Não sei qual seria a opinião de vocês sobre o carnaval.
Pra mim já foi o tempo da folia.
Aquele Arlequim que amava Colombina acabou se apaixonando por outra mais comportada.
Aquela Máscara Negra foi substituída por uma de cor branca; depois que acabou a pandemia.
E não vou te beijar agora, pois temo ser incriminado por assédio sexual. Da mesma maneira não irei com tanta sede ao pote. A falta d’água tem importunado os cidadãos da cidade devido à seca que prepondera.
E os mil palhaços que tem pulado carnaval agora somos nós os tais. De tantas maracutaias que temos de engolir a seco. Nesse calor que tem nos importunado nesse começo de ano novo.
Pra mim o brilho do carnaval já passou. Cadê os confetes e serpentinas que davam tanto trabalho as meninas da limpeza? No dia seguinte à festança.
Pra onde foram as mocinhas pudicas? Que eram vigiadas pelos pais que não desgrudavam os olhos delas?
Carnaval pra muitos perdeu a graça. Festa pra turista gastar dinheiro. Tão em falta nessa crise que nos abocanha o salário.
Se me perguntarem o que acho do carnaval não me acanho em responder: “pra mim já era. Não mais perco tempo assistindo aos desfiles de escolas de samba. Se ligo a TV logo procuro o controle remoto. E me remeto aos bons tempos de menino. Que tal jogar vídeo game? Coisa melhor não existe.”
Outra pergunta podem me fazer: “pronde você vai no carnaval”? E eu respondo de bate pronto: “pro mato. Desde que não tenha carrapato”.
Já pra aquele menino. Muito ladino, cujo nome primeiro assina Juninho. O resto não interessa.
Na sexta feira, véspera de carnaval. Ele, muito animadinho se preparava para passar os quatro de festa na cidade grande.
Juninho morava numa rocinha no interior das Minas Gerais.
Nunquinha havia ido à Bahia. Salvador, então, só conhecia de ouvir falar.
O menino Juninho nunca botou os pezinhos no mar. Praias só de rio. Mesmo assim não sabia nadar.
Naquele fevereiro agonizante foi presenteado, por um tio torto. Que morava em Salvador. Por uma semana inteirinha de férias justamente na cidade dos seus sonhos.
Beliscava-se, a cada manhã, para saber se era sonho ou realidade bem real. E de fato foi, não um pesadelo.
Fez as malas. Tomou um busão na rodoviária. E embarcou sozinho rumo à Bahia.
Era uma viagem cansativa e longa. Levou matula para não passar fome. Na marmita encheu de frango com farofa quentinha preparada pela avozinha. E um refri de marca conhecida como Coca Cola. De sua preferência.
Foram dois dias de viagem. Juninho ia olhando a paisagem com seus olhinhos inquiridores. Não dormiu nem um cadinho. Assentado num banco da janela ia olhando lá fora.
Enfim desembarcou na rodoviária de Salvador- Bahia. Uma cidade grande que não lhe meteu medo.
Salvador já estava enfeitada para o carnaval. Avenidas feericamente iluminadas. A orla da praia isolada para o trânsito. O Farol da Barra era o ponto de reunião dos foliões. Carros alegóricos já desfilavam na avenida beira mar.
Quando se preparava para ir à praia o céu acinzentou-se. A chuva despencou. Rajadas de vento se ouviam. Raios riscavam o céu.
Foram dois dias de chuvas intensas. Juninho nem pôde tomar banho de mar.
De volta ao seu chão. No mesmo busão da vinda. Quando o menino, antes deslumbrado com o carnaval que pouco durou em Salvador-Bahia. Assim que ele apeou a ele perguntei: “e aí Juninho? Como foi de carnaval?” E nem foi preciso dizer etc. e tal.
Ele respondeu num muxoxo meio choco: “ah, nem tive o gosto. A chuva melou tudinho”.
Se querem saber a minha opinião sobre o carnaval é a mesma do menino Juninho. Pra mim melou faz um tempão.