No máximo da outra parte pode vir um não

E quantos nãos você já teve em resposta durante os anos que deixaram meses atrás em sua vida?

Por certo foram mais que os sins.

Inegavelmente receber um sim como resposta soa melhor aos nossos ouvidos já que uma negação incomoda em todos os sentidos.

Mas o não é necessário. Pois nem todos estão prontos a atendê-lo em seus pedidos.

Sim ou não talvez sejam estas as palavras mais ouvidas em toda e qualquer circunstância.

Vindas de uma  das partes. Ricocheteando como faz um bumerangue.

Meu pai já dizia: “quantas e quantas vezes tive de negar um empréstimo no banco quando gerenciava aquela agência e depois de me arrependi.”

“E por que meu pai?” Contradizia eu.

E ele prontamente me dava a reposta: “ a razão é somente essa. Bem sabia que aquele cliente por mim conhecido não tinha como pagar o empréstimo pois seu negócio ia por água abaixo. E eu, ao constatar essa falta de condição de restituir o dinheiro ao banco  teria de hipotecar não solidariedade a ele. E sim talvez tomar um dos seus bens a quitar o empréstimo”.

Era um não desgostoso por certo. Mas necessário.

Eu já tive incontáveis negações como resposta aos meus inúmeros pedidos. Muitos deles fora de hora e indevidos.

Hão de concordar comigo que estamos atravessando, nestes dias e meses pós pandemia, uma crise sem precedentes.

E como grande parte dos lavreanos e cidadãos oriundos de cidades vizinhas sabe que sou um médico escritor compulsivo e tenho por costume o arriscado e temerário costume de me meter num negócio pra lá de arriscado. Não falo da medicina pois pra mim a Urologia ainda me domina e como sou enamorado de minha difícil e mal compreendida arte de curar ou pelo menos tentar.

E sim minha outra face. A do lado de direito é a de médico especialista em doenças dos rins, aparelho genital masculino e outras enfermidades afins.

Já a esquerda, apesar de não me ter como esquerdista dito petista, há anos perdidos entre sonhos sonhados a de ser  apaixonado pelas palavras que formam frases longas ou curtas. E ir caminhando entre elas até vê-las unidas formando livros. Antes era um a cada ano. Agora, dado ao fato de estarmos atravessando  tempos bicudos escasseei a minha compulsão em lançar livros. Contento-me a um a cada dois anos. Mas parece que desta feita errei a contagem. Em poucos meses atrás, confesso-me péssimo em lidar com numerais. Foi publicado por uma editora gráfica local minha coletânea de crônicas Leia com meus olhos (mas pode perfeitamente ler com os seus).

E, no presente momento me consome por quase inteiro a edição de mais um atrevimento literário.

Rakel talvez tenha sido o romance mais demorado em conclui-lo.

Eu iniciei a escrita há imprecisos quatro anos atrás. Ainda morava num condomínio mais ao norte dessa linda cidade. Agora resido pertinho de aqui.

E, sempre que ouso editar publicações como estas recorro a empresas e empresários locais que me prestigiem com apoios variáveis em números em contrapartida inserindo as logomarcas de suas empresas na página final desse novo livro.

No caso de Rakel acabei por caminhar solitariamente pelas letras e palavras.

E alguns doídos nãos recebi com alguma reserva, a princípio, mas agora me acostumei a escutá-los.

Já o não recebido há dias atras ainda me machuca de certa forma por dentro e não externamente.

A minha derradeira crônica escrita no dia de ontem foi em louvor a um velho amigo.

Como o sentia desaparecido de nosso conviver. Não mais o via subindo esta rua sempre trajando vestes brancas lembrei-me de fazer-lhe uma visita em forma de letras escritas unindo palavras soltas.

E esse texto não somente enalteceu-lhe as incontáveis virtudes como penso ter-lhe servido de encômios.

E, depois dessa crônica terminada, como não foi possível encaminhá-la pelo watts up, o dele estava suspenso. Pensei cá entre meus pensamentos. Que tal ler em voz suave a ele em seus ouvidos.

Assim o fiz. Fui duas vezes a sua casa. Na primeira ele chegou em viagem. Esperei um cadiquinho para que ele abrisse o portão e nada. Na segunda, depois de fazer soar o interfone, mais uma vez tive um não como resposta.

Mas esse doeu.

De saída do clube onde pratico atividades físicas diuturnamente. Ao ver um amigo assentado a uma escada vizinha à saída, disse-lhe que iria fazer uma visita na intenção de ler essa crônica que acabara de escrever.

Mas expliquei a ele o acontecido da vez anterior.

E ele, sensatamente me disse: “vai sim. O máximo que pode acontecer é você receber um não”.

Mas  repetidamente agora reedito esse dito: “ mas esse segundo não me doeu profundamente”.

 

 

 

 

 

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