Quem ainda não sentiu na face um ventinho fresco de outono. Não teve seus cabelos revoltos ou viu papéis sendo levados por este mesmo vento. Que seja numa praia deserta. No alto de uma montanha cujo cume quase toca o céu infinito.
Não sentiu por dentro do peito uma pontadinha indolor chamada amor.
Ou ainda, por causa desse mesmo amor a tudo deixou atrás. Seu lar sem a doçura de um lar de verdade. Onde, porta adentro, as discussões e tormentos eram inevitáveis. As queixas de um lado ou doutro partiam cheinhas de ofensas. Que doíam muito mais que agressões físicas de verdade.
Quem ainda não deu a devida importância a uma palavrinha de muitas letras nomeada de solidariedade. Ou amizade sem segundas ou terceiras intenções.
Quem ainda disse não ter tempo de ajudar a quem precisa de ajuda. E quantas pessoas a gente encontra pelas ruas de mãos estendidas pedindo migalhas que sobram em nossos bolsos e falta a tanta gente. Nestes tempos difíceis por que temos passado. Onde predomina o mais ter sobre o mais ser.
Quem ainda não viu algo semelhante se não percebeu o motivo é se não esse: está com os olhos vendados. Uma cegueira indevassável mesmo tateando com as mãos um livro grafado em Braile.
Eu a conheço de poucos meses. Dir-se-ia menos de cinco. Se tanto.
Bem conhecia seu pai. Dono de uma casa que nos faz enxergar melhor sem os inevitáveis pares de óculos de grau.
Mas desde que fui operado de um embaçamento em minha íris chamada catarata. Por um hábil oftalmologista local. Numa clínica que daqui se pode ver mais ou menos nitidamente. Passei a enxergar sem um par de óculos sequer. Já que me foi dado o diagnóstico que um dos meus olhos enxerga perfeitamente de perto. E o segundo olho enxerga mais distante.
Mas, como me descobri escritor cronista, passei a ver até nas entrelinhas. Ah se as mulheres soubessem da minha virtude de ver por baixo dos panos elas não sairiam às ruas sem as roupas de baixo. Exemplifico – anáguas, espartilhos, combinações e calcinhas maiores ou menores que um fio de linha.
Mas esta moça linda que recém se tornou minha amiga. Uma das filhotas creio que prediletas do meu amigo dono daquela ótica. O qual anda sumido de sua loja. Uma das que mais vende óculos de toda a nossa cidade. Sempre que tenho a oportunidade prazerosa faço-lhe uma visita rápida como a de um médico deveria ser.
E como ela é simpática e atenciosa tanto com seus clientes como da mesma maneira com os passantes que por sua porta passeiam.
Hoje, ao descer a rua principal em direção a casa de outro amigo mais antigo tanto em idade como é profunda a nossa velha amizade.
Dei uma paradinha na loja de nome Brilharte. Onde a linda moça que me tem dito vive cercada de pés de chuchu e maracujás. E me parece, infelizmente, teve um desagrado de nossa espécie de machos. Não sei por qual motivo.
E ela, e eu, postados de pés plantados defronte a sua loja, uma senhora carregada de sacolas de um supermercado próximo. Uma das sacolas despejou seus produtos defronte a ela.
Sabem o que a querida amiga fez?
Brisa prontamente entrou porta adentro de seu estabelecimento trazendo nas mãos lindas de unhas tintas em esmalte azul uma sacola presente a ser dado a sua vasta clientela. E não só ajudou a desconhecida a voltar todas as compras dentro de sua sacola de marca Brilharte. Como ainda se fez pronta a ajudar de novo em caso de precisão.
A tudo assisti sem esboçar qualquer atitude a não ser sorrir e aplaudi-la de pé. Já que estava com os meus no chão.
Seu nome repito agora. Sua maior virtude chamo de magnanimidade. Que muito bem rima com solidariedade e gentileza. Seu nome não deixo de repetir- Brisa.