas, neste frio que ora nos intima a nos agasalharmos velozmente ao sairmos de nossa cama em tempranas horas como me acostumei, o mais prudente é tomar um chocolate quente como no sul é do costume tomar.
E por falar em bem melhor lembrei-me do causo de um rapazinho. Cujo nome primeiro era Pedrinho. Os seguidos confesso que não sei.
Esse mesmo menino desde pequenininho acalentava um sonho. Coisa de meninos.
Aos dez, uma vez na escola, assim que aprendeu as primeiras letras e com elas formar palavras, ao ler um livro escrito antigamente pelo nunca esquecido Monteiro Lobato. Ainda me recordo de uma de suas frases que se notabilizaram: “ uma nação se faz com homens e livros”.
Lembrando-me desta frase célebre escorrem-me lágrimas pelo canto dos olhos ao pensar no meu próprio Brasil. Basta citar o caso de um país vizinho que tem mais bibliotecas e livrarias que em quase todo continente sul americano. E foi a mesma Argentina que nos brindou um prêmio Nobel de literatura- Jorge Luís Borges.
E por aqui? Quando teremos um escritor digno dessa premiação. Penso não estar vivo para ver e aprender.
O mesmo menino Pedrinho, ao ler o livro mais famoso do grande Lobato, o Sítio do Pica Pau Amarelo. E depois de terminar sua agradável leitura deu começo as suas fábulas, dentre elas, somam-se setenta e quatro, a que mais lhe agradou foi “a onça doente”. Não sei de que ela morreu. Ou se ainda está viva.
Depois de devorar não sei quantos livros e com eles não se engasgou. Ao revés, amou.
O menino inteligente e bom de letras, tirava de letra o português mas não fazia feio entre os numerais, Pedrinho começou sonhar um sonho difícil de ser sonhado principalmente em nosso país.
Verdade inquestionável. Uma vez andando pelas ruas de nossa querida Lavras aos alunos amochilados, indo ou voltando de suas escolas. A eles indago: “o que você deseja ser ao crescer? Não seria por acaso um escritor”?
Jamais algum deles me respondeu como eu queria:” eu quero ser escritor”.
Mas deveras. O menino Pedro viu nele despertar a paixão pelas letras e palavras interligadas escorreitamente como deveriam. Frases estas com pouquíssimos senões tanto de ortografia ou gramatica. Era um aluno exemplo tanto em nosso rico idioma como em outros entre eles cito o inglês.
Mas, talvez por esse motivo, desprovido de qualidade, o pobre Pedrinho sofria bullying entre seus pares. Não por ter as orelhas em abano ou por trazer por cima da sua cabeça enorme um fiapo de cabelos espetados como espinhos de ouriço caixeiro.
Pedrinho era incapaz de usar uma camiseta, como muitos garotos se acostumam, deixando ver escrito o nome de um jogador de futebol. Exemplifico Neymar, Messi, e outros famosos e endinheirados mais.
Um dia, era uma tarde de domingo, dia de folgar e sair de casa para jogar uma pelada usando não estar nu em pelo e sim um calção, um par de meias compridas, uma camiseta numerada às costas com um dez ou sete, um par de chuteiras de travas gastas e quase inexistentes. Pedrinho foi ao campinho cambeta pertinho de sua casa humílima, em companhia dele mesmo.
Uma vez apeado nas proximidades do tal campo de futebol desprovido de grama. Mais careca do que bola de sinuca ou bilhar. Como preferem. Os seus colegas logo o saudaram com seus múltiplos apelidos: “chega mais Cascão. Não tenha medo de entrar em campo seu Cdfinho. Vem cá almofadinha”.
Fazendo de conta não ouvir as palavras sujas partindo das bocarras imundas daqueles fedelhos, invejosos de sua inteligência e sabedores que aquele garoto, dentro dele nascia um sonho de ser escritor, Pedrinho tomou outro rumo. E se foi. Não deixando endereço nem Cep.
Bem melhor desdenhar de palavras ofensivas e mal intencionadas. Bem melhor deixar os cães ladrarem e a caravana passar. Bem melhor ser igualzinho ao menino Pedrinho.
Um sonhador, como eu, que desde há poucos anos acalento o mesmo sonho. Quem sabe um dia serei reconhecido como um escritor da mesma envergadura de um Lobato, de um Machado, de um Guimarães Rosa.
Paulo Rodarte! Acorda! Ainda é tempo de botar os pés no chão!