“Vovô”!

De todas as palavras uma que mais me enternece o coração talvez seja essa- vovô…

Mais linda ainda que filho, saudade, amor, maravilha ou até mesmo felicidade.

Ser chamado de vovô é algo pra mim indescritivelmente lindo.

Ser avô, não simplesmente vô. Inspira não somente carinho assim como fica intimamente ligada essa palavrinha de poucas letras a um montão de sentimentos que tem a mesma beleza tal e qual uma jabuticabeira carregada de florzinhas branquinhas antes de pretejarem ou mesmo uma árvore chamada vulgarmente de neve da montanha que começa a se encher de flores brancas quando maio mostra o começo de frio que pode se tornar o estopim de inúmeras enfermidades que podem levar idosos a cama e dela não mais saírem.

E como me lembro, de olhos saltitantes de alegria, ou umedecidos pelas lágrimas ao perceber que ambos avoariam aos céus assim que a noite chegou e a eles não permitiu ver o clarume dos dias ou o amanhecer pouco a pouco. Nestes dias já frios ainda um cadinho distante do inverno que já se anuncia.

Aquele meu vovô, não irei destoar da palavra título deste texto de hoje mais cedo que o costume. Pois a friaca que se mostrava do lado de fora do meu quarto quentinho fez com que as cobertas me suplicassem, agarradinhas a mim: “por favor, por que saltar de meu achego tão cedo se lá fora não vai encontrar quase nenhures. Pois bem sei que você é um madrugão inveterado. E a essa hora temprana você já deveria ter escrito mais de duas crônicas ou deveria estar dando mais uma lida em seu novo romance de nome já dito- Rakel”.

Mesmo assim do meu leito saltei. Num ímpeto de instantes fui ao banheiro ali pertinho, na escuridão mesmo. Tentando me esquivar do pé da cama. Tateando a negritude da madrugada, pé direito seguido pelo esquerdo, já com a luzes do banheiro acesas dei uma chuva de água fria na minha cara semi adormecida e acabei vestindo o mesmo traje de ontem dependurado no cabideiro do lado direito  de onde dormia.

Meus dois vovozinhos um era de sobre Abreu. Seu primeiro nome assinalava Alberto. Tendo um José entre os dois.

Ele acabou seus dias aqui na terra numa casinha modesta edificada por meu pai logo aos fundos de onde meus pais moraram. Era meu vovô Alberto um senhor sisudo e poucas vezes o via sorrindo mostrando a alvura de seus dentes que nem sei se ele ainda os possuía uma vez quando ainda me considerava mais um dos seus vários netos.

Já meu outro vovô, andejo como eu, andava por toda a nossa Lavras vestido num terninho azul, listrado em riscas de giz de um branco desbotado. E a calça, feita do mesmo tecido era apensa a parte de cima por um suspensório amarronzado. E por debaixo do seu paletó uma camisa branca ou de outra cor que não me recordo qual seria. Seu nome é o mesmo do pequeno prédio que da minha janela da frente se  permite ver pelos fundos e pelo lado dessa mesma  rua Misseno de  Pádua. Muitos já passaram pelo edifício Rodartino Rodarte.

Tanto meus avôs, do lado dos Abreus como dos Rodartes, deixaram seus sobres gravados num pedestal perenizado profundamente arraigados no meu cerne mais profundo que a madeira que sustenta aquela árvore resistente dita de madeira nobre como ipês e jacarandás. Um dia estas mesmas árvores, muitas delas centenárias, não mais existirão sobre a face de nossa terra cujas florestas em pouco tempo, se não abrirmos os olhos, lenhadores, empunhando tratores e moto serras. Nada mais restarão de nossos bosques e matas que tanto nos dão sombra e abrigos onde animais silvestres passaram a morar.

Há dias passados perdi não só um velho amigo como da mesma forma tinha sua casa logo defronte ao prédio onde moro nesse beco sem saída. Aqui pertinho do prédio onde tenho meu consultório.

Já o descrevi em mais de dois textos. Um antes do seu passamento e o final assim que a carruagem da morte lhe veio buscar.

Já me consultei com ele algumas vezes e me dei muito bem com suas prescrições que tanto me aliviaram a dor que sentia tanto na minha coluna vertebral assim como nas pernas motivados estas dores por excesso de atividade física.

Há dias ele se fez ausente tanto de sua casa quanto do velho hospital onde trabalhávamos.

Foi há inexatos três ou menos dias. Ao chegar ao meu prédio. Antes de abrir o portão com a minha chave.

Ouvi um chorinho sentido de alguém do lado de dentro do portão do meu amigo de farda e meu colega de especialidade díspare na medicina.

Acheguei-me ao tal portão cautelosamente na intenção de saber de onde vinha o tal chorinho.

Era uma meninazinha chorando copiosamente no colo de sua tia. Era a única netinha do meu amigo e vizinho Fabio recém falecido.

Escutei, e identifiquei uma palavra apenas que se tornaram lágrimas escorreitas pela face juvenil daquela linda menina: “vovô”!

Ali não permaneci não mais que um minuto. E chorei junto. Lembrando-me dos meus vovozinhos.

 

 

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