Dia oito de marco. Dia dedicado aquelas que fazem tudo pela gente.
Desde que a gente satisfaça as suas vontades. Não transgridamos aos seus desejos. E a elas nos submetemos. Sim, senhora. Não é não quando elas dizem não. E nos curvemos a suas grandezas. Mesmo que elas sejam pequeninas do tamainho de um botãozinho antes do desabrochar de uma flor.
Mulheres… Palavra que abre portas. Desde que não cheguemos depois da hora marcada.
Mulheres… Fêmeas no sentido exato da palavra. Mas não pensem que somente elas usam calças compridas. Já se foram as saias rodadas, espartilhos e anáguas foram pras cucuias. Sapatos altos ainda estão na moda. E não se tornaram démodé.
Mulheres… Sempre me pergunto: “o que seria da gente sem elas? Não teríamos nem nascido. Se bem que hoje inventaram o tal bebê de proveta. Filhos de chocadeira, Deus me livre de assim proceder.”
Mulheres, pra que as inventaram? A gente viveria tão bem na ausência delas… Ainda bem que não inventaram uma forma de assim conceber.
Dizem que para cada um macho fizeram três fêmeas pra nos dar ordens. Dai a nossa submissão. Ter de discutir com três mulheres é perda de tempo. Melhor é guardar palavras pra falar depois. Sim senhora. As suas ordens. O que a senhora deseja?
Mulheres, elas comandam o timão de nosso barco. Sem elas a nau naufraga. E vamos ao fundo do poço.
“Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades e muitos amores, com umas até certo tempo fiquei, pra outras apenas um pouco me dei…”
Já eu tive poucas e por uma apenas me encantei. E até hoje vivo com ela. E agora somente ela me satisfaz. E que seria de mim sem elazinha. A minha Rosinha não é flor que se cheire. Se por ventura de uma desventura me virar contra ela não sei onde vou dormir. No sofá da sala não me convém. Do lado de fora da porta não tem cama. E no tapete vou sentir falta dela. Do nosso amor que sobrevive aos tantos anos que vivemos juntos. Contando nos dedos se vão muitos janeiros.
Já a dona Tiana. Melhor dizendo Sebastiana. Dona do seu nariz empinado. Aquela dona mandona que manda e desmanda no seu marido. O cordato Tião. Ai se ele contraria ou contradiz o que ela fala.
“Tião. Vai comprar cebola na venda do Aristeu. E vai depressinha, senão…”
E o velho Tião vai correndo sem olhar pro lado. De olhinhos grudados no celular olhando as horas de voltar. Com medo da reprimenda da sua amada veinha. Dona Tiana já passou da idade da mocidade lá se vão janeiros até dezembro chegar.
Em casa é ela quem da as ordens. Não fosse elazinha não teria comida na mesa. Nem roupa lavava no varal. Dona Sebastiana é mandona por natureza. Não pela beleza que ela nunca teve. E sim pela compostura que dela emana. Pela dureza do seu olhar que emana respeito.
Quando dona T iana diz: “cala a boca meu veio. Se Tião não cala ele emudece. Curvando-se de puro respeito ele obedece. Dizendo sempre sim, minha querida mulher”.
Eles são casados desde que a lua se uniu ao sol. Ou melhor, dizendo. Desde que Adão ofereceu uma maçã podre a sua Eva. E por causa disso perderam o paraíso. Seria verdade? Não sei, pois não morava ali.
Dona Tiana não vestia saia. Usava calça comprida desde criancinha novinha. Na rua já era chefe de torcida. E ai daquele que não obedecia ao seu comando. Era escorraçado da turma e tido persona não grata.
Ela sempre botava dúvidas sobre sua femilidade. Desde o berço se achava do sexo invertido. Nunca caiu de amores por vestidinhos engomados. Sempre usava calções que lhe cobriam abaixo dos joelhos. Nas peladas naquele campinho cambeta era disputada como um Neymar dos velhos tempos. E era ela quem fazia gols em impedimento. E ai do juiz se apitava um tento ilegal. Tinha de fugir com o rabinho entre as pernas daquele cenário conturbado.
Até hoje, anos se foram, dona Tiana se recorda disso com lágrimas nos olhos claros. E seu veinho orgulhoso tem de aplaudir seus feitos gloriosos da velha infância.
Foi no sábado passado que os visitei. Era hora da janta. Já quase tarde da noite.
Encontrei os dois cochilando no rabo do fogão a lenha. Dona Tiana esquentava o almoço.
Não me ofereci para jantar. Mas com a barriga ronronando de fome aceitei.
Foram minutos de puro deleite que passei na intimidade do velho casal.
Era dona Tiana que matraqueava. Seu Tião apenas e tão somente consentia e dizia: “sim senhora”.
Num certo ponto da prosa boa já era hora de dormir. Encaminhei-me à porta de saída.
Já do lado de fora ouvi mais uma reprimenda da dona Tiana ao seu maridão cordato.
Enquanto ela vestia um pijama comprido o velho Tião apagava a lamparina.
Já na cama ela enfim deu as últimas ordens ao seu amado esposo.
“Amanhã não se esquece. Da de comer aos bezerrinhos. E não se esqueça de alimentar a porcada faminta”.
Quando o velho Tião pensou em retrucar ela disse em alto e bom tom.
“Ah! É. Pensei que você fosse o homem”…
Mulheres… Ah! O que seria da gente sem elas…