Pecar. Verbo transitivo direto e intransitivo. Cometer pecado, transgredir lei religiosa recebendo ou não a devida punição. Cometer qualquer falta, seja pequena aos olhos do mundo, ou grande como o oceano que nos banham as costas. Atentar contra os bons costumes. Tendo como sinonímias- infringir, atropelar, deludir, descumprir, desobedecer, ofender e outros mais.
Quem ainda não atentou contra os bons costumes se ainda está vivo ainda não experimentou o sabor amaro ou doce da vida. Pois eu mesmo. Uma vez menino, nascido naquela Boa Esperança de antão. Na esperança de não crescer. Pena que meninos crescem deixando de serem meninos. Deixando a inocência no bercinho enfeitado de balangandãs, mimados pela mãezinha e a avozinha, acabam espichando. Cometendo pecadilhos mais graves. E, por uma falha de criação acabam cometendo atrocidades como estas que temos acompanhado pela mídia como os atentados à escolas várias. Chacinando criancinhas inocentes em creches, escolas, inspirados pelos joguinhos inseridos nos aplicativos de tablets ou celulares. Deixados nas mãos de jovenzinhos antes inocentes para que eles se aquietassem e dessem aos pais momentos de tranquilidade que eles tanto precisam nestes tempos em que a inquietude predomina.
É pecado? Eu transgredi os bons costumes? Ou simplesmente fui deixado de castigo numa cadeira dura de costas para a mesa de jantar, faminto, sem ao menos poder brincar de jogar amarelinha, ou finca, ou bete, folguedos estes fora de moda. Já que perderam a vez para os joguinhos ditos antes inseridos em celulares ou cousas afins.
Eu pequei contra a castidade? Ou perdi a vontade ou desejo sexual uma vez que a idade montou nos meus costados e não mais dou conta de amar ou ser amado?
Por um acaso do descaso euzinho cometi uma infração de trânsito? Por furar o sinal vermelho pensando ser o verde por ter descoberto, tardiamente, que sou daltônico. Não sabendo identicar o verde de outras cores?
Eu já pequei por ter comedido o adultério ao olhar, com olhos recheados de gula para uma picanha gorda, pensando ser essa carne tão apreciada pelos amantes de um bom churrasco. Acessível aos menos endinheirados depois de o presidente Lula eleito e ter prometido, com seu vozeirão grosso e falante, a picanha a baixo custo. Pena que ele ainda não cumpriu sua promessa. E a tal picanha ainda custa mais caro que cada voto depositado na urna em favor dele mesmo.
Eu porventura pequei simplesmente por ter olhado a boazuda mostrar o traseiro na academia muito bem frequentada no belo e bem cuidado clube onde frequento ao cair das tardes quase mortas? E confesso que meus olhos apenas passarinharam sem nenhures desejo de ali passar a mão e sim singelamente meus olhares de pura gula. Pensando, equivocadamente, se tratar não de uma picanha e sim carne humana. Vivinha e não morta. Pena que aquela carne de primeira tinha dono. E não era eu.
Eu por acaso pequei? Antes, bem antes de os tempos de agora, menino ainda não pensando em namorar. Pois meus pais me aconselhavam deixar pra depois os namoridos. Já que estudar era preciso e mais premente. E euzinho, meninozinho até que bonitinho, agora vejam a feiura em que me desgracei a minha desgraça pelada na minha carequice quase luzidia. Em companhia dos meus saudosos pais ia à missa das dez ávido por ela terminar e o bom padre dizer: “vão em paz o Senhor os acompanhe.”
E eu, apressado como um sapo assustadiço a escapar da serpente que ameaçava suas vidinha curta. Saltando e coaxando. Não eu e sim o sapão.
Corria, com minhas perninhas ligeirinhas em direção ao jardim. A ver, no rela dele mesmo, aquela garotinha faceira, a qual um dia a mim me lançou um olhar brejeiro (não entendam brejo cheio de taboas). E eu, sempre eu, tentando fazer do cupido alguém que estreitasse o nosso desejo por ficarmos. Naqueles verdes anos ficar ainda não era dito e sim namorar, noivar, pra depois pedir a moça pudica em casamento. E por vezes, sempre por, o pai da mocinha prendada, como a minha Rosa é, só a nós permitia ir ao cinema na matinê. Mesmo assim acompanhado de uma penca de velas não acesas. Como primas ou sua mãe brava como a onça pintada tal e qual a Juma do Pantanal. Eu, porventura de uma desventura, por acaso transgredi a lei de Deus? Se sim me castiguem. E não me proíbam de pecar de novo.
É pecado? Pecadinho ou pecadão? Passar a mão na tinta fresca recém tintada na parede da sala de visitas na linda casa, recém construída as custas de muito suor derramado pelos recém casados. Recém saídos da lua de mel que se transformou em fel.
Muitas vezes pequei. Transgredi as leis escritas no livro santo.
Espero, nestes anos, meses, dias que me restam, antes que eu rasteje como serpentes, não cometa tantos pecados.
Como da mesma maneira espero que não me joguem aos ombros culpa maior que não tenho.
Meus ombros ainda são fortes. Mas, por quanto tempo mais… Não sei.