Agora já passou a madrugada. A escuridão da noite cedeu lugar a quase o clarume do dia.
Ao deixar o apartamento as luzes da cidade frenéticas piscavam. Não se via vivalma pelas ruas semi desertas.
Eu acordei mais cedo que o costumeiro. Como de hábito tenho pela noite um certo medo.
Medo de quê? Podem me perguntar….
De não acordar. De ter perdido, durante a noite, horas, minutos preciosos de olhos fechados e meu irrequieto cérebro pensante vendo por dentro o caminhar sem parança dos meus neurônios.
Como disse dantes tenho certo medo da noite. Por que motivo me indagariam. Principalmente aqueles dorminhocos de sono pesado.
Depois de certa idade. Lá se vai a mocidade levando pelas mãos a doce infância. Quantos dias, meses, anos, a gente, a quem chamam velhos, a essa palavra prefiro tiozão gostosão ou mesmo irmão mais velho. Quando ultrapassamos, não em velocidade, a fase crítica de sermos chamados idosos, desprovidos de vaidade que nos tornamos. As noites não sabemos se de novo vamos ver a luz do dia. Ou o sol brilhar como agora cedo percebo pelas frestas das persianas entreabertas.
Agora pra mim já se torna tarde. Muitos ainda dormem. E, se sonham façam bom uso de seus sonhos. Permitam-se sonhar pois sonhar é de graça.
Agora, podem muitos afirmar que já se faz tarde. Como se tardes fossem feitas e já não nascessem assim.
Tarde pra quê? Mais uma vez lhes pergunto.
Pra morrer? Pra renascer na pele de pêssego de um jovenzinho ainda imberbe preocupado com as espinhas que aparecem sem avisar motivadas pelos hormônios que crescem a cada nascer do sol ou deitar-se da lua.
Agora seria tarde pra quê? Pra adoecermos e sermos jogados ao leito de algum hospital a espera de um médico que nos acarinhe. E, afagando-nos a testa ancha nos diga pra nos aquietarmos, pois, aquela injeção não vai doer e que a dor é inevitável, mas o sofrer é opcional.
Agora talvez fosse tarde demais para expiarmos as nossas culpas já que elas foram jogadas aos nossos ombros frágeis e talvez não merceássemos tamanha desdita.
Agorinha mesmo. Vendo o sol abelhudo e intrometido apontar a cara luminosa pela nossa janela envidraçada pedindo permissão para entrar e não permitimos. Seria tarde demasiado para impedir tamanho atrevimento?
Não digo sim nem não. Já que não nos é permitido ditar as regras de que o mesmo sol brilhe ou a lua continue a sofrer por ter desejado fazer amor com o sol e ele se recusar por ter preferido amar uma estrelinha que pensa ser uma estrela maior dentre todas que passeiam pela via láctea e não caem.
Agora, nesta hora pra mim penso que o retireiro ou o padeiro madrugão já terminaram sua lida matinal. E tanto o leite quentinho, saído das tetas das vaquinhas baldeiras. Como o pão nosso de cada manhã já esfriou. Pois o café com pão já foi substituído, no meu caso, por duas bananas inteirinhas, misturadas ao leite e uma pitada generosa de Malthodextrina. Combustível energético que me faz ter tanto pique para escrever tanto e correr mais ainda quando as tardes se deixam fatiar a sua metade quando vou a mesma academia no mesmo lugar de sempre.
Seria em verdade tarde ou cedo para tentar voltar ao passado? Já que ele se mostra a minha mão esquerda olhando pela janela agora de persianas cerradas para impedirem a entrada inoportuna dos raios solares que tanto me ferem a sensibilidade que me cavouca o cerne.
Já que tanto citei a frase título desta minha crônica de hoje “agora é tarde”.
Concluo.
Nunca é tarde demais para recomeçarmos. Basta que a gente tente. Retente e não desistirmos.
Para isso mister se faz insistirmos. E não nos curvamos às derrotas que por acaso vierem a obstaculizar nosso caminho.
E, se me perguntarem se agora é tarde direi um retumbante não. Nunca se faz tarde para sermos felizes…