Antes de dar começo a esta história, por ser hoje sete de junho, dia em que ela faria cento e anos, à sua ausência manifesto minhas eternas e imorredouras saudades, a você, minha mãe Rute. Bem sei que onde a senhora estiver. Nas alturas da negritude do céu, já que nesta hora temprana ele se mostra escuro, por ser ainda tão cedo, mas por certo a sua pessoa, com aqueles olhos esverdeados, percebendo suas fotografias aos meus costados, nunca vai se esquecer de mim e nunca vai ser esquecida por todas as pessoas que tiveram o gaudio e a felicidade de tê-la conhecido uma vez sequer durante os oitenta e três anos de vida que a senhora conviveu nesta terra feita por Deus nosso pai e criador.
Melancias e cocos.
Frutas de díspares matizes e cores.
Melancias são geralmente verde brancas nas cascas e de um vermelho rutilante em seu interior. Delas se aproveita apenas o sumo doce de sua parte vermelha. E, depois de desaparecer o vermelho, que se transforma quase toda a polpa em água, só nos resta o verdume da casca. Que é jogado fora na lata de lixo. Entulhando até a boca de dejetos que os garis acabam por atirar fora num lixão qualquer.
Já os cocos verdes deles, gelados, numa faixa de areia de uma praia qualquer, que lugar delicioso para tomar água de coco verde. E quando o coco seca do seu âmago se pode retirar, raspando com uma colher, o coco branquinho de verdade de tanta serventia tanto para fazer doces ou usar na cozinha para quem sabe fazer cocada não há pra mim coisa melhor.
Coqueiral, uma cidadezinha simpática bem mineira, foi o berço desse protagonista dessa crônica de agora cedo.
Eu o conheço tempos antes de pisar por aqui, nessa minha Lavras querida, antes mesmo de cá fincar os pés, pois esse tido doutor, bem sei que ele gostaria de estudar medicina, aqui apeou nascido numa casa dessa linda cidade dos coqueiros, nem sei se lá os tem aos montes, mas entre tubos de ensaios. Caminhando a passos rápidos entre provetas e pipetas fazendo e refazendo exames laboratoriais. Esse nosso inseparável parceiro de nossa arte de tentar curar ou pelo menos aliviar dores. Já que sem os bioquímicos quem somos nós, médicos, especialistas ou não, para fazer com acurácia diagnósticos e aviarmos prescrições.
Sem eles erraremos sempre. Pois quem de nós, em sã consciência, saberemos distinguir, numa singela dor de barriga, se ela foi causada por uma lombriguinha qualquer ou um giardíase contaminada por água mal tratada ou a causa foi por razão de uma infecção bacteriana. Se foi gravidez ou singelamente aumento da circunferência do abdome motivada por sedentarismo e não apreciar atividades físicas.
Pois dependemos daqueles tubos de ensaios. Do seus estudos para que nosso parecer seja correto não meros palpites que via de sempre darão resultados equivocados. E logicamente nossos múltiplos pacientes irão desejar nos ver longe de seus olhos caso a eles mostrarmos nossa incompetência ou omissão.
E esse ético e correto profissional, anexo ao nosso trabalho médico, tem suma importância tanto em nossos acertos ou senões.
Esse nobre e ao mesmo tempo humílimo profissional, de uma lisura sem par, em nosso meio convive penso desde quando esse meritório hospital viu sua pedra fundamental ser enfiada nas terras santas das Lavras do Funil.
Ele tem a nobreza e a humildade dos homens de bem. Se falarem mal dele eu refuto o revés.
Se por acaso de um descaso o encomiarem junto minhas palmas as suas.
Ele reside aqui pertin de onde escrevo. Uma ou duas ruas abaixo dessa calçada descendo o morro do Mirante virando uma rua a direita e na sua morada esse grande homem de Coqueiral agora se esconde.
Não o tenho visto nos derradeiros tempos. Nem vou dizer a razão nem ao menos o motivo de tal reclusão.
Bem sei que ele se dedicou, durante muito mais da metade de seu viver a sua nobre profissão. E ele tem seus filhos a continuarem sua lida. Seu nome já foi forjado a prata e ouro numa erma qualquer que tanto pode ser na praça central de nossa cidade ou na sua Coqueiral de berço.
Espero ainda vê-lo, bioquímico José Alair Couto andando vestido, como esculápios acostumavam-se, num branco imaculadamente da cor das nuvens que no dia de hoje faltam.
Vocês, Vanderleis Pereiras, Alciones, Joões Marcos de Miranda, e tantos outros profissionais dos laboratórios de análises clínicas, são essenciais para que nós, profissionais símiles, continuemos acertando mais que equivocando.
E essa história do “mininim, daqui de pertin, qui quiria por que quiria sê dotô”, agora memo acabô de acaba.
Mas a verdadeira história do meu amigo José Alair nunca deveria terminar.