“Dotô. Tô de cerração nus oio.”

“Quis oio. Os de baxo o us de riba?”

Pode alguém perguntar. Se o único de baixo, anus, pra ser mais preciso. Ou ambos que moram nas faces difíceis de serem enganados por quem enxerga muito. E fáceis de ludibriar para aqueloutros com dificuldade visual. Pois nossos olhos são presas fáceis de muitas enfermidades. E elas se amontoavam na maior idade. Sendo nomeadas patologias como cataratas, glaucomas, e outras mais.

Mas elas todas podem ser curadas se diagnosticadas em tempo oportuno. E dizem que a oportunidade, ou a chance, podem não bater duas vezes na mesma porta. E o que mesmo importa é a oportunidade que faz o ladrão.

No dia de hoje, vinte e sete de abril, agora o sol mostra sua carinha enfeitada de amarelo e azul do céu. Mas amanheceu na mais lúgubre escuridão. Uma densa cerração tapava a boca do céu. Mal se viam nuvens. Ou a azulice do alto. Muito menos urubus planando nas alturas. Naquela hora temprana que deixei meus aposentos. Despedi-me da minha cama quentinha. Ao abrir a janela quase desisti de sair do apartamento. Do lado de fora era tudo as escuras. Um céu cinzento troçava de mim falando assim: “volta pra cama bobo. Pra modis de que acordar tão cedo? Não tem nenhuma consulta agendada para antes das oito. Faça companhia a sua esposa que ainda dorme. Vê se te acha madrugão”!

Mesmo assim deixei meu apetitoso leito em busca de ar puro. Não que dentro de casa estivesse respirando um ar insalubre.

Mas, tantos mas adiante, como de costume acho as madrugadas enriquecedoras para desovar de dentro do meu eu tudo aquilo que me consome. A inspiração, se não extravasada, como dejetar fezes na privada, pode me causar danos enormes.  E meu cérebro hiperativo tornar-se presa fácil de doenças como Alzheimer e outras caduquices maiores.

Dizem, acertadamente, que a seguir de densa cerração o sol racha. Com a mesma intensidade que a tábua racha quando o machado a pica em fatias miudinhas e fininhas.

Tenho um vizinho de pasto de nome Tiãozinho. Não é aquelezinho Tiãozinho do Aristeu com quem me fotografei na minha volta da roça no sábado passado.

Ele mora pertinho da pinguela que passa por riba de um ribeirãozinho onde lambarizinhos saltam saltitantes fugindo dos anzóis.

Elezinho pouco conferiu as suas roliças nádegas ao assento nos bancos escolares. Mal saiu do primeiro degrau. Ainda longe do derradeiro.

Esturdia cruzei com ele. Ele em riba da tronqueira e eu em baixo.

Fazia um frio de fazer esquimó esquiar nas areias do deserto de Sara (sara não. Saara).

A ele perguntei como estava as moda (não modinhas que as mulheres usam muito menos as de viola).

E ele me respondeu, debaixo daquela cerração nevoenta e remelenta: “que memo sabe? Si eu memo num sei? Que frio de dá calafrio na cacunda e não onde vosmecê pensa ser a bunda. Istô pra lá de Bagdá a espera do gênio da lâmpada de um tar de Aladim. Qui nun sei quem é. Ou num é”.

Sabendo ele que sou doutor. Não dos olhos e sim especialista em outro olho (ah! Vocês sabem que olho é. Não é?” Já que sou urologista).

O amigo roceiro Tiãozinho, da cumade Joaquina, acabou com nossa prosa ruim dizendo assim: “dotô. Tô cuma cerração danada nos oio de riba. O qui eu podia fazê pra miorá”?

Eu olhei pro lado de cima. O sol já brilhava. E acabei por arrematar: “olha pro alto amigo. A cerração já se dissipou. Seus olhos já se desanuviaram. Acredito. Se não, procure um colega dos olhos meu amigo. Especialista bem confiável. Deus fica contigo”.

 

 

 

 

 

 

 

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