A princípio meu corretor ortográfico não aceitou a palavra Biló.
Pois, segundo ele Biló não existia.
Mas pra quem a conheceu, e sua mãe, e bem se recorda delas naquela rua atrás da minha Costa Pereira, chamada Horácio Carvalho, casa esta cujo jardim quase sempre florido em meio a florzinhas delicadas chamadas boca de leão, pode não se lembrar de imediato. Mas, se voltarem os olhos ao passado. Soberbamentemente estudaram no Gammon, decerto, embora quase tudo seja incerto, bem se emocionam pois elas duas, tanto dona Belisa (não sei se Beliza se grafa com z ou s, elas duas nos dias de hoje lecionam no céu dos anjos e seu amado Papai do Céu) Paiva Romeiro, como sua filhota Biló. Irmã amada de sua Ana, esposa do meu querido tio Expedito agora fazendo companhia a elas. E do não menos saudoso irmão Júlio Paiva Romeiro que recentemente nos deixou.
Biló me lembra algo gostoso como pão de ló. Ou broa de fubá recheada de muito queijo como bem sabe fazer minha amada Rosa. Que em verdade se se chama Rosemirian.
Biló rima com tanta coisa boa que nem conto nos meus dedos todos quantas são.
Ainda me lembro dela na escola. Creio que não foi uma das minhas queridas mestras. Posso me enganar. Errar faz parte da gente é aceitável. Mas persistir no erro sinal de idiotice.
Sua saudosa progenitora sim. Foi minha fessora no primeiro degrau da minha escada que me levou a alçar voos mais altos como os urubus.
Ah! Querida dona Beliza. Numa das minhas últimas visitas a sua morada já a encontrei acamada. A malvada diabetes privou-a de ler meus escritos. Mas ela sorria à minha visita dizendo pra mim: “Paulinho. Que bom vê-lo aqui juntinho. Como bem me lembro de sua pessoinha quando eu ensinava você as primeiras letrinhas do alfabeto. E como era bom aluno principalmente em Português. Mas em Aritmética não fazia má figura. Biló! Vá a cozinha e traga aquela broa de milho e um cafezinho quentinho a dar ao querido Paulinho. E a amada Biló voltava toda faceira trazendo, numa bandeja, uma xícara enorme de café com leite e um naco generoso de broa de milho verde enriquecida com queijo de minas que me fazia ali demorar mais horas que o previsto. Já que visitas de médico via de quase sempre não duram mais que a florada dos ipês”.
Querida Biló, não vou incomodar a sua irmã Ana do Expedito, nesta hora tão temprana. Para a ela perguntar seu nome verdadeiro e por inteiro. Se Maria Eugênia Romeiro ou se ela porventura nasceu em que ano, dia ou hora.
Mas bem sei que nesta hora, meu relógio assinala 6:37 de uma manhã fria e nevoenta. Da janela da minha sala. Nesse lindo prédio das Clínicas, neste sétimo andar que me permite contemplar quase todo meu passado. Parte dele recheado de folguedos na rua Horácio Carvalho. Quando ela ainda era cheia de pés de café e esconderijos onde nós, moleques travessos, brincávamos de pique esconde. Escondendo traquinagens de nossos pais infelizmente falecidos. E de tantos vizinhos que cederam suas casas para que elas se metamorfoseassem em clínicas distintas.
Dona Biló. Quantas vezes nos cruzamos andando pela rua Carlota Kemper. À sombra das sibipirunas desmantelam passeios. E cumprimentava-nos saudosos dos bons e velhos anos. Vocezinha, permita-me chamá-la desse jeito galhofeiro. Chamo-a não por desrespeito. Pois tanto a considero não me permitindo, embora muitos digam que até hoje não tenha juízo. Que bom que pensem isso de mim. Faltar ao respeito com tão ilustre professora. Se não me equivoco a senhora era mestra em contar histórias. Tanto do Brasil passado de papel passado a tranqueiras de políticos que nos enojam e nos fazem vomitar.
Dona Biló. Filha amada de Dona Beliza.
No dia de hoje, vinte e sete de abril, dia cinzento, que começou nevoento, a senhora deve ter marcado encontro bem no alto. Na cinzentice do céu. Com meu querido primo Expedito. Com sua amada mãe dona Beliza (não sei se com s ou z). Com seu irmão tenor de voz trovejante Júlio. E devem, todos vocês, entoar em coro um lindo cântico. Uma ode à vida ou a morte. Já que ambas, mesmo não aparentadas, se completem.
E como gostaria de ouvi-los, aqui em baixo. Felizes e unidos ao lado de meus pais.
Dona Biló. No dia de ontem soube do seu passamento.
A senhora caminhava a passinhos lentos quando nos encontrávamos na Carlota Kemper.
Espero reencontrá-la, nalgum dia, neste mesmo lugar que deve ser tão lindo como minha rocinha encantada na zona rural de Ijaci.
Ah! Só ao final desse texto acabei encontrando o número do celular da senhora. Vou enviar esta crônica pelo zap. Quem sabe a senhora, dona Biló, a receba onde estiver e a leia em voz alta aos meus queridos pais.