Meu amigo Correinha e a seriema que passou apressadinha

Dizem que: todo apressado come cru e acaba queimando a boca.

No que deveras creio.

Embora seja quase impossível não ter pressa nos dias de hoje.

Já que a azáfama do cotidiano nos coloca todos em polvorosa.

Apressarmos pra quê? Aquele senhor, com que me encontrei na manhã de hoje, lá no alto do morro passando pela fazenda do já falecido Mazico. Velho conhecido. Creio que ele não é tao velho como eu. Já que colhi setenta e três primaveras e ele creio não ter colhido nenhures verão faltando-lhe alguns invernos para se aquecer de tanto frio.

Foi ele mesmo que, quando pus a venda um naco de terras perto da minha roça. Alguns três alqueires se tanto pois não foi medido.

Depois de esperar alguma proposta de compra e não apareceu nenhuma. Aquele senhor, tempos antes da data de hoje. Vinte e nove de abril. Foi ele quem tirou notas altas de cem reais para pagar-me essa importância pedida por aquela terrinha boa. Ela tinha uma casinha e pés de café irrigados por um corguinho limpinho que rodeava não apenas a casinha como um lindo pomar onde laranjeiras e limoeiros se mostravam carregadinhos de frutas por madurar.

Zé Correia, ou Correinha, nome que a ele dei no romance em que ele era um dos protagonistas ao lado do meu cão Paulo Rosa segundo. No que a ele dei muita importância por ter-se enamorado da bela Esmeralda. Mãozona apetitosa de Madest.

Esse mesmo Correinha, jamais foi vilão e sim mocinho de minha trama. Há tempos ex quase fechou os dois olhos pra sempre durante uma enfermidade que o acometeu num passado recente.

Fiz-lhe diversas visitas no CTI da Santa Casa sempre levando boas novas a sua familia.

Felizmente ele melhorou e não morreu.

Como disse, na manhã desse sábado, já quase chegando a minha roça. Ele ainda distante de seu palmo de chão fértil.

Quando nos deparamos no meio da estrada. Parei a minha Orock pertinho de seu cavalo alazão.

Estendi-lhe a mão. Uma arisca ave pernalta. Que sempre anda em duas. Marido e esposa. Sempre o macho a frente como acontece entre homens e mulheres na roça.

Já prestes a me despedir. Pois minha caminhonete obstruía a passagem. Essa mesma seriema passou zunindo e fazendo-nos cuspir poeira na estrada poeirenta.

Correinha acabou desmontando de sua montaria. E acabou parando a seriema para uma prosa de compadres.

“Oi amiga pernalta. Por que tanta pressa? Onde tu vais a esta hora? Sossega menina comedora de cobras peçonhentas e nem tanto. Sabes onde está sua companheira ou companheiro? Por um acaso de um ocaso você é o marido ou a mulher? Para um cadinho aqui com a gente. esse homem é um bom doutor. Meu amigo velho. Sei que tens pressa. Mas pelo menos seja educada e cumprimente o bom doutor”.

E a seriema, não sei se fêmea ou de outro sexo. Arregalou os olhos, deixando a malvada pressa do lado, e com gente falou: “oia! Nos meus dois olhos. Tenho pressa sim senhor. Não vês que estou atrasada para um encontro marcado com meu par? E ele, ou ela, não espera. Sabes que quem espera cansa. Tenho duas serpentes venenosas como a língua de sua sogra para jantar. Você, Correinha. E seu amigo do peito o tal doutor. Por que não me acompanham à mesa”?

Ainda bem que tive de arrancar com minha Orock. Correinha também se fez de rogado e não aceitou o amável convite. Imaginem nós dois comendo cobras com a familia da tal seriema? O que iriam falar de mim na cidade de Lavras? Acostumado que estou a jantar no restaurante do não menos amigo Mazzei, um tal de Frajola que nem sei quem é…

 

 

 

 

 

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