Uma palavra de significados contraditórios e por muitos praticada e ainda desconhecido qual lhe seja o sentido.
Esse desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia dói n´alma como areia caída nos olhos que não apenas arde como faz doer. Muitos até mesmo perdem a visão assim que uma poeirinha arenosa ou qualquer inseto, ou pedriscos, levado pelo vento acaba acertando em cheio à vista daquele que não usa sobrolhos ou qualquer anteparo que a ele permita se proteger no trabalho usando instrumentos como máquinas de soldar ou até mesmo quem moureja em construção civil. Com uma pá ou enxada fazendo masseiras misturando cimento em pó à areia.
Dizem até que esse desejo irrefreável de possuir ou gozar o que não lhe pertence acabou-se tornando inerente a espécime dita humana. Que tantas e tantas vezes peca pela desumanidade crescente nestes tempos difíceis que o mundo encontra pela frente.
Uma vizinha de tempos idos, moradora de uma casa num bairro dantes considerado morada de gente de classe mediana ou endinheirada. Assim que nossa casa ficou pronta linda como daqui a vejo em fatias. Essa mesma habitação considero a única nascida de meu esforço hercúleo. Do meu trabalho insano não conhecendo o escuro sabor das noites já que tinha de socorrer enfermos de minha especialidade nos três hospitais de nossa querida Lavras. E, ao tentar conciliar os dias e as noites meu telefone, ainda os celulares não passaram a infernizar nossas vidas, era apenas um telefone negro que não funcionava à distância de sua tomada. Ao pensar que aquele paciente recém operado de próstata iria apenas fazer-lhe uma visita ao nascer doutro dia. A sonda que cuidava de lavar-lhe a bexiga no dia anterior suturada. Se entupia por coágulos que não davam conta de sair pela sonda de grande calibre metida em sua uretra. E eu era chamado às pressas pelas zelosas enfermeiras dos três hospitais a fim de, a exemplo de um competente bombeiro encanador desentupir não o ralo da pia e sim a saída do reservatório de urina para que a mesma saísse com a mesma cor de água da mina e não de aspecto sanguinolento que deveras fazia sofrer aquele idoso enfermo recém operado da glândula prostática hipertrofiada própria da idade madura.
Talvez, por ter sido o pioneiro na minha amada urologia, o precursor em quase todo o sul das Gerais na cirurgia prostática sem ser preciso abrir a barriga do paciente, eu causasse uma pontinha de inveja em alguns colegas cirurgiões que infelizmente já não mais fazem parte deste mundo cada vez mais imundo não só pelas ruas sujas e cheias de lixo. Como também em suas lidas antiéticas em suas distintas esferas profissionais.
Causa-me um certo sorriso a mostrar-me minha dentição imperfeita, sempre precisando de reparos numa cadeira de dentistas. Que até mesmo os bichos, alados, sem asas, de couro ou até mesmo com a pelagem molhada recoberta de escamas. A ciumeira que os deixa com a pulga atras das orelhas que escutam o que deviam ou o que não.
Sempre tive cães a me rodearem em tempos dantes e atuais.
Hoje, bem tratados por meu dileto amigo Tom Zé o cuidador de minha piscininha quase nunca usada nos tempos de frio. De nome Binho. Dois cães vivem creio que felizes quase sempre presos num espaçoso canil. Seus nomes são Robson, o pretinho (ele não se sente desconfortável ou denegrido em sua imagem fiel quando o chamam Negrinho, pois ele desconhece o que seja racismo). E o meu predileto da raça fila brasileiro o de pelo tigrado de olhos esverdeados como os de minha querida mãe Rute. De nome por meu amigo Clodoaldo pintor escolhido como sendo Clo.
Eles são verdadeiros amigos e um pouco enciumados quando, durantes as corridas que fazemos nós três, Clo é a minha sombra. Ele só anda ao meu lado direto. Já o desatinado Robson, metido a valente, corre e espanta minhas éguas prestes a parirem e as vacas de outro amigo velho o Betão arrendador de minhas terras fincadas lá pelas bandas de Ijaci.
Mas, no momento exato ao disparar as lentes da câmera do meu celular na intenção de fazer selfies entre mim e o Clo. Sempre mostrando a sua língua enorme. A língua do meu cãozinho tigrado em verdade sai da boca sem maldade ou intenção de falar mal de ninguém.
Naquele momento fugaz da gente se avizinha o pretinho Robson e late despudoradamente demonstrando talvez ciúme ou inveja de um de nós dois.
Mas faço que não estou nem ai para a ciumeira deles dois e volto a correr.
Creio que uma semana, se tanto, comprei um canarinho amarelinho, do tipo Belga, ou Roller, numa loja livreira na rua Santana. E levei o passarinho e sua gaiolinha pelas mãos até chegar ao meu ap.
Vitinho, nome dado ao canarinho cantor, não como Roberta Miranda ou a linda Paulinha Fernandes, passou a morar na sua gaiola na janela da minha cozinha entregue aos cuidados da minha fiel escudeira de nome Ângela mais uma moradora da bela Ijaci.
E como meu querido canarinho Vitinho cantarolava, feliz na sua vidinha entre grades.
Mas, como amantes de pássaros e outros bichos mansos ou bravos como a minha mulher Rosa. Na intenção de amenizar-lhe a solidão. Um dia destes, passando pela praça central de nossa cidade, avistei. Assentado a um banco. Um rapaz embonezado tentando passar adiante uma pseudo calopsita diferente das que que bem conhecia.
E levei aquele psitacídeo amarelinho e esverdeado para meu apartamento.
Pensando equivocadamente ser uma calopsita. Se macho ou fêmea ainda desconhecia.
Mas, segundo admoestação abalizada dada pela minha amiga Ângela aquele pequeno passarozinho deveras não era nem calopsita muito menos canarinho. Era sim um periquito australiano e não brasileiro.
Instantes depois enfiei-o juntinho na gaiola do canarinho Vitinho. Zezinho, nome por mim dado ao piriquito, ou periquito, como preferirem. Até que acabou amando seu novo companheirinho.
Mas meu canarinho belga parou a sua cantoria por dias a fio. Seria por inveja que a ele devotava a presença não grata do novo ocupante de sua morada engaiolada? Ou seria apenas uma crise de ciúmes a exemplo do que sente a minha amada esposa por mim?
Mais um ou dois dias passarinharam em meu ap. Nem o antes alegrinho Vitinho trinava e nem Zezinho periquito piava.
Tive mais uma ideia, das tantas que me assaltavam sem armas empunhadas. Ao passar por uma rua de nome Chagas Dória, sempre usando minhas pernas andarilhas como se fossem rodas. Ao parar numa simpática lojinha onde estavam expostos passarinhos de todos os tipos e bicos, acabei por comprar duas gaiolas mais confortáveis e amplas. Uma para morar sozinho meu lindo Vitinho cantor. E mais uma para servir de morada a uma calopsita de verdade e ao periquitinho que dantes, por ciúme ou inveja, inibia meu canarinho de cantar.
Engraçado acho graça e não desgraça.
Inveja, ou até mesmo ciúmes, não são inerentes apenas aos ditos seres humanos.
Animais, ditos irracionais, como não os considero. Também sentem e ressentem-se destes mesmos sentimentos vis.
Só que, nós, pessoas ditos seres humanos, tornamo-nos bestas feras graças a essas desgraças palavras citadas acima – inveja ou ciúmes. Mas, fazer o quê? Pra modis de quê?
Não sei e nem desejo que me digam a razão desses sentimentos bem peculiares tanto à raça dita superior ou menos ainda.