Sabedoria pensava seria predicado dos de mais idade.
Que somente os anos vividos seriam os grandes e únicos responsáveis pela palavra tão importante e pouco vivenciada, cujo nome se grafa sabedoria.
Descobri sim, com o passarinhar dos anos, que inteligência se mede por duas letrinhas escritas em maiúsculo QI.
E que a mesma inteligência nada tem a ver com ser sábio.
Pois não era preciso recorrer ao pai dos burros, antes era chamado dicionário, e agora, com o advento da internet recorremos ao Google. Para se descobrir o duplo sentido das duas palavras um tanto em desuso em nossos malfadados dias que hoje percorremos,
Sabedoria e inteligência antes me pareciam irmãs gemelares. Como as duas partes de uma maçã ou laranja frutas que tanto amo.
Ser inteligente significa desenvolver e aprofundar conhecimentos e habilidades. Ser sábio significa entender tudo isso adequadamente com vistas à felicidade do indivíduo e de quem estiver ao seu redor.
Citam-se sete princípios do que seja sabedoria: o tempo, a experiência da vida reflexiva, dar sentido a ambiguidade, decidir com bom senso, viver a vida com pragmatismo, ser empático e por fim ter maturidade emocional.
E por mais que os anos passem não tenho conquistado todos os pilares tanto da inteligência como da sabedoria. E nem sei se terei.
Partindo do pressuposto de que somente os anos são essenciais para nos tornamos sábios, na manhã desse domingo ele me provou o revés.
Como já deixei patente. Embora seja um soldado raso e nenhuma patente até hoje percebo galões em um dos meus ombros. Não chegarei nem a cabo muito menos capitão.
Tenho três netinhos machos. E uma menininha a me puxar a barba branca. Caso a deixe. Como gostaria de tê-la nem que tenha de adotar uma netinha. Nem sei se aos avós essa conduta seria permitida. Mas seus pais dizem que pararam neles três.
Mas, se pudesse ter mais um filhinho. Que pena ter feito vasectomia tão prematuramente senão eu tentaria. E se me fosse permitido a graça de ter mais um filho por qual sexo optaria? Decerto por uma feminha lourinha de cabelos cacheados e nela faria trancinhas tal e qual Rapunzel.
Mas, tenho de me contentar com eles três. E como avô deixo-me fazer de bobo aos seus ladinhos.
Com o Gael jogo futebol. Eu como goleiro já provei ser um belo vendedor de frangos. Como artilheiro faça papel ainda pior.
Já com o Dom me sinto não uma criança como ele diz não ser um bebezinho. E ele, com aquela carinha moleca, só falta ser um escritor já que Dom adora ler histórias em quadrinhos.
Já o Theo, quem diz que ele é um anjinho com aqueles cabelos cacheados meio louros, engana-se rotundamente.
Ele, aos sete anos quase inteirando os oito, é o que mais me prega peças. Ontem, sábado, o tal menino engraçadinho, como eu fui, já se fazem não sei quantos anos, contando nos dedos: 73-7-64. Assim que cheguei a sua casa ele veio me espetando com um palito pontudo. Ainda bem que era novo. E me esquivei da espetada por uma sorte danada pois acorreu em meu socorro a prestante Jack.
E passamos os dois a pular, eu miudinho, para que o levado Theo de mansinho não me fizesse mais uma vez de tolo que em verdade sou quando em contato com eles todos.
Já hoje, nesse domino ensolarado e lindo, uma vez na casa do Theo e Dom notei o meu primeiro neto mais sossegado bom menino que sempre foi.
Uma vez assentado à poltrona assistindo ao desfecho de Roland Garros, mais uma vitória convincente do sérvio, mais uma vez o primeiro do ranking mundial.
Ouvi uma vozinha conhecida por detrás da poltrona que dizia assim: “vô, prometo ser seu amigo. Vou me comportar adequadamente ao seu lado. Que bom que o senhor vai me levar para almoçar no restaurante da Thais. Amo comida japonesa. Está mais que decidido.”
Sábia decisão. Pensei com meus pensamentos que vagueiam mais que pensam.
No minuto seguinte, antes do jogo terminar, escutei um estalo bem pertin de mim. Era o mesmo garoto estourando uma bombinha pertin de onde estava.
E nem sei quem foi o ganhador da peleja. Eu não fui.