“Já chorei até pegar no sono, mas também já fui dormir tão feliz ao ponto de nem conseguir fechar os olhos”.
O que em verdade conta pra que a tal felicidade inunde a nossa vida?
Lanço outra pergunta sobre o mesmo tema: “o que fazer para alcançarmos a tal coisinha chamada felicidade”? Melhor dito: “ser feliz realmente é tão importante assim”?
E qual o sentido da palavra vida? Viver nos basta? Morrer é imperativo? Até quando estarei pisando neste meu pedaço de chão que tanto me encanta. Acordando e me levantando nestas horas tão tempranas na intenção de desovar toda essa minha inspiração que me cavouca tresloucadamentemente. E não minto se digo que dentro do meu eu nasce, dia após dia, uma nova crônica, páginas a serem inseridas nesse meu novo romance de nome Rakel. O qual espero findá-lo em mais ou menos um mês. Se tanto.
Ser feliz é realmente essencial como o ar que nos entra narinas adentro? Ou podemos viver anos após anos e desenganos vendo a felicidade escorrer por entre nossos dedos fugindo da gente sem que pudéssemos encontrá-la numa curva da estrada entre tantas e tantas encruzilhadas.
E, mais uma derradeira vez a vocês indago: “pra que viver anos entre logros, desencantos amorosos, insucessos e fracassos, maledicências se o que em verdade conta é nos cruzarmos com um meninozinho sorridente, mesmo que lhe falte metade dos seus dentes. E nós a elezinho retribuímos com igual sorriso. Dizendo-lhe: “sorria pra mim. Mas não ria das minhas palhaçadas.”
Como deixei grafado, em vezes anteriores: já tive cães, não tenho intenção de me desvencilhar deles todos. Não tenho e não me toma gosto pelos felinos. Gatos e gatas de quatro patas não me apetecem tê-los tanto em minha casa ou na fazenda fincada no município de Ijaci.
E quantos cães já tive e ainda pretendo tê-los pertinho ou até mesmo distantes de mim. Foram tantos, tantos, que perdi a conta de quantos foram eles. Confesso ter preferência por cachorros machos. Embora tenham o deplorável costume de urinar ao pé da mesa da sala de comida para marcarem seu território como meu amiguinho Willie fazia na minha casa imensa no bairro Centenário.
Naquela linda morada, hoje transformada numa não menos linda escolinha pra crianças. Ali tive cães de quase todas as raças e pedigrees. Ainda me povoam a lembrança dois deles. Um dálmata tinto nas cores branca e pintas negras. Um imenso dog alemão albino de olhos azuis azuis da cor do mar caribenho.
Pena que eles todos vieram a deixar esta existência por uma intercorrência de uma enfermidade chamada Parvovirose canina. Mas tomara eles todos tenham subido aos céus dos cães e sejam felizes como eu tento ser.
Não poderia deixar de fora do canil outros cães que cito agora: Pirunguinha, um espertíssimo Border Collie morador feliz, embora solitário da companhia de outros latidores, na linda represa de Camargos. Outros da mesma raça, felizes agora moradores de outro paraíso que ainda não conheço, mas no qual acredito, que se chama céu. São eles: Paulo Rosa Primeiro. Outro cão Border Collie, o de número um da minha dinastia. Falecido prematuramente na casinha onde guardava ração de minhas vaquinhas tatus com cobra mansas. Era um lugar tosco. Povoado de ratazanas gordas. E eu, inexperiente médico, pensando que a gente pudesse aliar a nossa profissão com a de fazendeiro de fim de semana. Pois só aos sábados podíamos ir lá. Na tentativa inglória de pôr fim ao sorriso de mofa dos ratos. Pedi ao meu retireiro que pusesse veneno de matar ratos. O conhecido por “chumbinho”. E, pasmem! Quem comeu uma ratazana morta envenenada por chumbinho? Exatamente meu querido Paulo Rosa Primeiro.
