Por que este prazer mórbido por divulgar a desgraça ou infelicidade alheia?

Por que razão notícias alvissareiras não ocupam lugar nas primeiras páginas dos jornais?

Qual seria o motivo de apenas e tão somente fatos que enlutam famílias inteiras são objetos não apenas de notícias falaciosas e ao mesmo tempo são estampadas até mesmo em cartazes ou outdoors em pontos estratégicos em avenidas movimentadas onde carros ou pessoas passam não apressadas ou movidas velozmente  pela azáfama de nossos dias?

E qual seria a razão de tantas prosas lúgubres envolvendo grupelhos de amigo que se unem em praças ou jardins, tais e quais jacarés esquentando-se à luz do sol a espera de abocanhar presas fáceis que porventura passem boiando pelas águas túrbidas de um rio?

E essas pessoas ditas amigas porque não mudam de assunto e passam a comentar sobre a beleza de uma rosa recém emersa de um botão que seja vermelho ou amarelo ou de cores lindas como as que ensejam um arco íris depois de uma chuva que de repente serenou.

E tantos porqueres de distintas interrogações me fazem pensar na vida que tenho levado até  que ano ou mês. Já que já passei da idade desse meu caríssimo poderia chamá-lo amigo.

Pois até essa presente e triste data não nos acostumamos a nos reunirmos em minha casa ou na sua fazenda. Que seja na minha. E raramente trocamos meia dezena de palavras pois a pressa sempre nos impelia tanto ao meu consultório e ele, andando rapidamente, de mãos às costas, subíamos esse mesmo morrinho que uso sempre galgar, em direção tanto ao seu consultório como também ao meu.

Já era previsível o desenlace dessa triste efeméride, pois esse meu colega de fardas, embora não sejamos destacados em nenhum quartel e sim em outro destacamento que muito se destaca por amenizar dores e sofrimentos, mesmo sabedores que fomos acostumados que a dor é inevitável mas o sofrer tanto pra ele como pra mim é opcional.

Tornava-se quase um acontecimento banal nos entrecruzarmos, ou no mesmo hospital, aqui pertinho de onde moro e escrevo a cada nascer do sol, ele de cara de poucos amigos, me parecendo casmurro, de mãos às costas, caminhar alguns metros apenas, e se dirigir a sua sala de consultas, num predinho vizinho ao meu. Onde, esse grande ortopedista, não nascido nessa cidade, a exemplo meu. Jogado ao mundo que fui pela vez primeira na linda comunidade hoje às margens de outro mar de água dessa vez não salina. jJá que esse mar recebe as águas dantes correntes de um rio que já foi grande e hoje cercearam-lhe a liberdade de ir e vir por barragens que interpuseram em suas correntezas. Num único intuito de produzir energia dita de custo mais em conta contando-se o custo de doutros tipos como a eólica e a ensejada pelos ventos ou até mesmo outra de nome atômica.

Imagino, na data de hoje, vinte e seis do mês de maio, a tristeza de sua família, embora já sabedores da gravidade de seu  estado de saúde que há muitos janeiros ia de mal a pior.

Causa-me ainda pensamentos carreados de tristeza a saudade que seu passamento vai causar no seu colega porta a porta de sua oficina de trabalho. Sócio e companheiro de operações que tinham a intenção nobilíssima de endireitar pernas tortas e ossos fraturados e mãos da mesma forma deformadas por acidentes imprevistos e tantas vezes sucedidos nas nossas estradas em péssimo estado de conservação permeadas de curvas mal projetadas e recheadas de buracos.

Algumas solitárias vezes tive a oportunidade de me entrecruzar com esse meu colega de especialidade díspare da eleita pra mim em seu consultório meu vizinho de edifício.

E esse doutor sempre me atendia prontamente mesmo sem ter agendado previamente a consulta. Examinava-me criteriosamente e a mim passava uma receita certinha, sem ao menos me pedir exames, pois seu olhar complacente e experiente dispensava tanto exames de imagens ou raios xis feitos em nossa querida Santa Casa.

Meu colega no dia ontem subido aos céus era um baita doutor dos ossos e das dores lombares que tanto me atazanavam.

Não diria ser ele amável no trato pois ele pouco sabia sorrir. Mas, num dia o qual precedeu a sua passagem a outra vida, já que ele era meu vizinho no memo beco, aqui pertinho de onde me acho. Ao ver uma pessoa, a qual imaginava ser uma de duas lindas meninas, ao olhar para o interior de um dos seus veículos, imaginando ser uma pessoa e não aquela moça. A ela perguntei sobre a saúde e o bem estar de seu presumível pai. E ela, olhando em minha direção, não se desleixando da direção do auto, me respondeu, meio avexada: “ doutor Fábio não é meu pai embora o considere mais que um”.

Já deixei escrito, em outro texto dias dantes, enaltecendo-lhe as inúmeras virtudes. Para aqueles que se recordam daquela crônica, lida por parte de sua família, seu título era: “o que é ser valente”.

Nesse amaro  dia em que o calendário diz ser vinte e seis do mês de maio, ao acordar, ainda sonolento, antes de ir ao banheiro e passar uma água fria na minha cara de sono, ao verificar as mensagens no meu celular, uma delas me levou às lágrimas: “Paulo, bom dia. Fábio descansou. Velório São João Batista – 12 horas as 16 horas.”

Embora já previsse tal desenlace, não tive como não conter as lágrimas que passaram a despencar pelo meu rosto ainda entregue ao descrédito do acontecido.

Vá em paz amigo Fábio. Prometo que nunca vou me esquecer de você. Vou cuidar de sua velha caminhonetinha parada logo abaixo da minha. E como bem sei que seus amados familiares jamais irão esquecer dessa pessoa maravilhosa. Seu enorme coração pode ter parado de tiquetaquear. E nenhuma massagem daria conta de voltá-lo à vida. Esta mesma vida tão útil entre todos os felizardos que o conheceram de perto como eu. E mais ainda aqueles que tiveram a ventura de serem tratados em suas enfermidades ortopédicas por você meu caro colega hoje falecido Fábio Brito Barbosa.

 

 

 

 

 

 

 

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