Morre uma lenda

Não sabia que lendas morriam.

Sabia sim que pessoas especiais não morrem. Como deixou escrito Guimarães Rosa elas não morrem. Ficam encantadas encantando a todos aqueles que a conheceram. Graças as boas lembranças que seus legados espalharam pela face da terra.

Já que todos fomos terra (pó) e a ela (terra), voltaremos. Mais cedo ou no mais tardar. Pois, quando um grande escritor falece costuma-se dizer ou deixar escrito: um verdadeiro grande escritor pode até seu corpo exalar um último suspiro. No entanto dos entretantos sualma e suas obras são imortais. Perenizadas nos cérebros dos leitores desde que essa pessoa seja amante não das lindas mulheres e sim de livros tantos. Pena que grandes obras literárias não sejam tão apreciadas como fakes postados em redes sociais.

Ao que meu coração palpita em descompasso com os palpites ouvidos em prosas entre grupos de amigos que preferem discutir sobre futebol ao revés de discutirem sobre o último capítulo do meu romance que hoje cedo chegou a mais de duzentas páginas. Aquele meu livro de número vinte e um, de nome Rakel. O qual pretendo lançá-lo dentro em breve. Isso se a inspiração que brota dentro de mim não secar como a mina d’água que mostrou seu fundo seco depois da estiagem do derradeiro inverno.

Lendas não deveriam morrer. Como meu pé de laranja lima acabou de falecer devido a queimada que se fez ver num lote vazio.

Lendas como muitos desportistas. Verdadeiros e veneráveis competidores. Vencedores em disputas mundo afora. Como poderia citar a grande tenista Maria Ester Bueno. Muitas vezes vencedora em torneis de tênis planeta afora e mundo adentro. O nosso grande pugilista Eder Jofre. Que recebeu pancadas e revidou com outras. Muhammad All-Haj, nascido Cassius Marcellus Clay Jr. Ainda penso estar vivo. Estes deixaram como legado disciplina, amor a sua arte, ética e decência, uma pitadinha de irreverência ao saírem vencedores em suas pugnas, e saudades das suas virtudes. Oxalá nossos filhos ou netos recebem como herança um cadinho do que eles deixaram como legado às gerações futuras.

Hoje, bem cedo, a lua ainda estava lá no alto a mostrar sua face sorrindo, depois de uma noite de amor junto ao sol de sua vida, vi, por uma rede social, depois comprovei por um portal, que uma lenda do esporte havia encantado a abóboda celeste, tornando-se mais uma estrela a perfilar entre suas companheiras piscantes como pirilampos enfeitando as noites escuras das roças ou fazendas.

Foi então que constatei que lendas também morrem. Como grandes literatos deixam morrer seus corpos físicos. Conquanto suas obras permanecem perenes como riachos que escorrem montanhas abaixo depois de chuvas torrenciais.

Ele, esta lenda não apenas do esporte assim como da vida que levou. Terminando no dia de ontem seu périplo por este planeta. Era meu velho conhecido. Gostaria de tê-lo entre meus amigos. Mas seria muita pretensão minha chamá-lo assim.

Nascido no permeio de uma família de atletas renomeados. Não somente aqui em nossa amada Lavras. Bem como seu nome, a seu tempo, foi coroado com uma coroa de louros num pódio qualquer.

Antes, não faz tanto tempo assim, nos bons dias quando ia às carreiras à Ribeirão Vermelho, esporeando minhas pernas andarilhas pela estrada do Madeira, cujo nome dado a ela intitula-se Zito Abreu, meu saudoso tio, e retornava ao meu pouso final. Quando morava numa bela casa avarandada no condomínio Jardim das Palmeiras. Prestes a fincar o solado de um dos meus tênis no portão do condomínio. Eu o via estacionando a sua caminhoneta prestes a adentrar no seu sítio. E ele me dizia, todo sorriso: “Paulo, antes pensava ser eu o atleta. Agora é você que se tornou”.

E eu ria da sua frase nada inspirada.

E, ainda me lembro daquela lenda, ainda bem viva, caminhando pachorrentamenta pelas ruas de nossa cidade. vestindo uma camiseta branca e um par de tênis de não sei qual marca seria.

Ele sempre me cumprimentava irradiando gentileza e eu retribuía com mais gentilezas. Já que uma atrai a segunda. E gentilezas jamais atraiçoam aquele que as distribui graciosamente.

Já o vi saltando com varas. E ele, essa lenda que no dia de ontem nos deixou, ultrapassava o sarrafo em alguns centímetros apenas.

Infelizmente não assisti aquela lenda falecida em disputadas partidas de basquete. Mas bem sei que ele ensinou bola ao cesto a vários campeões.

Ontem o professor Mauricio de Souza foi intimado a lecionar um cadinho de suas inegáveis artes no céu.

Ele, quem sabe, agora faz uma cesta ou pula com sua vara mais um obstáculo. Seja onde estiver.

Receba, meu caríssimo atleta, professor, fidalgo Mauricinho de Souza. Um afetuoso enlace de seu. Ah! como apreciaria chamá-lo amigo.

Melhor dizendo-lhe um até breve.

No dia de ontem subiu pro alto mais uma lenda. Comparável a um Cassius Clay, Maria Ester Bueno ou Eder Jofre.

Adeus é muito forte. Melhor reverenciá-lo com um até breve- amigo.

 

 

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