Seria?

As interrogações e indefinições têm sido rotinas em minha vida de muitos percalços e sobressaltos, recheada de coisas boas e ruins, a exemplo de qualquer um.

Ora faz-me sol por dentro. Ora o tempo encinzenta-se, de repente. Hoje o dia amanheceu radiante, embora a chuva se torne premente, não apenas nos campos, nas roças de milho que agora são ceifadas, enchendo com o chorume do que é acondicionado na caçamba cheia do trator, tudo aquilo é prensado num buraco enorme, transformando-se em despensa para encher o bucho das vacas, na estação de estiagem que se apresenta de bocarra aberta.

Na roça, onde tenho tentado, debalde, fazer de conta de que sou fazendeiro, fazendeiro do asfalto não vale, é onde pretendo passar os dias que me restam, naquela casa a ser construída, olhando, lá em baixo, bem perto, com seus olhos feitos de bloco, de concreto duro e de telhas, quase ultimando a construção, tomara em maio perto ela fique prontinha, tomara, não apenas penso encontrar a paz que tanto procuro, como também escrever furibundo mais livros que já editei.

Ali vai se tornar o cenário ideal para não somente deixar imortalizados os meus devaneios, como idem as minhas lucubrações filosóficas, não do mesmo quilate de Sócrates, Proust, Nietsche, ou gente da prateleira de cima, como eles foram e ainda são.  Embora não filosofe tanto prefiro preencher o cotidiano com minha prosa poética, sem muita estética, percebendo onde poucos enxergam o insigne vôo do beija-flor, a rolinha ver nascer do ninho o filhote ainda pelado, a taturana cachorrinha caminhando devagar, no asfalto quente por onde corro nos fins de semana.

Lá, na casa de dois andares, pouco mais de duzentos metros quadrados de edificação, no pavimento superior vão nascer quatro quartos, um cômodo de banho, no piso inferior, não tem elevador, pois subir e descer escadas faz bem à saúde, de quem a procura e por vezes não encontra, vamos encontrar a cozinha, ampla, um quartinho tacanho que olha a represa do Funil com olhos de preguiça, um banheiro de dupla função (atender aos mijões do andar de baixo, e quem ocupar o tal quarto, algum amigo do lugar, sendo ou não convidado, pode, da mesma forma usar o chuveiro de água fria, ela também faz bem pra saúde, ou passar uma água no rosto depois de uma noite de lua cheia, enfeitando a abóboda celeste com as luzinhas piscantes os pirilampos que vagueiam tímidos por toda parte).

Não poderia deixar de lado o cômodo amplo que faz divisas ao local descrito antes, uma garagem quarto de despejo para as tranqueiras sem serventia da cidade, onde apenas vou morar durante a semana, de segunda à bendita sexta-feira, me poupando os sábados e domingos para recarregar as baterias, antes que meu motor idoso funda. Ali, nos fundos, sem janelas, apenas um basculante velho enferrujado, eu ainda não estou, com vistas a um barranco vermelho, depois vai se tornar um pequeno jardim inclinado, quem sabe um jardim vertical, além da garage de barco vai ser um espaço reservado apenas aos meus guardados. Eu poucas vezes vou estar ali.

Pronto. A casa foi toda detalhada.  Penso não faltar nada, a não ser o nome do lugar paradisíaco, que vai ser batizado, a escolha vai ser feita entre três opões: “Recanto do Escritor, Refúgio do Sonhador, e Sonhos e Devaneios De Um Naco Importante de Mim”.  A última opção se alonga demais, por isso vai ser deletada.

Deixem minha casa de campo em paz! Quando ela acabar de ser construída volto ao assunto. Prometo.

Sobre o título eleito para a crônica de hoje, Seria, sobre o que versa o assunto?

Gostaria de tecer alguns comentários sobre a palavra FAMA, obtidos usando o professor Google.

Glória, nomeada, notabilidade, renome, reputação. Elas se equivalem.

Disse Einstein: “A fama é para os homens como os cabelos: cresce depois da morte, quando já lhe é de pouca serventia”.

Verdade. Inverso da mentira.

Ontem foi um dia assaz especial. Não no que diz respeito ao faturamento que meu lado urologista percebeu.

Quase à hora do almoço, subindo a rua principal, em direção à casa da cidade, parei num simpático e atraente logradouro, que foi denominado, à época que foi criado, de Shopping Popular (acho mais adequado Camelódromo) .

Gostaria de acrescer a minha videoteca mais alguns filmes novos, comprados na banca do amigo Demétrius. Hoje estudante de Direito, no seu debut.

Logo a frente, bem na entrada, estava escrevendo, num notebook pequeno, uma linda moça, morena, cabelos longos e cacheados, com todos os apetrechos para estampar a capa da revista Playboy.

Numa vista d’olhos rápida a inquiri se ela seria uma escritora, se por acaso apreciava uma boa leitura, conversa vai, prosa fica.

Foi então que ela levantou os dois olhinhos negros do seu computador, e respondeu que era estudante do curso de Letras, de uma faculdade local.

Quando me apresentei àquela beldade morena, dizendo ser Paulo Rodarte – www.paulorodarte.com , a mesma arregalou os olhinhos, duvidou da minha identidade, foi preciso sacar da minha carteira nova o documento elucidativo, e, enfim, acabei por demonstrar-lhe que era eu mesmo.  Em carne e músculos por dentro, vísceras, e nada mais.

Só depois das apresentações feitas, de me esclarecer que era minha fã, de carteirinha de cinema assinada, não sei se havia um fã clube por detrás, pude deixar o local, não sem antes assinar um autógrafo, com meus garranchos de médico, em uma folha de papel claro, que não sei onde ela guardou.

Uma vez na parte da tarde, depois de malhar naquele clube de tantas lembranças eternas, o LTC, passei por uma farmácia quase na raiz da velha Tipuana, a árvore símbolo da cidade.

Fui pagar o comprado no caixa logo à saída da tal drogaria.

Acabei deixando meu cartão de visita novo, recém saído da gráfica, indicando quem seria eu.

Mais uma estupenda surpresa me tomou de assalto, quando, a esperta moça do caixa, ao constatar quem era eu (o dono de mim até hoje põe em cheque quem sou eu), disse à colega do lado: “olha, é o doutor Paulo Rodarte”!

Foi quando escutei, logo depois: “ele é famoso”.

Subi a rua pisando nuvens. E elas mal se anunciavam.

Sobre ser famoso, voltando ao velho Google: notável, glória, nomeada, notabilidade, renome, reputação.

Seria?

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