Já o segundo Paulo Rosa, outro Border Collie, mais inteligente que o primeiro, foi ele mesmo o protagonista de um dos meus romances de nome Madest- A Moça Alegre do Sorriso Triste. Cujo idílico cenário é minha rocinha antes prejuizenta lá na querida cidade de Ijaci. Ele desapareceu misteriosamente na porta da Casa Amarelazul onde agora reside meu amigo Roberto e sua prole linda.
Nunca mais soube do seu paradeiro.
E o infeliz Del Rey? Que cão magnifico! Da raça ariana pura. Como preconiza o não saudoso Hitler. Canzarrão pastor alemão. Comprado ainda filhote de uma ninhada de sete irmãos.
Ele veio a morar na minha roça aos dois meses de nascido. E não carece dizer que me elegeu como não apenas seu dono mas seu maior amigo. Ele vivia solitário num canil precariamente construído vizinho a minha linda morada chamada Solar Paulo da Rosa. Tentei de tudo para não deixar esse cão amigo vivendo apenas e tão somente em sua agradável companhia. Pelo seu canil passearam, em curta permanência, outras feminhas de Border Collies. Entre elas merecem menção não honrosa Valquíria e Laika Rosa. As quais, nem sei se corresponderam as expectativas de amor do meu Del Rey, acabaram viralatando pelas ruas da cidade perto. Hoje não sei por onde andam.
E onde fica a felicidade nessa história triste? Felicidade ainda existe. Bem ali, no Solar Paulo da Rosa num pastinho beira lago. Lá, naquele recanto único, com vistas para o pedaço de chão do querido amigo falecido Tião do Cervo, pai do Palhinha e tantos outros, felizmente vivos. Pasta bucolicamente a minha égua pampa nas cores amarronzada e branca, de nome Felicidade. Ela vai, dentro em muito breve, presentear-me com mais um netinho. Se for um podrinho macho vou batizá-lo como? Ainda não sei.
Mas, de tempos idos pra cá, tentando não deixar Pirunguinha mais um solteirão empedernido, levei uma filhota da mesma raça presumível que ele. Fui soberbamente ludibriado. Depois de anunciar, pelo Face, que gostaria de adotar uma fêmea de Border Collie para se casar com o meu querido Pirunga. Acabaram me passando uma falsa Border Collie. Uma filhota nas cores branca e pretinha. Meu netinho Gael logo se afeiçoou por elazinha. Não carece dizer da felicidade do Pirunguinha ao receber a cadelinha em sua morada na represa de Camargos. Foi amor à primeira mordida. Gael a batizou de Sky. Não sei devido a que.
No entanto a tal felicidade ainda se fazia distante daqui e de acolá. Várias ligações telefônicas tive, contrariado de atender. “Olha, a Sky não é exatamente Border Collie. Elazinha não apenas vira latas como tem o péssimo costume de morder crianças e comer galinhas. Leve-a daqui antes que a afoguemos na represa ou a soltemos pelas ruas de Itutinga. Enquanto é tempo!”
E meu filho Stenio, pai amoroso do querido Gael, na tarde ontem levou a cadelinha Sky para outro recanto. Não menos encantador onde ela morava.
Agora, pelas câmeras instaladas no meu Solar, vejo-a pelas suas lentes claras.
Vejo a Sky ainda sonolenta esfregando os olhinhos sonhando com seu amorzinho de nome Pirunguinha. Que, em outro local seu coraçãozinho late infeliz com saudades dela.
Agora, neste dia cinzento, vinte e seis de abril, pensando na tal palavra felicidade. Sabedor que este sentimento não é perene como a força do vento que assopra folhas mortas espalhadas pelo chão. E ser feliz não é exatamente sempre. Já que a tal felicidade é fugaz como flores do ipê que se despetalam da árvore mãe e caem ao solo ainda vivas e perfumadas.
Antevendo a cadelinha Sky solta na varanda da minha casa beira lago. Não mais noutro beira lago. Que ela encontre a tão sonhada e pouco idealizada felicidade. A qual tanto busco e não encontro…