Ainda assim, escrevo

Bem o disse Mia Couto- o grande escritor moçambicano.

“Nenhuma palavra alcança o mundo. Eu sei. Ainda assim escrevo”.

Foi ontem que li, no Face, esse dito que agora repito.

Não tenho a intenção de plagiá-lo. Simplesmentemente tomo por empréstimo essa inspirada frase de sua autoria. Pois não creio que ele repetiu meu feito emprestando-a de outro inspirado autor.

Podem, quem por ventura de uma boa aventurança tenha passado os olhos nesta crônica de agora cedo. Suspirar profundamente nas profundezas abissais de nossa maravilhosa língua portuguesa com certeza vai estranhar a palavra deixada acima  “Simplesmentemente”.

E eu não me equivoco por grafá-la desse modo. O grande escrevinhador  cordisburgueano, João Guimarães Rosa, tinha seus neologismos Roseanos. E por que não eu não teria o direito de criar meus próprios no bom estilho Rodarteano?

Ah! Que bom se a gente morasse num país feito de homens cercados de livros…

Em cada esquina uma montanha deles nos fosse oferecida graciosamente. Em cada casa uma biblioteca mesmo que fosse pequenininha. Em cada ponto de ônibus circular. Na casinha onde se espera a lotação passar. Mesmo que ela atrasasse horas perdidas em minutos ou séculos. Ali mesmo tivéssemos a felicidade de encontrar livros  ao nosso dispor e que pudessem ser  levados pra casa. Sendo a posteriori devolvidos imaculadamente do jeitinho que elezinhos foram deixados ou ainda mais perfeitinhos.

Por vezes a mim me indago: “por que motivo ou razão persistir nessa minha sandice de lançar livros impressos quase um a cada ano. Mesmo vendo meus filhos( entendam livros), perfilados e amontoados na estante por trás de mim. A espera de improváveis compradores. Já que como é bom escrever compêndios. Encadernações que não dizem respeito a nossa profissão. Pois considero facinho médicos, engenheiros, advogados letrados, terminarem obras escritas que ensinam o baba de nossas trilhas profissionais. Mas, deixar escrito livros de pura literatura, seja em que nuance for, exige de quem escreve não apenas talento e imaginação”.

Já tenho na minha estante, sobrepostos na prateleira pertinho de onde assento, na minha oficina de trabalho, quase vinte e um livros editados. Não irei declinar-lhes os títulos para não cansá-los. O derradeiro se trata de uma coletânea de crônicas de nome Leia com meus olhos. O último romance a sair do prelo é intitulado Por quem os sinos não dobram.

Todos eles nasceram numa maternidade por mim nomeada assim pois em verdade essa casa onde nascem livros recebe o nome de editora ou gráfica com G maiúsculo.

Mesmo tendo publicado tamanha coleção de livros não me arrependo de assim tê-lo feito.

Eles, um a um, são pra mim, que me considero pai de todos meus exemplares. Amo a todos indistintamentemente. Mais um neologismo Rodarteano. Repeti mentemente intencionalmente. Não foi logro prontamente corrigido pelo corretor ortográfico do meu sabidão word.

E sempre a mim mesmo questiono: “pra que escrever tanto se poucos têm a felicidade de passarinhar seus olhos em tantas letras perfiladas? Por que razão editar livros um a cada ano? Por que tanta sandice em retratar nosso cotidiano tão rico num país tão pobretão em cultura como nossa terra brasilis? Pra que gastar rios de notas de cem reais na publicação de um novo romance cujo título já foi escolhido como sendo Rakel? Por que motivo me levantar tão cedo para chegar aqui e deixar escrevinhadas tantas crônicas frutos da tresloucada imaginação que dentro de mim ferve como um comprimido de Sonrisal deixado em um copo d’água fria. Pra que”?

De novo me reporto ao título desse texto de agora cedo: “ainda assim, escrevo”.

 

 

 

 

 

 

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